Um dos dirigentes mais valorizados da nova geração do futebol brasileiro, Rodrigo Caetano vive um momento chave na carreira. Depois de um rebaixamento com o Fluminense em 2013 – que foi revertido no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), graças aos erros de escalação de Portuguesa e Flamengo –, ele voltou ao Vasco, onde se equilibra em meio ao tiroteio político de São Januário e a uma campanha irregular na Série B para conduzir a caravela de volta à elite do Brasileirão - uma trajetória com mais dificuldades do que 99% das pessoas imaginavam no início do ano.
Em 2009, com nomes até menos badalados do que tem agora e um orçamento mais modesto, o Vasco foi campeão com facilidade da Série B, numa caminhada que projetou Caetano no cenário nacional. Cinco anos depois, o diretor montou um elenco com nomes mais conhecidos, como Douglas, Guiñazu, Rodrigo, Fabrício e Martin Silva. Mas o Vasco oscila na Segundona. Após 26 rodadas, ainda não conseguiu assumir a liderança da competição. Na primeira passagem, a ponta foi alcançada (e não mais perdida) no fim do primeiro turno. Mas Caetano mantém a calma e lembra: ele fez o possível – e mais um pouco – para formar o melhor grupo com as condições atuais em São Januário.
– O que me traz confiança e tranquilidade é saber que fizemos o melhor que podíamos. Até um pouco além do que podíamos em relação à montagem do elenco, à qualidade dos jogadores. Estaria preocupado se tivesse a convicção de que poderia ter buscado um jogador aqui, outro ali, e não o fiz. Mas não medimos esforços para qualificar o grupo. Agora é aguardar – disse o dirigente ao GloboEsporte.com.
Segundo Caetano, nos momentos mais tensos da Série B, como na invasão ao clube em protesto de torcida organizada, alguns jogadores só não saíram porque estão comprometidos em levar o Vasco de volta à Primeira Divisão. Sem citar nomes, diz que o assédio a alguns deles é constante.
Nesta entrevista de quase uma hora realizada na última quinta-feira, no CFZ, onde a equipe tem treinado, Rodrigo garantiu ainda que não falta "fome de ganhar" ao elenco, mas admitiu que o grupo pode ter demorado a entender o estilo de competição da Série B – lembrando que o erro de arbitragem na final do Campeonato Carioca desestabilizou o Vasco no início da competição nacional. O dirigente também reafirmou que não foi contra a contratação do técnico Joel Santana e revelou que ainda espera ver em 2014 o ex-jogador Felipe como membro da comissão técnica vascaína.
Confira a íntegra da entrevista do diretor de futebol do Vasco, Rodrigo Caetano, abaixo.
Que avaliação você faz das dificuldades que o Vasco passa na Série B? Não era o esperado por vocês, ainda mais com um elenco bem mais valorizados que os demais?
Essa Série B está bastante nivelada. O Vasco talvez não tenha tido um desempenho acima do que a gente esperava, mas em contrapartida os outros clubes que não esperávamos estão tendo. Temos seis concorrentes para quatro vagas, não descartando os demais, mas é um bloco de seis. O Vasco montou equipe não só para a Série B, visávamos também vencer o Carioca. Infelizmente não foi possível pelo que vocês sabem (erros de arbitragem). Temos jogadores de trajetória vencedora e de muita qualidade, e a competição está bastante nivelada. Ter um início com seis jogos de punição (perda de mando de campo por conta dos incidentes na partida contra o Atlético-PR no fim de 2013) fez diferença, carregamos um número de lesões considerável após o estadual. Certamente por tudo o que planejamos, esperávamos estar em melhor situação na atual rodada (é o quarto colocado, com 47 pontos, dois a menos que a líder Ponte Preta – o time enfrenta o Bragantino na próxima sexta-feira, em São Januário). Mas o objetivo é subir sendo campeão, e estamos na briga.
Muita gente compara 2009 com agora, mas há uma diferença significativa porque, há cinco anos, o grupo era de jovens querendo aparecer no futebol. Hoje há muitos acima dos 30, com carreiras vitoriosas, mas talvez sem a mesma fome. Identifica isso?
