Joel Santana saiu determinado minutos antes do fim do primeiro tempo. Ele pegou o carro na saída da escada da sala da presidência e foi direto para o vestiário. No placar, 1 a 0 para o Bragantino. O treinador ia tentar levar a voz da experiência para os jogadores e para o assistente Marcelo Salles, após os primeiros dramáticos 45 minutos que a dupla passou na noite de sexta-feira em São Januário. O fim da história reservou ainda uma surpresa: depois de colocar as duas mãos na cabeça e deixar a sala da presidência cabisbaixo, o técnico não viu os dois gols no dramático empate contra os paulistas.
Se foi um jogo diferente para o experiente treinador de 65 anos, para o pupilo Marcelo Salles não foi nada fácil. Ele sofreu na pele as cobranças dos torcedores nas cadeiras sociais, que pediam substituições até quando já tinham sido feitas as três possíveis alterações. Mas a marcação dos torcedores foi implacável. Não interessava para eles que as ordens eram superiores, vinham lá de cima. O gol sofrido no início da partida fez acentuar a pressão da própria torcida que não aparecia há algum tempo dentro do caldeirão vascaíno.
Próximo do vidro que separa as sociais do campo, torcedores xingaram Marcelo e criticaram o jovem treinador, auxiliar de Joel Santana em São Januário.
- Pelo amor de Deus, vai improvisar para quê? Coloca o Carlos César, p.... Para de inventar. Vocês não enxergam não? São muito burros! - gritou um torcedor, seguido por outro que pedia a saída de Douglas.
Lesionado, o camisa 10 acabou saindo de campo ainda no primeiro tempo. A alteração foi conduzida de maneira inusitada em comunicação que envolveu tecnologia e um certo jeitinho para improvisar. Pelo telefone, o outro auxiliar da comissão técnica, o ex-zagueiro, Jorge Luiz pediu ao preparador físico Ronaldo Torres para que ele mandasse para o aquecimento Montoya e Maxi Rodríguez.
Enquanto os dois aqueciam, Joel, agarrado à prancheta e concentradíssimo, seguia olhando fixo para o campo, até que Ronaldo e dois jogadores no banco fizeram sinal para saber quem ia entrar. Quando Joel apontou Montoya, quem estava olhando para o gramado, então, era o preparador físico. A janela da presidência, que estava fechada, foi aberta e um bom e velho assobio chamou a atenção para a mudança de Montoya por Douglas.
Mal começou o segundo tempo, e a pressão mudou de lateral. Quando Marlon deixou um adversário pegar a bola que ele acreditava que sairia pela linha de fundo, Marcelo Salles brigou feio com o jogador, que passou a ser vaiado insistentemente pela torcida.
Enquanto isso, os torcedores não davam sossego para o auxiliar. Alguns não sabiam o nome de Marcelo e gritaram "Bota o Maxi, meu filho!" E Joel decidiu colocar o uruguaio. O técnico ligou para o banco, mas ninguém atendia, o que provocou uma cena curiosa. Nas sociais, os torcedores cessaram os xingamentos a Marcelo e gritavam.
- Atende o telefone aí, Papai quer falar! - pediam, desesperados, os torcedores do Vasco.
Marcelo atendeu, Maxi entrou, e, aos trancos e barrancos, o Vasco conseguiu empatar no fim da partida, para alívio de Marcelo, que soltou um sorriso caminhando e sendo cumprimentado pelos jogadores na saída de campo.
- Ouvi algumas coisas, sim, em determinados momentos da partida, mas não dá para ouvir muito, porque presto muita atenção no jogo. Agora, a pressão é grande, mas estamos preparados para isso. Nosso trabalho segue e não podemos pensar em nó, mas no grupo. O Vasco tem muito trabalho ainda a ser feito - disse o auxiliar.
Fonte: GloboEsporte.com