Candidato do PT a governador, Lindberg Farias arregaçou as mangas para esta eleição no dia seguinte ao resultado de 2010, que lhe deu a vitória ao Senado. Convenceu o partido a apoiar seu nome, conquistou o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fincou pé contra as tentativas do PT nacional de fazê-lo desistir da disputa para beneficiar a candidatura de Luiz Fernando Pezão (PMDB), que demorou a decolar. Agora, a 14 dias do primeiro turno, está em quarto lugar. Em entrevista ao EXTRA, disse acreditar na virada. Quer tirar Anthony Garotinho (PR) do segundo turno. “A política do Rio não pode virar a política do Vasco. Garotinho é a cara de Eurico Miranda. Pezão tem cara de Roberto Dinamite”, atacou.
O senhor está em quarto lugar nas pesquisas. Como vai tentar reverter o jogo?
Na pesquisa, quando se pergunta “Quem é o seu candidato?”, o cara não sabe. Quase 50% não sabem. Quero crescer aí. Devemos lembrar queos dois candidatos estão aí há muito tempo. O Garotinho e a Rosinha tiveram oito anos no governo. O Pezão, antes de ser vice do (Sérgio) Cabral, começou como braço direito do Garotinho. Foi secretário da Rosinha, está há oito anos no governo do Cabral. O Rio tem uma juventude questionadora, uma classe trabalhadora que sabe decidir, uma intelectualidade progressista. Sou Dilma, mas essa disputa da Dilma (Rousseff, candidata a presidente pelo PT) com a Marina (Silva, candidata a presidente pelo PSB) é uma disputa desse Brasil que está evoluindo. É uma disputa de altíssimo nível. Duas mulheres com histórias fantásticas. Eu vou tirar o Garotinho do segundo turno aqui no Rio.
Por que escolheu o Anthony Garotinho como seu principal adversário?
O Pezão se aproveitou de uma primeira onda de voto útil. Quero afastar o Garotinho do segundo turno, com debate de ideias. O primeiro turno é para votar no que você acha o melhor para o estado. A política do Rio de Janeiro não pode virar a política do Vasco. Garotinho é a cara do Eurico Miranda. E o Pezão tem cara de Roberto Dinamite. É fraco e também pode ser manipulado.
O Pezão teve uma estratégia de esconder o Cabral?
Bem-sucedida. Parecia que era um homem novo, quando está nesse grupo aí há muito tempo. O Cabral está escondidinho. O Pezão seria um governador fraco, muito manipulado por Cabral, Eduardo Cunha (deputado federal pelo PMDB) e Jorge Piccianni (presidente regional do PMDB). Sabe por que não melhora a Saúde? São contratos que foram inchando, uma mistura de Assembleia Legislativa, empresários e governo, de política, corrupção e desvio.
O senhor faz discurso de oposição ao PMDB, mas o PT integra a prefeitura de Eduardo Paes.
Se a gente tivesse rompido lá atrás, com o estado e a prefeitura, como eu queria, teria facilitado mais o nosso discurso.
O senhor foi abandonado pela presidente Dilma?
Não. Entendo a Dilma. Está na luta para ser eleita presidente. Tem que ir atrás. Do mesmo jeito que eu quero ser governador, ela quer ser presidente.
O senhor fala na necessidade de fazer “freio de arrumação’’ nas UPPs. Como seria isso?
O Alemão está sob intenso ataque, a Rocinha também. Num momento desses, qual é a posição do Pezão? Ampliar o projeto das UPPs, sem o planejamento necessário. Primeiro, tinha que ter consolidado o projeto. Está colocando um projeto que é muito importante em risco. Consolidar é reforçar com polícia onde precisa, mas precisa criar ali um território de oportunidades, com escola de horário integral, ensino técnico profissionalizante e mais conversa com a comunidade. Resgatar a ideia de polícia comunitária, de que se falava muito e foi abandonada.
O senhor apresentou a proposta de emenda complementar que propôs a reforma da polícia. O que faria no Rio?
Proponho uma polícia que respeite o trabalhador, o jovem negro que mora na favela. Há uma parte da comunidade que se levanta contra uma abordagem truculenta. Parece uma polícia acostumada a combater o inimigo e não a proteger o cidadão. Isso ocorre principalmente contra jovens negros.
Como reduzir homicídios?
A Polícia Civil foi deixada de lado nesse governo. Houve uma crise na Secretaria de Segurança, e deixaram a Polícia Civil de lado. Ela é que investiga. Quero transformar a Polícia Civil numa espécie de Polícia Federal, focada no combate ao tráfico e às milícias. Os PMs que se formarem vão para os batalhões da Baixada, Zona Norte, Zona Oeste, São Gonçalo e Niterói, que foram muito prejudicados pela migração da violência dos locais onde foram instaladas as UPPs.
O senhor foi prefeito de Nova Iguaçu, mas o Hospital da Posse continuou com graves problemas. Por que o eleitor acreditaria que o senhor conseguiria melhorar a saúde do Rio?
Fui reeleito com 65% dos votos em Nova Iguaçu. Se não tivesse feito um bom trabalho lá, não teria sido reeleito. Fiz uma revolução na educação, melhorei a saúde, mas não como eu queria. Por quê? Por exemplo, quando eu cheguei a Nova Iguaçu, posto de saúde funcionava duas vezes por semana. Passou a funcionar todo dia. Duplicamos o Saúde da Família. Diminuímos em 27% a mortalidade infantil. No Hospital da Posse, a gente fez reforma da emergência, do CTI, do centro cirúrgico. Criamos um atendimento humanizado, mas o Hospital da Posse atende a toda a Baixada. Vive superlotado. Aí eu te pergunto. A saúde em Nova Iguaçu está bem? E em Belford Roxo? São Gonçalo? Rio? Não. A saúde não está bem. O Rio é o estado que menos investe em saúde. Vou reunir todos os secretários de saúde por regiões, e discutiremos juntos a política de cada região.
O senhor foi inocentado em dez inquéritos do Supremo, mas ainda é investigado em dez. Isso assusta o eleitor?
Fui prefeito. Qualquer denúncia que chegue ao Ministério Público gera um inquérito, que o MP é obrigado a abrir. O PMDB fez muitas denúncias contra mim. Como estou no Senado, vai tudo para o Supremo Tribunal, foro que investiga senadores. Até hoje, tudo foi arquivado. O Garotinho tem processo, teve direito de defesa e foi condenado junto com o chefe da Polícia Civil, Álvaro Lins. O Pezão teve processo, teve direito de defesa e foi condenado por superfaturamento de ambulâncias. E responde a três outros processos. Nunca fui condenado.
O senhor fala em transformar os trens da SuperVia em metrô de superfície. Como seria isso?
É reforma de estação, isolamento de linhas para ter velocidade, investimento em segurança e conforto. Muda a Zona Norte do Rio, a Zona Oeste e a Baixada. É muito mais barato. Porque o que é caro em metrô é quando você tem que furar pedra. Tatuzão lá embaixo. Empreiteira gosta. Mas aqui está tudo aberto, e são 200 quilômetros de linha. Infelizmente, o governo do estado perdeu porque renovou a concessão por mais 25 anos. Eu quero auditar essa renovação da concessão. Fomos capturados pelos interesses das empresas. Você não podia ter a mulher do Cabral como advogada da SuperVia, advogada do Metrô Rio. Pode não ser ilegal, mas está sob suspeição.
Que adversário chamaria para tomar um chope?
O Tarcísio (Motta, candidato do PSOL). Adoro o Crivella (candidato do PRB), mas como vou chamar o Crivella para tomar chope (risos)?
Fonte: Extra Online