Não, não, acho que são grupos distintos. Naquela época, começamos praticamente do zero, houve um número muito maior de contratações, de erros e acertos. Acontece ao ter de montar elenco do zero, mas desta vez não. Muitos já estavam no clube, e a intenção era qualificar. Posso afirmar: o nível de comprometimento é elevadíssimo. O nível de dificuldade que o clube atravessa talvez seja o mesmo de 2009, ponto até que eu queria falar um pouco. Esses jogadores aceitaram vir para o Vasco sabendo das dificuldades, só nós sabemos o que enfrentamos. Temos uma sequência de jogos muito desgastante, não você vê nenhum jogador reclamar, não vê nenhum jogador publicamente falar de situação financeira, até porque não permitimos, quem fala somos nós (dirigentes). Eles acreditam e confiam que o clube está se movimentando para resolver. Lamentavelmente, o torcedor tem o sentimento de dois rebaixamentos em cinco anos e fica desconfiado, mas precisamos que ele dê apoio. Qualquer justificativa, crítica ou avaliação terá o seu momento certo. Faltam dois meses para o fim do campeonato. Que façam cobranças logo a seguir, mas abracem o time. São 13 jogos que vão nos levar de volta à Série A.
Até que ponto a arbitragem tem interferido para que a campanha do Vasco tenha sido mais instável do que se esperava até agora?
Interferiu no ano como um todo. Psicologicamente, querendo ou não, esse grupo que está aqui sofreu um golpe duro com a final do Campeonato Carioca. Logo a seguir veio a Série B. Natural quando você projete título, tenha a chance de vencer e acabe sendo prejudicado. Por mais experiente que seja, o jogador sofre com esses erros, e tivemos alguns tantos. Não carregam mais essa questão da final hoje, mas o início foi instável. Em três jogos, fizemos quatro pontos. Somado a esse fato, houve a punição. Tivemos uma sequência de erros contra o Vasco, não de interpretação, mas da regra, bola que não entra e é dado o gol, nossa bola que entrou e não valeu, mas acho que é geral. Lamentavelmente é geral. Como estou no Vasco hoje, tenho de fazer a leitura daqui.
São vários clubes reclamando de arbitragem, o nível parece não estar agradando a ninguém. Como melhorar? O uso de vídeo melhora?
Profissionalizando. Você se preparar para o seu trabalho de que forma? Com antecedência. Como você vai admitir, o futebol envolve milhões, técnicos, jogadores, técnicos, dirigentes, imprensa... Para cada evento nós nos preparamos. E o árbitro? Apenas no dia anterior. Como vamos exigir que ele se dedique a semana inteira ao futebol se não recebe um salário para isso? Está mais do que na hora de isso mudar. Acredito que a CBF tem receita suficiente para suportar o investimento no quadro de árbitros. Se eles forem profissionais, serão punidos ou exaltados como nós em erros e acertos.
A montagem do elenco é diferente de outros grandes clubes que passaram pela Série B e dominaram a competição, como Corinthians, o próprio Vasco em 2009... Você diz que não enxerga falta de fome, mas não é um elenco que você olha e diz que é um grupo de Série B, que come a grama. Acredita que os jogadores podem ter demorado um pouco a entender a Série B?
É possível. Quando montamos um elenco, procuramos fazer o melhor que podemos. Temos vários jogadores que vieram por parceria com grandes clubes. Não fosse isso, não estariam aqui. Montamos a equipe para o ano inteiro, pensando no estadual e na Copa do Brasil também. Nessa última, sim, tropeçamos. Poderíamos ter ido mais longe. Na Série B ainda estamos na luta. Não poderíamos abdicar de trazer jogadores de bom nível por se tratar de uma competição com características distintas. Caso contrário, não traríamos um goleiro que iria disputar a Copa do Mundo. Como vou me furtar disso? Se existia a possibilidade de trazer um atleta de nível, por quatro anos, para resolver um problema do clube... Como não vou contratar? Os jogadores precisam se adaptar o mais rapidamente possível à competição. Até porque todas as equipes fazem um jogo de Copa do Mundo contra o Vasco. Outro ingrediente prejudicial é a logística das viagens. Não temos tempo para treinar. Ai alguns sentem mais do que os outros pela sequência de jogos, o desgaste. A CBF não trata disso em seu regulamento, mas muitos clubes estão utilizando a força do Vasco para ganhar dinheiro. Nos levam para arenas distantes por causa da nossa torcida. Os jogadores não estavam acostumados a esse ritmo de viagens. Mas não adianta lamentar. Temos 13 jogos para subir o Vasco e vamos superar isso.
