Alexandre Gallo, coordenador das categorias de base da CBF e técnico da seleção olímpica, elogia Thalles e fala sobre Foguete, ex-Vasco

Domingo, 27/07/2014 - 18:26
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Não tem o mesmo peso de uma Copa do Mundo, mas em dois anos a seleção brasileira terá outra competição importante em casa: as Olimpíadas de 2016. Um torneio que o futebol brasileiro nunca conquistou e bateu na trave em três oportunidades, com medalhas de prata em Los Angeles (1984), Seul (1988) e Londres (2012). O comandante já está escolhido. Alexandre Gallo, coordenador das categorias de base da CBF, foi anunciado nesta semana como treinador da equipe olímpica no Rio de Janeiro.

O desafio da conquista da inédita medalha de ouro é grande, a pressão por jogar em casa – principalmente após o fracasso na Copa do Mundo – ainda maior, mas Gallo está otimista. Rema contra a maré e, ao contrário dos comentários gerais, vê um futuro promissor para a Seleção. Trabalhando na CBF com jovens atletas desde janeiro de ano passado, garante que o talento brasileiro não morreu. Os outros é que se aproximaram. Porém, apesar de confiar na geração olímpica, o Brasil já definiu seu craque em 2016: Neymar.

- Se ele (Neymar) não estiver, o treinador não está (risos). É a mesma coisa que você perguntar se o Messi estará nas Olimpíadas. Esses expoentes têm que estar nas principais competições. O Neymar é um fora de série. Não tem como ser diferente.

Além de Neymar, Alexandre Gallo pretende levar outros dois jogadores acima de 23 anos, como é permitido pela Fifa. Ao contrário de seus antecessores, no entanto, a ideia é concentrar a experiência em um setor. No caso, o ataque. Gallo acredita que, desta maneira, principalmente por jogar em casa, o Brasil será mais forte.

- Não entendo muito o conceito de levar um goleiro, um lateral e um atacante... Isso acaba pulverizando sua força. Acho que o ideal seria concentrarmos a força em um setor. Entendo que em uma Olimpíada, no Brasil, diante de nossa torcida, temos que ir para cima. Se entrarmos com um ataque forte, com Neymar e mais dois, os adversários ficarão preocupados. Vamos ser agressivos. Isso não quer dizer que necessariamente levarei três atacantes acima de 23 anos. O Thalles (do Vasco), ou algum outro atacante, pode estar voando em 2016. Assim, eu poderia levar um meia ofensivo. O importante é centralizar a nossa força.

Na entrevista de mais de uma hora com o GloboEsporte.com, na nova sede da CBF, Alexandre Gallo não quis entrar no mérito da última Copa do Mundo, quando trabalhou como observador técnico de Luiz Felipe Scolari. Prefere olhar para frente e falar do projeto apresentado a Dunga. Deixando claro que a decisão final sempre será do treinador da equipe principal, acredita que o novo técnico da Seleção possa aproveitar, durante a renovação, jogadores do ciclo olímpico de 2016.

Animado com a nova geração do futebol brasileiro, cita inúmeros nomes que podem deslanchar em breve. Os olhos brilham, no entanto, ao falar de alguns em especial. Nomes ainda pouco conhecidos como o zagueiro Wallace (recém-negociado pelo Cruzeiro com o Braga, de Portugal, por cerca de R$ 28 milhões), o goleiro Ederson (Rio Ave), o volante Lucas Silva (Cruzeiro) e o atacante Thalles (Vasco). Ao último, inclusive, Gallo reservou elogios especiais pela força física, técnica e sobretudo pelo empenho em campo, afirmando que o vê com potencial de chegar à seleção principal.

Veja os principais trechos da entrevista

Preparação para 2016

Existe uma lacuna. Trabalhamos com os jogadores até os 20 anos. Depois, até os 23, eles não trabalham mais conosco. A ideia é levar os jogadores da seleção olímpica automaticamente para a principal e dar esse número de 25 jogos como referência para eles (é a quantidade que a CBF calcula que a Seleção terá até os Jogos Olímpicos de 2016, entre eliminatórias, Copa América e amistosos). É claro que sempre respeitando o trabalho do Dunga. Desta forma, não ficaríamos sem trabalhar com eles agora. E isso sempre aconteceu. Mas é bom deixar claro que a presença deles na seleção principal depende do Dunga. É ele quem tem a palavra final, vamos sempre respeitar a decisão. Estamos conversando, tentando explicar a importância disso no momento, que seria uma ajuda para o ciclo olímpico. O México veio para a Copa com dez jogadores das Olimpíadas. O Brasil, com cinco. Vou sempre respeitar o trabalho da comissão da seleção principal, mas apresentei essa situação, e eles gostaram muito... Acertamos nessa semana que os próximos dois Torneios de Toulon (competição anual que envolve jogadores até 20 anos) serão sub-22 para termos mais jogos com o time olímpico. O grande problema será a liberação de jogadores, uma vez que o torneio não é data Fifa.

