Na base do Vasco, nem tudo que reluz é ouro. As dificuldades financeiras do clube e a recente debandada de talentos acenderam o alerta. A diretoria batalha para convencer seus jovens jogadores que ainda não é hora de se concentrar em ganhar dinheiro e, nas categorias inferiores, impôs um teto salarial para poder honrar os compromissos — na faixa de R$ 5 mil na categoria juvenil e R$ 10 mil nos juniores.
Agora, ao renovar contratos com atletas de destaque — como fez esta semana com o juvenil Evander Ferreira, de 16 anos — , o Vasco adotou a política de oferecer salários menores. O clube espera, assim, evitar perder atletas por atraso de vencimentos ou impostos, mas corre risco de vê-los sair por multas rescisórias baixas.
É a opção por um mal menor. Nos últimos anos, o atacante Mosquito, o lateral Foguete e o meia Matheus Índio foram alguns jovens promissores dos que se desligaram do Vasco na Justiça, alegando dívidas e desvalorização.
O jeito encontrado foi baixar os valores de salários e multas. E confiar em juras de fidelidade como a do meia-atacante Evander, que já se destacou na seleção sub-17 com nove gols em seis jogos.
— Não penso em ir para fora ainda. Quero ficar no Brasil até no mínimo 18 anos. Muita gente vai para fora pelo dinheiro. Eu vou pelo sonho. Os principais jogadores começaram no Brasil, não saíram de cara. Muitos pensam que, se chegou à seleção de base, pode ir para um time de fora — disse o jovem, que começou no Vasco em 2007.
O coordenador da base Mauro Galvão sabe que nem todos serão leais, mas usa a fidelidade como critério. Foi assim que renovou com outros destaques da geração nascida em 1998, como Matheus Pet e Andrey, ambos também da seleção sub-17. Nos juniores, Daniel Kayser foi enquadrado e só renovou aceitando as novas condições financeiras.
— Agora controlamos. Tem limite. Não pode ser uma coisa fora dos padrões. O Vasco está reconhecendo os garotos, essa geração pode dar frutos. Mas eles não chegaram a lugar algum ainda. É só começo. Muitas vezes querem ganhar dinheiro na base — criticou Mauro.
Enquanto isso, no futebol profissional, a diretoria sofre sem recursos e estipula como meta a venda de dois jogadores por ano. Na lista, estão Thales e Luan, os únicos revelados no clube. É pouco. A geração de Evander tem mais títulos e mais presença em seleções de base. E o Vasco espera que ela possa ajudar o clube dentro e fora de campo.
Lucro reduzido e excesso de casos na Justiça
É longa a lista de promessas que deixaram o Vasco por valores baixos, ou mesmo de graça. Em 2008, o Vasco poderia ter recebido R$ 15 milhões por Phillippe Coutinho, mas aceitou a primeira oferta da Inter de Milão e ficou com R$ 10 milhões, um mês antes de o presidente Roberto Dinamite assumir. Em seguida, Alex Teixeira saiu por R$ 6,5 milhões e Alan Kardec por R$ 2,5 milhões depois da campanha da Série B em 2009. Em 2012, valorizado pelo título da Copa do Brasil, Rômulo rendeu R$ 10 milhões.
A venda serviu para pagar dívidas internas no clube, como salários atrasados. Da mesma forma como, em 2013, a negociação de Marlone para o Cruzeiro e Danilo para o Braga, de Portugal. No caso de Marlone, dirigentes chegaram a deixar de pagar impostos de jogadores que não pertenciam ao clube para dar prioridade à jovem promessa. O Vasco ainda tenta reaver dinheiro de outros que deixaram o clube antes do profissional.
Mosquito rendeu R$ 750 mil ao acertar com o Atlético-PR, e o objetivo é ter o mesmo direito com Matheus Índio, hoje no Santos. O advogado Aldo Kurle defende o atleta.
— Não tinha salário, FGTS, luvas, direito de imagem. Se o clube for condenado, vai pagar tudo até o fim do contrato. É uma irresponsabilidade absurda. Se está revelando, tem que pagar em dia. Poderia ter bom resultado financeiro, mas perde por valores insignificantes — disse Kurle.
Fonte: Extra Online