Joel, em sua apresentação: 'Não é hora de ficar falando muito, é hora de trabalhar'

Domingo, 07/09/2014 - 11:28
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Após 10 anos longe do Vasco, Joel Santana retornou e, neste domingo, concedeu sua primeira entrevista coletiva como o novo técnico cruz-maltino. A quilômetros de São Januário, no CFZ, onde o "Papai" apenas observou o treinamento comandado pelo auxiliar Marcelo Sales e o preparador físico Ronaldo Torres, o treinador, sentado entre Roberto Dinamite e Rodrigo Caetano, chegou dizendo que o momento é de muito trabalho para levar o Vasco de volta à elite do futebol brasileiro.

- Não é hora de ficar falando muito, é hora de trabalhar, trabalhar e trabalhar para, no fim do ano, estar em uma situação mais confortável. Estamos felizes, mas não estamos satisfeitos. Para isso, nós temos que fazer mais ainda. Já passei outras vezes por situações difíceis e conseguimos sair. É uma obrigação nossa. Vamos sair. Venho mais uma vez feliz e satisfeito, com uma energia como se tivesse começando agora. O clube sempre me deu a mão. O meu histórico já conhecem - afirmou o comandante.

Joel, que inicia sua quinta passagem por São Januário, falou ainda que a gratidão e o conhecimento do clube foram fundamentais para que ele aceitasse o desafio de assumir o clube a três meses do fim da Série B do Campeonato Brasileiro.

- Conheço um pouco essa casa. Dormi muitas vezes embaixo da arquibancada, feliz da vida, por isso estou aqui. Sou grato. Muito do que aconteceu comigo, agradeço a esse clube. Vamos tentar mais uma vez chegar a um momento mais tranquilo no fim do ano, estar onde temos que estar.

Joel Santana assinou contrato até 31 de dezembro deste ano. A negociação foi conduzida diretamente pelo presidente do Vasco, Roberto Dinamite. Joel treinou o mandatário numa de suas passagens pelo clube e tem boa relação com o ex-atacante, que está em fim de mandato – enquanto a Justiça não julgar a liminar que o mantém no poder, Dinamite é presidente até as eleições de 11 de novembro.

Houve resistências internas ao nome de Joel, mas Dinamite resolveu seguir em frente ainda assim. A escassez do mercado e a impossibilidade de acerto com as opções preferenciais - como no caso de Oswaldo de Oliveira - abriram caminho para o acerto do veterano treinador de 65 anos. O primeiro contato havia sido feito logo após o pedido de demissão de Adilson. Joel, depois, esperou outra ligação e se irritou com a aproximação do acerto do Vasco com Enderson Moreira, que acabou não se concretizando.

O treinador retorna à Colina após quase uma década. Em sua última passagem, em 2005, Joel foi demitido após a eliminação nas oitavas de final da Copa do Brasil com uma derrota em casa para o Baraúnas (3 a 0), em abril daquele ano. O último clube do treinador foi o Bahia, numa curta passagem em 2013: em pouco mais de um mês, entre abril e maio, comandou o Tricolor em sete partidas, com duas vitórias, três empates e duas derrotas. A última delas, a goleada de 7 a 3 para o arquirrival Vitória, na primeira partida da final do estadual, culminou com a sua saída.

Jogador do Vasco na década de 70 (foi campeão carioca em 1970 e brasileiro em 1974), Joel Santana vai comandar o time pela quinta vez na carreira (as passagens anteriores foram em 1986/1987, 1992/1993, 2000/2001 e 2004/2005). Como técnico, conquistou dois estaduais (1992 e 1993), a Copa João Havelange em 2000 e a Copa Mercosul neste mesmo ano – os dois últimos títulos depois de substituir Oswaldo de Oliveira na reta final das competições.

Confira os principais trechos da entrevista de Joel Santana:

História

"Se não sou o primeiro em títulos, sou o segundo que mais ganhou. Vamos conseguir esses números. Aceleramos o processo, mas futebol é assim e não pode ser diferente. Já conheço o clube há bastante tempo. Agora, vamos trabalhar".

Momento do Vasco

"Já passei outras vezes por situações difíceis e conseguimos sair. Não é interessante para o clube estar na Série B. É uma competição difícil de ser disputada, com jogos em dias que não estamos acostumados. A responsabilidade aumenta. É uma obrigação nossa. Vamos sair. Venho mais uma vez feliz e satisfeito, com uma energia como se tivesse começando agora. O clube sempre me deu a mão. O meu histórico já conhecem".

