É impossível tirar o sorriso do rosto de João Pedro Costa Contreiras, de 14 anos, morador de Realengo. O adolescente, lateralesquerdo do infantil do Vasco, foi convocado para um período de treinamentos com a seleção brasileira sub-15 e embarca hoje para os Estados Unidos.
— Não acreditava que fosse chamado porque é muito difícil voltar—conta o jovem, que já jogou com a Amarelinha em abril:—Há grandes chances de não agradar. Então quer dizer que alguém viu e se interessou pelo meu trabalho.
Ele e outros 23 jovens ficam nos Estados Unidos até 16 de setembro, disputando amistosos e se preparando para o Campeonato Sul-Americano sub-15, que acontece em 2015.
Para Fernando China, treinador da categoria sub-15 do Vasco e que há 15 anos trabalha com a base e o profissional, a segunda chance de João vai além do fato de o menino ser um bom jogador:
— Ele não tem medo de atacar. Além disso, tem postura nos treinamentos.
Fã número 1, avô grava todos os jogos
Os primeiros passos no futebol, João deu aos 7 anos nas brincadeiras com o seu avô José Roberto Contreiras. O vascaíno sempre incentivou o atleta no esporte e quase se coloca como empresário. Durante a entrevista, o aposentado ajudava o garoto a contar sua trajetória.
— Não sou empresário. Ajudo porque quero o bem dele e tenho experiência. As coisas aconteceram muito rápido. Ele jogava pelada e daqui a pouco estava no Vasco — conta o avô, que também grava todos os jogos do adolescente e depois discute os erros e acertos com o atleta.
Em 2011, o menino ingressou no futsal do Bangu. Em 2012, foi para o Vasco jogar no campo de grama sintética e lá ficou. No fim do ano, João foi chamado para disputar uma peneira com cerca de cem atletas e, em janeiro de 2013, já estava na base cruz-maltina. Meses depois, foi destaque do Estadual sub-13, quando o Vasco ficou com o segundo.
Primeiros chutes foram dados em campo de lama
A estrutura que tem hoje é uma conquista para João Pedro, que começou armando suas jogadas no campo da Praça São Luiz, que fica a alguns metros da sua casa. O chão de terra vira lama em dias de chuva. Mas essa não era uma reclamação do jovem.
— Quando era criança, muitas vezes deixávamos o futebol de lado para brincar na lama — conta João.
Foi nesse campo em Realengo que o garoto começou a chamar a atenção. Os pais do adolescente descobriram que a vizinhança se reunia quando o lateral-esquerdo jogava, durante as aulas gratuitas da escolinha que acontecia ali.
— Ele nem falava nada de futebol. Até pouco tempo, queria ser piloto de caça. Mas começamos a ver que ele jogava muito. Com o tempo, acabou mudando de ideia — conta a mãe, Priscila Costa Contreiras, de 32 anos.
O lema é um por todos, todos por um...
O sonho de jogar pela seleção brasileira vem sendo conquistado aos poucos, mas, mesmo assim, João Pedro não esquece da esperança que outros meninos têm de conseguir o mesmo objetivo. O jogador doa tudo o que não serve mais:
— Dei minha primeira chuteira. Na verdade, dou tudo o que não preciso mais. Sei que tem gente que pode usar melhor.
A rotina, que começa às 6h, é acompanhada por toda a família: a mãe Priscila, a avó Nilsa Soares Costa Contreiras, de 57 anos, o avô José, o padrasto Paulo Henrique Negromont, de 34 anos, e o irmão mais novo, de 7 anos.
— Toda a alimentação dele é pensada em função do futebol, todos acabam participando de alguma forma — conta a mãe.
O adolescente conta que assistiu a todos os jogos da Copa do Mundo sonhando com o futuro. João Pedro, que tem como ídolo Marcelo, do Real Madrid, não pensa duas vezes ao ser questionado sobre o que vai fazer se um dia ganhar muito dinheiro:
— Vou ajudar a minha família.
Fonte: Jornal de Bairro Zona Oeste - Extra