As eleições estão marcadas para o dia 11 de novembro, mas a aposta de muitos no Vasco é que possa haver nova mudança de data, possivelmente agora para adiantar o pleito. Os órgãos de poder definidos pelo estatuto do clube estão, neste momento, vagos: o Conselho Deliberativo, o Conselho Fiscal e a Assembleia Geral. A diretoria do presidente Roberto Dinamite, junto com seus vice-presidentes, deixará o clube em quatro dias, quando termina seu mandato, mas ainda planeja, como um dos últimos atos, contratar uma empresa para fazer um recadastramento dos sócios do clube.
No futebol, no momento em que o time conseguiu uma sequência de vitórias, entrou no G-4 da Série B e no sábado recebe o líder Ceará, o diretor-executivo Rodrigo Caetano cogita, impressionado pelo caos político, deixar o clube na próxima semana, quando Dinamite e o vice de futebol Ercolino de Luca perderem seus cargos, na próxima terça-feira.
A partir daí, comandará o clube uma diretoria de transição, formada por quatro conselheiros (Silvio Godoy, Eduardo Rebuzi, Jorge Luis Morais e Alcides Martins), como designou na madrugada desta quinta-feira o Conselho Deliberativo, na própria reunião em que decidiu não prorrogar o mandato de seus próprios conselheiros.
Este é o panorama do Vasco antes de eleger o novo presidente e enquanto tenta voltar à elite do futebol brasileiro.
— O mandato do Roberto Dinamite vai até o dia 19. Os dos presidentes dos conselhos já se extinguiram. Esta diretoria de transição assumirá todos os poderes até a eleição. Foi o que o Conselho decidiu, foi o voto dos conselheiros — resumiu o ex-presidente Eurico Miranda, candidato à sucessão de Dinamite e um dos articuladores, no Conselho, do veto à prorrogação dos mandatos. Godoy e Rebuzi, que compõe a diretoria de transição, pertencem a seu grupo político.
Nova ação na Justiça
O embate sobre a prorrogação dos mandatos, vetado pelo Conselho em reunião tensa que invadiu a madrugada na sede náutico do clube, na Lagoa, será a nova arena para mais uma disputa na Justiça comum. Conselheiros que foram derrotados na sessão irão à Justiça para impugnar o resultado.
Quando a Justiça determinou que a data das eleições seria em novembro, surgiu o problema da vacância de poder. O mandato dos 150 conselheiros eleitos (metade do Conselho Deliberativo) terminava em 9 de agosto, e o do presidente Roberto Dinamite em 19 de agosto. O então presidente do Conselho Deliberativo, Abílio Pinheiro, determinou, então, a extensão do mandato dos conselheiros e convocou a reunião para que o tema fosse votado.
É aí que alguns conselheiros tentarão encaixar seu argumento na ação judicial: quando a prorrogação dos mandatos foi derrubada, os próprios conselheiros presentes à reunião perderam seus mandatos. Não poderiam, portanto, ter incumbido de poderes a diretoria de transição.
— Este é um argumento jurídico, mas não é o único problema. Esta decisão é um absurdo por completo. O desembargador determinou, ao marcar a eleição para 11 de novembro, que o clube se organizasse para normalizar o processo eleitoral. E agora o clube está sem Conselho Deliberativo, sem o Fiscal, sem Assembleia Geral e será comandado por quatro pessoas ligadas a dois candidatos? — contesta Marcello Macedo, advogado do Vasco que auxiliará alguns conselheiros na ação judicial. O próprio clube, como é o réu da ação, já que houve uma decisão do Conselho, não pode também ser o autor da ação.
Há a expectativa de que a diretoria de transição, formada por dois aliados de Eurico e dois de Roberto Monteiro, outro candidato à sucessão, tente antecipar as eleições. E que não faça o recadastramento de sócios, necessário, na visão da diretoria de Dinamite, para dar mais transparência ao processo eleitoral.
A principal polêmica é a denúncia de que Eurico e Roberto Monteiro financiaram a associação e as mensalidades de centenas de novos sócios. Entre março e abril do ano passado (data-limite para ter direito a voto), três mil pessoas se associaram ao Vasco, um recorde. Os dois candidatos negam as acusações.
Mesmo que no apagar das luzes, Dinamite tende a contratar uma empresa de auditoria para fazer o recadastramento de sócios. Se os conselheiros derrotados na última reunião, não conseguirem na Justiça a prorrogação dos mandatos, é possível imaginar a seguinte situação: Dinamite, ainda como presidente, contrata a empresa para fazer o recadastramento, e logo depois a diretoria de transição assume o poder e decide rescindir o contrato.
Conselheiros ameaçados; Rodrigo Caetano cogita sair
O caldeirão da política vascaína deve acarretar outras consequências além dos constantes questionamentos sobre a legitimidade de cada movimento do processo eleitoral. No futebol, o diretor-executivo Rodrigo Caetano pode resolver deixar o clube com a saída dos dirigentes que estão acima dele no clube: o presidente Roberto Dinamite, o vice de futebol Ercolino de Luca e o diretor-geral Cristiano Koehler.
Ercolino, aliás, foi um dos conselheiros intimidados antes e depois da reunião do Conselho Deliberativo na noite de quarta-feira. Na porta da sede vascaína, um grupo de sócios e torcedores favoráveis a Eurico Miranda, que chegou a 100 pessoas em certo momento da noite e era de cerca de 40 no fim da reunião, já na madrugada, fazia pressão sobre os conselheiros identificados como adversários do ex-presidente.
Ercolino de Luca, vice de futebol de Dinamite, Nelson Rocha, ex vice de Finanças e candidato a presidente, o ex-jogador de volêi Fernandão e o ex-vice do departamento Infanto Juvenil Tadeu Correia, além do próprio Dinamite, foram alguns dos pressionados. Para deixar a sede, eles precisaram da proteção de seguranças do Vasco para chegar a seus carros, enquanto eram xingados e cercados pelos torcedores. Não chegou a haver agressão física.
Em completa indefinição e neste clima beligerante, o Vasco joga em São Januário no próximo sábado, contra o Ceará, líder da Série B.
Fonte: O Globo online