O Vasco contratou o Martín Silva e decidiu manter um dos três goleiros muito criticados no ano passado, o Diogo Silva. Muita gente esperava que fosse a vez do Jordi ser mais usado, até nas ausências do Martín na seleção. Não houve um erro de avaliação em manter o Diogo mesmo com a perseguição e as críticas da torcida?
Conheço os três goleiros que estavam aqui no ano passado. E tenho outro pensamento. Estava fora do clube, mas acho que muitas vezes o próprio rodízio passava insegurança aos goleiros. Os três tinham bom nível e jogariam em qualquer outro clube. Conseguimos trazer o Martín, e agora existe a crítica porque ele vai muito para a seleção do Uruguai. Diogo Silva ficou porque foi adquirido pelo clube. Temos que saber a medida exata das críticas. O torcedor tem o direito de ir ao jogo, criticar, apoiar, vaiar... Eu apenas peço, e sempre peço, que ele apoie. Os jogadores que aqui estão atenderam um pedido. São todos remunerados, mas muito deles, se soubessem os problemas que enfrentaríamos, hoje não estariam aqui. Que o torcedor, neste momento de reta final, apoie os atletas que estão no Vasco. E depois, sim, que eles façam suas críticas no momento certo. Todos querem honrar a camisa do Vasco. Inclusive o Diogo, um goleiro de bom nível, um bom garoto que o clube comprou. Dos três, um tinha que ficar. E foi ele o escolhido.
Falando um pouco de política, houve aquele momento em que o Dinamite perdeu na votação do Conselho Deliberativo e não teria prorrogado seu mandato. O que passou pela sua cabeça? Pensou em sair? Houve uma conversa com o Dinamite ou com a Junta sobre o que seria feito?
Minha única manifestação naquele momento foi por um desconhecimento de como as coisas iriam acontecer. Eu nunca tinha trabalhado num sistema assim. Mas os membros da Junta conversaram comigo e me passaram tranquilidade. Em momento algum pensei em sair. Não me envolvo em política. É nesses momentos, quando clube atravessa um processo político, que defendo a importância dos profissionais. Nesse momento o clube precisa seguir em frente, e estou aqui para isso. Faltam dois meses para o campeonato terminar. O que fizemos foi separar um pouco os atletas do futebol desse processo eleitoral. Tenho certeza de que todos os candidatos querem o melhor para o clube, e esse melhor é voltar para a Série A. Peço que essas pessoas, que muitas vezes acabam dando importância demasiada a isso e aumentam o ambiente político, foquem no Vasco e em seus resultados. Que direcionem seus esforços para o campo. Assim vai ser mais fácil para qualquer um que assuma o clube após a eleição.
Estamos no último trimestre, já dá para dizer o que pensa para o futuro, para 2015?
Não tenho plano algum. Não falo por causa do futuro presidente, mas não posso ter um plano diferente do que pensar no dia 29 de novembro (data da última rodada da Série B). Tudo o que planejamos, como alguns jogadores com contrato mais longo, vai ser tratado durante a transição para a nova gestão. Agora não há nada mais importante do que o Vasco ser um dos quatro primeiros colocados. Tomara Deus que possamos conquistar o título. Falo por mim e falo para os jogadores também. Vamos deixar para pensar na parte individual depois. É o nosso momento de sacrifício, porque temos uma missão.
Chamou a atenção que você disse que "se os jogadores soubessem antes os problemas que enfrentariam, talvez nem viesse para o Vasco hoje". Algo além do financeiro? Essa questão política? A que problemas se refere?
Vou te dizer uma situação que é dura para qualquer atleta. Claro que temos dificuldades financeiras, e sempre deixei isso claro. Muitas vezes o jogador gosta de ser reconhecido no seu esforço, mas esse reconhecimento nem sempre é financeiro. Falo isso porque eles sabiam que estavam vindo para um clube que sabidamente teria dificuldades de dinheiro, da própria Série B, de ter o compromisso e a obrigação de voltar... Foram problemas de cobranças que já tivemos, alguns protestos em treino. Não posso chamar de torcedores, mas coisas com as quais eu não concordo, porque estamos em local de trabalho. Dia de protestar é no dia do jogo, em São Januário, não concordo com o que acontece, com a facilidade que acontece em São Januário (para esses protestos). Os atletas estão dando a vida pelo Vasco. Respeito e sou grato, posso falar por mim, a tudo que eles fizeram até agora. Eles foram e estão sendo extremamente profissionais. Qualquer clube da Série A queria contar com boa parte deles. Boa parte teve propostas para sair e ficou no Vasco porque sabem que tem uma missão. São fatores como esse que, se eles soubessem lá atrás, talvez não tivessem aceitado.
