Os Aviões Vascaínos
"No Vasco, basta plantar a semente"
Fonte: Livro do Centenário
A Segunda Guerra Mundial foi o tempo dos temíveis U-Boats alemães, que semeavam o terror na costa brasileira, afundando nossos navios mercantes e derramando o sangue de inocentes. A revolta se espalhava pelo país e os vascaínos, esses grandes realizadores, se juntaram ao clamor popular. A diretoria passou a receber doações para o esforço de guerra: velhos remadores ofereciam suas medalhas, o objeto mais sagrado de um campeão, para serem vendidas e angariar fundos. Até um telescópio foi doado em nome do Vasco para a Marinha.
Então o maior dos presidentes vascaínos, Ciro Aranha, começou a coordenar esse projeto de civismo vascaíno. Seu objetivo? Doar nada menos que um avião a FAB. Estava formada a Comissão Pró-Avião Vasco da Gama, formada por alguns dos mais valorosos vascaínos. Na sua primeira reunião, o seu tesoureiro, Arthur da Fonseca Soares, propõe que se compre imediatamente o avião. Por imediatamente leia-se: que todos saíssem naquele momento e encomendassem o aparelho. O presidente da comissão, e depois presidente do Vasco, Manuel Ferreira de Castro Filho, chegou a argumentar que a campanha nem havia sido iniciada, ao que foi respondido por Arthur: "No Vasco, basta plantar a semente". E foram eles fazer história.
Chegando na importadora, foi pedido ao seu gerente, outro grande vascaíno chamado Silvano Santos Cardoso, que mostrasse os modelos que tinha. Este começou com o melhor de todos, "mas é muito caro" disse Silvano e já se preparava para virar a página do mostruário quando foi interrompido pela comissão: "queremos dois!". A comissão confiava que os vascaínos iriam aderir em massa aquele projeto.
Agora era só realizar a campanha, e assim foi feito. Fixaram-se três faixas de contribuições, cada uma delas daria direito a um distintivo para os doadores, que uma semana depois já se multiplicavam. São Januário se encheu daqueles vascaínos orgulhosos com seu distintivo na lapela. Em vinte dias a campanha foi encerrada, seu objetivo havia sido alcançado e ainda sobrou dinheiro, Se pensou em devolver o excedente para os contribuintes, afinal muitos deles eram humildes, mas essa idéia foi recusada por todos aqueles que aderiram à campanha. O saldo foi então aplicado e esse valor ajudou a construir a Sede Náutica da Lagoa, alguns anos depois.
Era noite de São Januário, o nosso templo sagrado, lugar de memória. Era mais um jogo que ali acontecia, porém no seu intervalo se deu a apresentação dos aviões vascaínos. Doados por aquela gente que já havia feito tantas coisas incríveis e agora fazia mais uma. O Ministro da Aeronáutica em pessoa recebeu os aviões, devidamente pintados com a cruz de malta na "nacelle". Que dia memorável para os vascaínos.
Lembrando do acontecimento, o professor Castro Filho, um mágico com as palavras, produziu um dos mais belos textos referentes ao clube, que é aqui reproduzido na integra.
"Eu me sentia desligado daquela praça verde, palco de lutas desportivas gigantescas. O meu pensamento vagueava por outras paragens: o campo de lutas sangrentas e irreparáveis em que, naquela hora, por certo, preliavam, como heróis, muitos de nossos atletas, tanto dos moços que ali receberam as primeiras lições de coragem e civismo. O meu olhar turvado de lágrimas, estava preso aos graciosos movimentos do Pavilhão Nacional do grande mastro. Parecia-me ver nesse ondular verde e ouro o aceno protetor e amigo do reconhecimento; eu via a Bandeira do Brasil a acenar para todos, como se lhes dissesse comovido:
- Obrigado, Vasco, muito obrigado vascaínos; Deus vos conserve esse grande, esse imenso coração!"
Fonte: Sempre Vasco