Roberto Dinamite

"Já o conheço há muito tempo. Fazia papel de sparring no treinamento para ele. Aquela jogada de corte para o meio era treinada. Não era por acaso. Fazia com a maior humildade. O clube precisava dele. Em 1986, quando virei treinador, eu o chamei para viajar para Belém na minha estreia mesmo machucado. Era nosso capitão, queria ele lá. Vencemos por 3 a 0. Ia fazer o quê? Deixá-lo na poltrona?".

Missão

"É sempre difícil, principalmente com um clube de massa, na Série B. A missão mais difícil é sempre a próxima. Ganhamos ontem (sábado) e você não sabe como eu sofri, como nós sofremos. Era uma vitória que a gente precisava. Dá um pouco mais de tranquilidade para o jogo de terça-feira".

Parada

"Às vezes é bom. Principalmente, quando você tem uma estabilidade. Tira um pouco o pé do acelerador, vê o que está acontecendo. Não ia ficar mais tanto tempo em casa. Voltei ao clube que conheço, onde comecei e me sinto muito à vontade".

Emergencial

"Cheguei numa segunda para jogar a Mercosul e na quarta o Brasileiro em Minas. Ganhamos os dois campeonatos. Mas não quero ser contador de história".

Vitória sobre o América-MG

"Mérito do Jorge Luiz. O grupo estava sentido, com um resultado que não é normal. Ninguém dá uma topada, fura um pneu, bate no carro porque quer. É uma derrota que não é normal, em casa. Agora, o astral é outro, com espírito diferente, dormindo melhor, acordando melhor ainda, sorridente, feliz da vida. É bola para frente".

Felipe para auxiliar

"De repente. Estamos pensando nisso. Eu o conheço bem. As coisas foram muito atropeladas. Tem jogo terça-feira, depois vamos ver outras causas".

Relação com a torcida

"São Januário é a minha casa, minha varanda. Se não estiver acostumado a encarar a torcida do Vasco, vou encarar qual? Lá conheço tudo, a igreja, a piscina, a goiabeira. Nada é diferente. Só a proporção do clube que cresceu, mas a torcida do Vasco é assim. Precisamos dela, que entenda que só sairemos desse momento com seu apoio. Temos três meses pela frente. Vamos nos ajudar. Aí, no ano que vem, é respirar. Dentro de casa sempre fomos quase imbatíveis".

Joel 2005 x Joel 2014

"Bem mais novo, com menos cabelo branco. Envelheci, mas estou mais experiente na vida. O futebol machuca muito as pessoas. Vocês não tem ideia dos comentários. Vi um outro dia de uma pessoa que nem me conhece. Se for uma crítica respeitosa tudo bem, pode criticar. Nunca pensei em chegar tão longe, ganhar tanta coisa. Falta muito pouco, chegar à Seleção, mas o clube já me deixa satisfeito. Somos de famílias humildes. Conseguimos vencer pela luta, pela determinação, aplicação, disciplina. Sempre foi assim e não vai ser diferente agora. Se o clube me dá mais uma vez a oportunidade não é porque tenho os olhos verdes, mas porque deixei um trabalho aqui".

Pedido na igreja

"Vou sempre. Antes de acertar com o Vasco, encontrei uma senhora no caminho. Ela me perguntou sobre o Vasco, disse que estava indo rezar na igreja. Ela decidiu ir junto. Na saída, falou comigo e me questionou perguntando se eu iria aceitar. Respondi que sim e ela disse que havia rezado para isso".

Jogadores da base

"Nem lembro quantos jogadores subimos. Tem que ter cuidado. São a raiz do clube, feitos lá embaixo. Trabalhei cinco anos em categorias de base, no Brasil e no exterior. A maioria desses jogadores tem problemas particulares para resolver. Pode ter certeza que tenho carinho com essa molecada. Gosto de ver o garoto subir na vida e virar um atleta de nível. Eu e Roberto saímos da base e hoje estamos aqui técnico e presidente".

Xodó da vez

"Vamos ver depois quem vamos escolher. O apelido de papai veio dos jogadores pelo cuidado que tenho com eles. Tenho o hábito de na concentração dar boa noite a todos. Uma vez, um jogador que estava machucado também concentrou e não lembrei que ele estava lá. No dia seguinte, me cobrou na preleção. Isso é amizade, carinho. Vocês não imaginam quantas ligações recebi para me parabenizar pela volta ao trabalho".

Desafio

"Aqui não tem desafio, tem prazer. Trabalhar no Vasco, no Rio de Janeiro, onde tenho dois títulos brasileiros, um como treinador e outro como jogador, quatro cariocas, três como treinador e um como jogador, o que quero mais? Quero ser feliz. Não tem dia ruim para a gente".

Joel Santana concede primeira coletiva no retorno ao Vasco



Fonte: GloboEsporte.com