Há clubes olhando para a Série B para buscar reforços, o Palmeiras por exemplo. Está acontecendo? Está difícil de segurar? Vê chance de saída?
Entre outros, né? Não vejo chance de saídas, mas é um trabalho diário. Como eu disse, não temos o time dos sonhos do torcedor vascaíno, mas certamente temos um bom elenco. Seguidamente recebo ligações dos mais diversos clubes pedindo atletas emprestados. Quantos outros não ligam direto para o atleta, para o empresário? Por isso volto a insistir: que o torcedor vá a campo nesses sete jogos que nos restam no Rio, que apoie, valorize o time que temos. Depois podem protestar se acharem necessário. O time que conseguimos montar foi esse.
Você, que é gaúcho, enxerga um problema crescente de racismo no Sul? Porque para muita gente parece que ficou a imagem de que a torcida do Grêmio inteira é racista por conta desse caso envolvendo o goleiro Aranha, e não é assim...
Racismo todos nós repudiamos. Não é esse exemplo de educação que nosso país tem de passar para o mundo. Vou falar no caso do Vasco: infelizmente fomos rebaixados no último jogo do ano passado. Não satisfeitos com a punição de jogar a Série B, ainda iniciamos sem mando de campo. Aquela briga não foi fomentada pelo Vasco. Até acho que fomos vítima. Só tivemos prejuízo. Familiares de atletas correndo risco, estádio que não era do Vasco... Isso precisa ser revisto. Da mesma forma que, em muita das vezes que acaba acontecendo um episódio de violência, se identifica qualquer um e o fato é minimizado. Tem que punir de forma enérgica. Se não tudo segue como agora, e o clube é que paga. É preciso rever a legislação desportiva. De forma alguma considero a torcida do Grêmio racista. Sempre teve a questão do Gre-Nal, até lúdica, de alguns cantos sem atos racistas. O Brasil inteiro viu, e quem fez tem de ser punido. Que esses cinco paguem pelo o que fizeram. Vão servir de exemplo.
O Adilson indicou algumas contratações, como por exemplo do André Rocha, do Diego Renan, Marlon, entre outros. Sabendo da instabilidade no cargo de treinador no Brasil, o Vasco não apostou em muitos nomes sugeridos apenas pelo treinador?
Todas as nossas contratações foram em conjunto. É natural que nos reunimos, levantamos vários nomes... Claro que tem aqueles que são a preferência do treinador, às vezes até do preparador físico. Mas quem contrata é o clube. Seria fácil demais jogar na conta do treinador aqueles que por ventura não deram resultado. Mas jamais faria isso. Acredito que nossa margem de erro era elevada para as condições que enfrentávamos, das condições que tínhamos. Incrível como são as coisas, mas sempre vamos citar os nomes dos menos conhecidos. Mas quando você traz jogadores reconhecidos também existe a crítica. Estou complementando para você ver, como respondi no início: não falta fome, muito pelo contrário. O nível de comprometimento é elevadíssimo. E você tem que tentar sempre contratar o melhor possível, em consenso com a comissão técnica, que sempre vai ter um peso, principalmente na indicação, não na tomada de decisão. O técnico pode indicar determinado jogador e ser inviável financeiramente. Mas não vejo dessa forma. Todos os que vieram foram com a nossa concordância.
A saída do Adilson Batista foi o segundo baque do ano para você, depois do estadual?
É bom esclarecer algo. Muito se diz que eu era contra o Joel. Pelo contrário. Nunca tinha trabalhado com ele e só recebia as melhores informações. É uma figura ímpar, além de ser um conhecer do futebol, é cara extremamente amável, que todos gostam. Fui contrário ou estive contrário, sim, à mudança de técnico. Cada vez que se chega ao limite ou o técnico pede para sair, você tem uma parcela de responsabilidade nisso. Poderia vir qualquer outro técnico, mas não me senti confortável com a mudança técnica, foi isso. Acreditava que o trabalho do Adilson era muito bom, como o do Joel já deu muitas mostras de que também é. Cada um com seu perfil, com seu método.
