O indiano Stanley Pereira guarda a foto com carinho. O registro da única vez em que Zico entrou em campo com a camisa do Vasco, na despedida de Roberto Dinamite, em 1993. Ele só não esperava que um dia o ídolo do Flamengo aparecesse na Índia e passasse a trabalhar tão pertinho, quase em seu quintal. O ex-jogador foi contratado para dirigir o Goa, da Indian Super League (ISL). E normalmente dá seus treinos no mesmo estádio onde joga o Vasco da Índia, clube onde o fã trabalha, no setor financeiro.
A explicação histórica se faz necessária. Goa é o menor estado do país e foi colonizado pelos portugueses, que só foram embora em 1961, 14 anos após a Índia conquistar sua independência da Grã-Bretanha. Por isso, a toda hora se esbarra com lembranças lusitanas na região. Seja nos nomes das cidades, como Vasco da Gama, de estabelecimentos comerciais e até dos próprios habitantes. E entre tantas heranças há também o Vasco Sports Club.
O clube foi fundado em 1951 por militares portugueses e tem grande inspiração no Vasco brasileiro, incluindo as camisas idênticas. Assim como o xará famoso, o Vasco indiano hoje disputa a primeira divisão estadual e a segunda divisão do campeonato nacional. Mas as semelhanças se encerram aí. Porque esse Vasco, tal como o próprio futebol do país, é praticamente amador.
Stanley Pereira, o fã de Zico que carrega a foto dele no celular, trabalha no Vasco. E espera que a formação da ISL, que criou oito times e os recheou de nomes internacionais, possa alavancar o futebol na Índia.
- Para mim, é incrível ver o Zico com a camisa do Vasco. Brinco dizendo que ele já jogou no meu time. Mas, falando sério, é muito importante para nós que ídolos como ele estejam por aqui. Temos a esperança de que Zico possa ajudar muito o futebol indiano, quem sabe repetir na Índia um pouco do trabalho que ele fez no Japão - conta Stanley.
O Vasco indiano viveu seus melhores momentos nas décadas de 60 e 70, mas há quase dez anos não frequenta a elite nacional. O clube que já se orgulhou de importar jogadores estrangeiros, especialmente brasileiros e portugueses, hoje conta com um elenco modesto mesmo para os padrões locais, apenas com indianos. A sede é pequena, ocupa uma sala comercial de dois andares e exibe alguns troféus e fotos de times antigos.
Zico se diverte com as referências portuguesas em Goa, como, por exemplo, na mensagem estampada no ônibus do time dele que diz "Força Goa".
- Sou filho de português, né? Então, estou em casa. O pessoal acima de 65 anos daqui ainda fala o português com aquele sotaque de Portugal. Eu gosto.
A presença do ídolo brasileiro na Índia atrai a atenção de muita gente. Sanjay Rayamajhi, de 46 anos, nasceu no Nepal e foi contratado para fazer a segurança do Goa. Está orgulhoso de poder ver Zico de perto.
- Lá no Nepal, o Zico é muito famoso. As crianças, claro, não o conhecem porque não o viram jogar. Mas os adultos, sim. Contei aos meus amigos que viria para a Índia trabalhar no time dele e todos se empolgaram. "Tire uma foto com ele, pegue um autógrafo", me pediram. E eu respondo "ok, vamos ver o que eu consigo fazer" - brinca.
Fonte: GloboEsporte.com