Morreu na madrugada desta quinta-feira, no Rio de Janeiro, o ex-árbitro Armando Marques, aos 84 anos, escolhido pelos cruzeirenses para apitar a final do Brasileiro de 1974 e que anulou um gol legítimo do Vasco. O árbitro anulou também um gol irregular dos mineiros que poderia levar o jogo para a prorrogação, pois nenhuma das equipes jogava pelo empate.
Relembre os fatos da final do Campeonato Brasileiro de 1974, conquistado pelo Vasco, contra mineiros e contra a arbitragem.
A possível validação do gol cruzeirense e suas conseqüências
Conforme dizia o regulamento, uma possível validação do gol cruzeirense não daria o título aos mineiros, já que nenhuma das equipes jogava com a vantagem do empate.
“Art 22 – Quando, terminada a Fase Final, dois times estiverem empatados em primeiro lugar, será realizado entre eles um jogo extra.
Neste jogo, se depois de noventa minutos regulamentares, persistir o empate, haverá – depois de um descanso de dez minutos – uma prorrogação de trinta minutos, dividida em dois tempos de quinze, sem descanso e com mudança de campo.
Se depois da prorrogação ainda persistir o empate haverá cobrança de cinco penalidades máximas por equipe. O árbitro determinará, por sorteio, a equipe que iniciará a série.
A cobrança será feita por cinco jogadores que tenham terminado a partida. Se, após a cobrança da série de penalidades ainda persistir o empate, será feita a cobrança de uma penalidade máxima por equipe, alternadamente, até que se defina o vencedor.” [trecho do regulamento do Campeonato Brasileiro de 1974 extraído do jornal O Globo, Edição Esportiva, p.1 de 29/07/1974]
O gol do Vasco mal anulado
Jorginho Carvoeiro, ainda no primeiro tempo, fazia 2 a 0 para o Vasco na decisão de 1974, mas teve seu gol mal anulado. Na 2ª etapa, Jorginho Carvoeiro fez o egundo gol do Vasco, que deveria ter sido o terceiro se o cruzmaltino não tivesse sido prejudicado.
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A transferência do local da partida
Se não tivesse havido nenhuma tentativa de agressão ao árbitro, Vasco e Cruzeiro por terem terminado a fase final empatados com 4 pontos, deveriam ter sido disputado na casa da equipe de melhor campanha em todo o Campeonato, neste caso, o Cruzeiro (38 pontos contra 34 do Vasco). Porém, o regulamento previa alguns casos de inversão de mando de campo.
"Art 59 - Quando houver tentativa de agressão ou agressão por parte do público ou de dirigente, associado ou empregado do clube local a árbitro, seus auxiliares, dirigentes, empregados ou jogadores do clube visitante, o Departamento de Futebol da CBD reestruturará a tabela do Campeonato, invertendo o mando de campo de três jogos subseqüentes do clube local". [trecho extraído do jornal O Globo, p.40, 30/07/1974]
Sendo assim, havia no regulamento uma previsão de punição contra times baderneiros, logo, se o Cruzeiro se enquadrasse neste artigo, deveria ser punido.
O fato gerador da inversão do mando de campo
Na partida disputada no Mineirão, em 24/07/1974, entre Cruzeiro e Vasco que terminou empatada, o Vice-presidente do Cruzeiro, Carmine Furletti, invadiu o campo de jogo e tentou agredir o árbitro Sebastião Rufino após um lance envolvendo Palhinha do Cruzeiro e Joel do Vasco na área do clube carioca. A imprensa noticiou o fato.
"Para Sebastião Rufino, Palhinha se atirou no chão, encenando uma falta para tentar ganhar o jogo em seu final. Na súmula, o dirigente do Cruzeiro, Carmine Furletti, sofreu violenta carga. 'Ele tentou agredir-me’”[trecho extraído do jornal O Globo de 26/07/1974, p.22]
Veja as cenas lamentáveis de violência e invasão de campo dos dirigentes mineiros tentando pressionar o árbitro Sebastião Rufino.
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O que alegavam os cruzeirenses?
Na tentativa de virar a mesa e rasgar o regulamento, os cruzeirenses argumentavam que não deveria ser aplicado o artigo 59 do regulamento. A fundamentação para esta apelação era ainda mais absurda, uma verdadeira aberração jurídica, uma tentativa frustrada de virar a mesa. Os mineiros alegavam que o artigo 59 não havia sido aplicado em outras oportunidades do mesmo campeonato, por isso, não deveria ser aplicado novamente.
Mas o que pensavam os demais dirigentes?
Na edição do dia 31/07/1974 do jornal O Globo, o presidente do Fluminense explicou o caso:
"O Regulamento visto pelo Flu
Explicação de Jorge Frias de Paula, presidente do Fluminense, para o fato de o artigo 59 do regulamento não ter sido aplicado antes: 'nenhum clube se lembrou de recorrer em tempo hábil. Os regulamentos existem para serem usados, desde que alguém se lembre de usá-los". [trecho extraído do jornal O Globo, 31/07/1974, p.28]
A escolha mineira de Armando Marques para a decisão
Apesar de hoje criticarem Armando Marques por ter anulado um gol irregular cruzeirense que levaria a partida para a prorrogação, nas vésperas da partida decisiva, Carmine Furletti falou ao jornal O Globo e demonstrou sua preferência por Armando Marques.
“Estamos fartos de Rufinos e Amaros. Queremos um juíz do gabarito de um Armando Marques ou Arnaldo César Coelho. E fazemos questão de participar da reunião da CBD que escolherá o juiz”. [trecho extraído do jornal O Globo, Edição Esportiva, 29/07/1974, p.1]
Antes da partida, Armando Marques era o preferido dos dirigentes mineiros que participaram da reunião que o definiu como juiz do jogo. Porém, depois do título perdido, mesmo com a ajuda do preferido árbitro aos mineiros, começaram as reclamações contra Armando Marques.
O terceiro cartão amarelo de Piazza
Apesar de toda reclamação cruzeirense, foi o time de Minas que conseguiu burlar o regulamento e escalar o suspenso Wilson Piazza, que havia tomado o terceiro cartão amarelo no confronto anterior entre Santos e Cruzeiro no dia 28/07/1974, última partida dos mineiros no quadrangular final.
O jornal O Globo do dia 29/07/1974 trazia os problemas de cada clube para a decisão.
“Cruzeiro e Vasco têm problemas para decisão. Joel voltou a sentir a contusão no joelho esquerdo, foi para casa com ordens de fazer aplicações de toalhas quentes e hoje fará tratamento fisioterápico no clube. No Cruzeiro, Piazza recebeu ontem o terceiro cartão amarelo”. [trecho extraído do jornal O Globo, Edição Esportiva, 29/07/1974, p.1]
Fonte: Supervasco