Qual a diferença entre o Adilson e o Joel nos bastidores?
Temos passado muito tempo juntos, viajando. Joel conhece o Vasco, as pessoas que trabalham aqui, e rapidamente todo mundo se entrosou ao estilo dele. É muito positivo, paizão, tem experiência no futebol. O Adilson também tinha seus méritos, mas cabe também a mim, com a minha função, adaptar-me ao perfil de cada um dos treinadores e das comissões técnicas. Tenho quase 12 anos de profissão. Já tive de dar notícias boas e ruins a técnicos. E com todos, sem exceção, mantenho boa relação até hoje. Sobre o Joel, ele é uma grande figura, mesmo nas brincadeiras dele sempre tem um grande ensinamento, até pela experiência. Uma figura boa, e quem chegou com ele também é grande profissional. O fato de ter permanecido com alguns membros da comissão técnica permitiu esse entrosamento rápido. Acho que, para o nosso momento, foi uma tomada de decisão correta (a permanência de outros profissionais).
Por falar nisso, na manutenção dos nomes que vieram com o Adilson, o Fabio Maraston e o Gustavo Nicoline, o clube ainda tem o Jorge Luiz, mais os nomes que vieram com o Joel, além de outros profissionais do clube. São quase 10 ao todo na comissão. Não é muita gente para um clube que passa por tantos problemas financeiros?
Não, porque, na verdade, o preparador físico era o Daniel Gonçalves, que já tinha exercido outros cargos no clube. Ele é da comissão técnica permanente. E é questão de filosofia. Por exemplo, quisemos permanecer com o Gustavo, que é analista de desempenho, algo que o clube não tinha, e permanecemos temporariamente com o Fabinho, um dos auxiliares. Justamente porque temos uma sequência grande de viagens. Passamos recentemente cinco, seis dias fora do Rio. Temos também o treino para não relacionados. Houve época em que a comissão técnica era apenas a do Adilson, houve dias que o auxiliar do preparador de goleiros teve de dar o treino. Ou seja, não era o ideal. Com a chegada do Joel, tivemos de preencher mais a comissão. Hoje não temos um grande número de jogadores no departamento médico. Precisamos de profissionais para dar o treino. Como esse desenho vai ficar no futuro? Depois do fim da Série B se rediscute isso.
Pelo que conversamos e nos informamos no clube, a situação financeira é bem complicada, a saída para essa crise está complicada. Qual a garantia você tem hoje de que até o fim do ano a grana vai sair e chegar para jogadores e funcionários?
Também não é a minha área. Temos o presidente cuidando disso, o Cristiano (Koehler), o Jayme (vice de finanças) e os demais profissionais do setor... O que nos passam é que estão se movimentando diuturnamente para viabilizar recursos para o clube, em termos de renovação patrocínio e outras coisas. Acredito neles e transmito aos jogadores, atualizo as informações. Semanalmente enfrentamos dificuldade. Quando preciso, vem alguém do departamento financeiro também (conversar, passar informações), mas acredito que vamos conseguir levar enfrentando dificuldades, que os compromissos serão honrados com todos os remunerados.
Está mais difícil essa Série B até pessoalmente, levando em conta a campanha do ano passado no Fluminense, mais outros fatores esse ano, como ter um presidente que é candidato a deputado (Dinamite), um vice de futebol (Ercolino) que não aparece tanto como o José Hamilton Mandarino?
Ercolino (de Luca, vice-presidente de futebol) exerce bem o seu papel, está sempre conosco. Vim sabendo das dificuldades que teríamos. Talvez não imaginasse que seriam tantas. Mas tenho certeza de que vamos cumprir o nosso papel. O que me deixa desconfortável e triste até hoje foi a perda do estadual da forma que ela aconteceu. Tivemos alguns empates bobos na Série B, mas isso acontece. Ainda estamos vivos na competição.
Em 2013 você corria o risco de gerenciar o primeiro campeão brasileiro a ser rebaixado no ano seguinte. Agora te preocupa o fato de poder ser, depois do Fluminense, o primeiro grande clube a não voltar para a Série A no ano seguinte ao do rebaixamento (em 1997, o Tricolor caiu para a Série B e, no ano seguinte, acabou rebaixado à Série C)?