Filosofia de jogo

Nas seleções de base, todos jogam atrás contra o Brasil, e temos que propor o jogo. Isso faz com que a gente sempre precise marcar na frente, para roubar a bola no campo de ataque e ter o mano a mano, que é a coisa mais importante do futebol brasileiro. Porque, se roubamos a bola no campo defensivo, temos que ultrapassar duas linhas de quatro, ou até de cinco, como foi na Copa do Mundo. A marcação precisa começar lá na frente. Se não, vai ficar igual na última Copa do Mundo, em que alguns jogadores não estavam tão bem na marcação e abriram espaços por dentro. Na Copa das Confederações, o time marcou forte lá em cima, não deixava o adversário jogar e criava o mano a mano. Como fazemos isso marcando no campo de defesa? Não dá. Aí precisamos ter posse de bola e transição técnica.

Talento brasileiro

Há 30 anos, estávamos cinco passos à frente dos adversários. Os jogadores corriam 6km por jogo. Nessa Copa do Mundo, o Biglia, volante da Argentina, correu 15,1km em um jogo em que eu estava assistindo. Então, o que acontece? Todos os nossos adversários se equacionaram física e taticamente e encostaram no Brasil. Eu acho sempre que o Brasil está um passo à frente pelo talento dos nossos jogadores, desde que se entregue na marcação, seja comprometido com o jogo, cúmplice no trabalho tático da equipe. Quando não acontece isso, nós temos problemas. Os grandes atletas da Europa são sempre os argentinos, os brasileiros, os colombianos, que agora estão com uma boa escola. O campo ficou mais estreito e, automaticamente, quem sofre com isso são os meias. O meia, antigamente, era um cara técnico, que tinha espaço para armar e lançar. Hoje não tem mais. Precisa ser um cara dinâmico, como um Müller, um Robben quando joga atrás, um Oscar nos bons momentos, porque enfrenta jogadores fortíssimos.

Formação na base

A Costa Rica tem sete comissões técnicas de base trabalhando direto. A Suíça, que é do tamanho do Rio de Janeiro, tem 13 regiões, com 13 centros de treinamento. É impossível fazer isso aqui, por causa das dimensões do nosso país. Não tem como a gente (CBF) pensar em formação. A formação é do clube. Sabe o que acontece na América do Sul? Na Argentina, Colômbia e Chile? O jogador fica segunda, terça e quarta na seleção, e de quinta a domingo no clube. O calendário lá é unificado. Aqui nos reunimos e jogamos. Eles ficam 120 dias por ano com os jogadores. Fomos para o Sul-Americano sub-15 do ano passado com 27 dias de trabalho e 14 jogadores que nunca haviam feito um jogo internacional. Isso faz a diferença.

Legislação e calendário da base

É preciso mudar a lei no Brasil. Esse é o principal problema da formação. Além disso, como você vai pegar jogadores do Brasil inteiro e segurar de segunda a quarta, se cada estadual é feito em um momento? O Paulista sub-20 é disputado durante o ano inteiro. O Carioca começa em fevereiro, o que é um erro, por causa das férias dos clubes. É um problema, porque até a nossa visualização fica difícil.

Selecionáveis em litígio

Temos um nível de cobrança alto com os jogadores da base que estão em litígio com seus clubes. Toda vez que há um litígio entre os dois clubes, não convocamos o atleta. Mas o caso do Foguete (lateral que trocou o Vasco pelo São Paulo em 2013 após entrar na justiça) é diferente. O Vasco não pagava fundo de garantia. A CBF não vai ser conivente com isso. É uma situação diferente. Mas no caso do Riuler (volante envolvido em uma disputa judicial entre Coritiba e Atlético-PR), não vamos ser coniventes, assim como no caso do Lucão, goleiro que era da Ponte Preta, foi para o São Paulo e foi desconvocado do Mundial Sub-17.

Goleiros

Eu gosto muito do Alisson do Inter, mas ele está fora do ciclo olímpico, é de 1992. Gosto muito do Marcos Felipe, do Fluminense. Um cara muito centrado. Gostei muito do Ederson, do Rio Ave. Foi titular do Rio Ave o ano inteiro, jogou a decisão (da Taça de Portugal) e foi muito bem. Tem personalidade, reposição de bola, é grande, forte e técnico...Tem Jackson, do Inter também. Esses três têm idade olímpica e estão prontos.

Fonte: GloboEsporte.com