Não foi por acaso que Hércules Brito Ruas consagrou-se como um dos maiores xerifões da história do futebol brasileiro. Forte como um touro, cara de pouquíssimos amigos e dono de marcação implacável, ele comandou com muita raça as defesas de Vasco, Flamengo, Botafogo, Cruzeiro, Corinthians e Inter, em mais de 20 anos de carreira.
O auge foi na Seleção, com a conquista do tricampeonato mundial, em 1970, quando foi eleito o jogador de melhor preparo físico do planeta.Hoje com 76 anos, o ex-zagueiro curte a aposentadoria e permanece fiel a velhos hábitos. Continua morando na Ilha do Governador, onde nasceu, e pescando na Baía de Guanabara ou na Barra de Maricá, onde construiu seu refúgio. Isso quando vovô Brito não está brincando com os netos, Igor, Alan, Alice, Eduardo e Lucas, que fazem o antigo xerifão se derreter.
“Uma das melhores coisas do mundo é ser avô. É uma alegria. São muito ativos, levados e me adoram”, diz, orgulhoso, entre uma mordida e outra em apetitoso pedaço de queijo com goiabada, bem à vontade, no quintal de casa.
Com a família, Brito compartilha outra paixão antiga. “Acordo às 5 da manhã e vou pescar. Fico o dia inteiro, quando estou em Maricá. Já na Ilha, saio embarcado com meus amigos Demazinho e Lilinho. Antes de chegar em casa, limpo o peixe. Minha mulher é forte na cozinha, mas, no preparo do peixe, é minha aluna”, brinca. A pesca foi a terapia que Brito encontrou para acalmar o temperamento muito explosivo, que quase lhe custou o fim da carreira.
Em 1971, em clássico entre Botafogo e Vasco, o zagueiro vascaíno deu um soco no árbitro José Aldo Pereira, após a marcação de um pênalti contra o Botafogo. Pela agressão, levou um ano de suspensão.
“O pênalti foi uma vergonha. Olhei para ele, que me deu uma risada de deboche. Não aguentei e dei um gancho que pegou na barriga dele. Aí, gritei. ‘Isso é para você tomar vergonha na cara’”, relembra o ex-zagueiro, que teve a pena abreviada pela Justiça para seis meses.Mais sereno com o passar dos anos, hoje é Brito quem acalma os amigos mais explosivos.
“Quando os caras estão nervosos, lembro o ditado: ‘Tá nervoso, vai pescar’. Eu mesmo quando pesco penso na vida, reflito. Tenho muito medo de morrer. Deus me livre, a vida é muito boa, né!”, diz.
Copa de 1966 dói até hoje
Antes de se consagrar como tricampeão mundial na Copa do México, o zagueiro Brito teve que superar uma grande frustração. A dolorosa eliminação no Mundial de 1966 para Portugal dói até hoje.
“Nunca gostei de perder, mas na vida da gente nem tudo é vitória. Eu era novo e foi difícil. Já era amigo do Euzébio e do Coluna, bem antes da Copa. Eles mereceram ganhar”, admite o ex-jogador, que só foi titular no jogo contra os portugueses.
Mas, para Brito, o fracasso brasileiro começou muito antes do Mundial: “Era uma bagunça. Foram convocados 40 jogadores, havia vários times. A comissão técnica colocou o maluco do Feola (técnico). Convocaram jogadores que não tinham mais condições. Acho que queriam homenagear jogadores que tinham ido em outras Copas. Deu no que deu.”
Futebol brasileiro preocupa
Como todo brasileiro, Brito sofreu muito com o vexame da Seleção na Copa. A derrota de 7 a 1 para a Alemanha está entalada até hoje, assim como a sua indignação com os rumos atuais do futebol brasileiro.
“O Brasil perder de sete foi um escândalo. Acabaram com os campos de várzea, onde surgiam os nossos craques. Não dão tempo aos nossos técnicos de fazer um bom trabalho. O Joachim Löw está no comando da Alemanha há oito anos. Aqui não adianta fazer um bom trabalho o ano todo se você não for campeão”, critica.
O comportamento de alguns jogadores na Copa do Mundo também desagradou a Brito. “O mal do Thiago Silva foi ter se afastado. Ele foi chorar sozinho, encolhido, com medo. Deu para visualizar muito bem. Mas tanto o ‘chorão’ quanto o David Luiz são bons jogadores,” avalia o zagueiro.
Brito fez história no Vasco e em outros clubes brasileiros |
Brito fez parte da seleção brasileira de 1970 |
Fonte: O Dia