Temos que respeitar os nossos adversários sempre. O que me traz confiança e tranquilidade é saber que fizemos o melhor que podíamos. Até um pouco além do que podíamos em relação à montagem do elenco, qualidade dos jogadores... Estaria preocupado se tivesse a convicção de que poderia ter buscado um jogador aqui, outro ali, e não o fiz. Mas não medimos esforços para qualificar o grupo. Agora é aguardar. Olhando para 2013, dos males o menor: o Fluminense escapou do rebaixamento. Quando acabou o primeiro tempo da última rodada, o time perdia por 1 a 0 para o Bahia. Era aquela história: caiu. Ia virar como? Estava jogando mal demais. Os outros resultados não estava ajudando. Estavam todos cabisbaixos no vestiário. Mas eu falei que se virássemos e ganhássemos o jogo, íamos escapar porque os outros jogos estavam nos favorecendo. Estavam nada! Mas no fim deu certo. Aquela vitória por 2 a 1 salvou o Fluminense. Pelo menos o clube esta ai, seguindo a vida dele, na Série A. Muitos caracterizam como virada de mesa, exatamente a única coisa que aquele episódio não foi. Este ano, o Joinville denunciou o América-MG. Em 2009, o próprio Vasco pagou pelo caso Jefferson. Eu não tenho um rebaixamento no meu currículo. Da mesma fora que não quero ter a permanência de um grande na Série B.
Qual a chance de permanência de alguns dos jovens contratados, como o Crispim, o próprio Maxi Rodriguez?
O Crispim é uma possibilidade. Temos uma opção de compra (em valor) razoável. Já o Maxi, não. É muito difícil. Os números praticados por outros clubes são muito diferentes do Vasco. O Grêmio não quis nem conversar, fizeram um investimento muito grande no jogador. É totalmente diferente da nossa situação. O que viabiliza a situação do Crispim é que o Vasco também está emprestando a sua camisa para o jogador aparecer. Temos a situação do Douglas Silva, que pode ficar. Quando ele veio para cá, rescindiu com o Red Bull. No fim do ano ele fica livre. Se o Vasco quiser, é só negociar a permanência.
Talvez com uma possibilidade de troca com Fellipe Bastos, que está bem no Grêmio, mas no Vasco não rendia...
Quem avalia que o jogador não rendeu? É natural que a torcida esteja machucada, pelos rebaixamentos, mas são críticas em excesso. É preciso abraçar o time em algum momento. Não falo apenas do Bastos. Convivi com algumas situações parecidas em 2009. O Alex Teixeira foi vaiado por 18 mil pessoas em São Januário. Naquele dia enfrentei problemas pessoais para pedir que parassem de vaiar ele. Quanto esse jogador vale hoje? O Alan Kardec foi disputado por quantos clubes? E o Philippe Coutinho? Estou falando desses formados no Vasco para que os atuais sejam valorizados. O Lorran já foi vaiado, ele é um menino, tem 18 anos. É um jogador identificado com o clube, assim como Thalles, Luan, Jordi... Pratas da casa que amam o Vasco. Que amanhã ou depois não fiquem lembrando do Lorran quando ele já estiver longe do Brasil. Aqui o Bastos era vaiado no aquecimento! Por isso volto a pedir para que deixem de lado as questões políticas, tanto torcedor como sócio, peço que deixem de lado as preferências por esse ou aquele jogador neste momento. Que o torcedor vá ao estádio para apoiar o elenco. São eles que vão levar o Vasco novamente para a Série A. Qualquer um de nós não rende sem confiança, o resultado não é bom. O torcedor não pode pensar que o jogador é diferente deles. Jogador é ser humano. Ninguém gosta de ser vaiado, de ser xingado.
Existia a possibilidade de o Felipe voltar como auxiliar técnico? Segue viva a questão? Ainda em 2014 ou só para o ano que vem?
Ele ainda não veio, mas é um projeto que segue em andamento. Defendo que temos de ter bons profissionais. Quando mais identificados com o clube, melhor. Se tiver uma trajetória vencedora, melhor ainda. Espero ter o Felipe em breve. É o desejo dele, também o do clube. Foi uma ideia nossa e vamos voltar a falar nisso. Pode ser em 2014 ainda. A correria está grande. Desde que tudo aconteceu (problemas, saída de Adilson), a única coisa que não tenho visto é a minha família.
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Fonte: GloboEsporte.com