Ter uma Olimpíada realizada em sua cidade, como acontecerá em 2016 no Rio de Janeiro, era um grande desejo de muitos atletas. No entanto, o “sonho olímpico” transformou- se em pesadelo para muitos deles, depois que o Estádio de Atletismo Célio de Barros e o Parque Aquático Julio de Lamare foram fechados para as obras da Copa. Com as atividades encerradas nos dois equipamentos esportivos, promessas do atletismo e dos saltos ornamentais ficaram sem lugar para treinar. A solução para a turma do atletismo tem sido a rua, com exercícios nas proximidades do Maracanã ou na Quinta da Boa Vista. Sem equipamentos, nem pista adequada. Ao todo, 500 alunos e atletas treinavam no Célio de Barros.
No caso dos atletas dos saltos ornamentais, que treinavam no Julio de Lamare, todos foram transferidos para o Parque Aquático Maria Lenk, na Barra. O problema é que o parque só dispõe de piscinas e não de centro de treinamento seco, que corresponde a 80% da preparação destes atletas.
— Nosso treinamento está completamente prejudicado. O Célio de Barros era um estádio completo. Com o treinamento na rua, os atletas estão desenvolvendo tendinite, porque o asfalto tem muito mais impacto. Isso é absurdo— reclama a coordenadora de atletismo do Vasco da Gama, Solange Chagas, que treinava sua equipe no estádio antes do fechamento.— Lembro que o borrachão do Célio de Barros foi inaugurado na década de 70 . É uma pista de atletismo especial, com menos impacto para preservar o corpo dos atletas. Hoje em dia está destruído porque virou estacionamento durante os jogos da Copa. Um total desrespeito.
Da estrutura original do estádio, só restou a arquibancada. A pista principal e a de aquecimento, além de banheiros, gaiola de arremessos e a torre de controle com aparelhagem eletrônica foram destruídas. Já o Júlio de Lamare teve seu tanque-seco removido.
Mesmo diante das adversidades, jovens como Maria Vitória Quirino, 14 anos, não desistem do treinamento intensivo. Ela está entre as classificadas para os Jogos Estudantis, em Londrina, e é uma das atletas que vai representar o Rio no Campeonato Brasileiro de Atletismo. Outros dois atletas do grupo se mudaram para São Paulo em busca de melhores condições. Estão entre os dez melhores do país.
Governo promete reforma
Outra que não desiste do atletismo é a macaense Uhuru Figueira, 23 anos, moradora de do Engenho de Dentro. Ela concilia a rotina de treinamentos com sessões de fisioterapia.
— Treinar na rua acaba com o nosso corpo, mas eu nunca vou desistir. Faço fisioterapia para aguentar a dor. Vai valer a pena — diz, esperançosa por uma vaga nos Jogos Pan-Americanos (2015) e nos Jogos Olímpicos (2016).
A lista de atletas olímpicos que têm carreira atrelada ao Célio de Barros é extensa. Adhemar Ferreira da Silva, bicampeão olímpico no salto triplo, treinou e competiu nas pistas do estádio. Aída dos Santos também. Ela garantiu vaga para as Olimpíadas de Tóquio, em 64, e ficou em quarto no salto em altura.
No rol dos atletas mais novos estão Aldemir Gomes e Evelyn dos Santos. Aldemir representou o Brasil na Olimpíada de Londres, em 2012. Ele treinava no Célio de Barros desde os 11 anos. Já Evelyn representou o atletismo brasileiro em Pequim (2008) e Londres (2012).
— O Célio fez parte da minha história e o mais triste é que destruíram um estádio de atletismo completo, perfeito — lamenta Evelyn.
Atleta de saltos ornamentais, Mônica Lages cobra a reabertura do de Lamare.
— Em 2007, com as obras do Pan-Americano, recebemos um parque aquático ainda melhor do que o que tínhamos. Por isso, quando a Olimpíada foi anunciada no Rio, acreditamos que fosse algo bom para todos. Ledo engano. Fomos expulsos do Parque Aquático e o Maria Lenk não se compara ao De Lamare. Nosso treinamento ficou prejudicado e a Olimpíada já está chegando — diz.
Procurado, o governo do Estado informou que a reforma do Célio de Barros será realizada e custeada pela Concessionária Maracanã, conforme o contrato de concessão. O projeto básico foi aprovado, mas ainda está sob análise dos órgãos de licenciamento. Assim, valores e prazos não foram divulgados.
Ainda de acordo com o governo, as aulas de hidroginástica e natação serão ministradas em vilas olímpicas. Já os alunos de atletismo estão sendo encaminhados para o Engenhão — como o estádio está interditado, usam apenas a pista de aquecimento.
Para a professora de atletismo Edneida Freire, que atende 200 alunos de comunidades carentes em projeto da Suderj, a substituição do Célio de Barros não tem sido tão simples.
— O Cefan (Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes) não nos abre as portas; na Escola de Educação Física do Exército só podemos treinar quando não há competições deles; e no Centro de Treinamento da Aeronáutica não tem o material oficial. No Engenhão, que poderia perfeitamente nos atender, temos horário reduzido para treinar e não podemos usar o campo para saltar. Até quando vamos peregrinar? — questiona Edneida, criticando a falta de investimento público na formação de atletas. — As autoridades ainda não descobriram que não se forma um atleta do dia para a noite. Muitos atletas precisam de renovação. Quando se investe num atleta, a gente evita um 7 a 1. E passar vergonha numa Olimpíada em casa seria feio demais.
Sobre o Julio de Lamare, o governo do Estado informou que o local será reformado para receber as competições de polo aquático, em 2016. A previsão para a conclusão das obras é o segundo semestre de 2015.
Gonte: Jornal de Bairro Tijuca - O Globo