A trajetória de Guiñazú no Vasco, em 11 meses, tem a marca de duas lesões graves, queda para a Série B e a perda do título carioca. Nem por isso, o volante argentino perdeu sua influência no grupo e no clube ou mesmo baixou a cabeça. O estilo motivador, agregador e aguerrido fora e dentro de campo segue presente a cada pequena oportunidade. O próprio torcedor não deixa de lado o carinho e a confiança depositada no camisa 5, que encara seu segundo recomeço em São Januário e fará a estreia na Série B apenas nesta terça-feira, contra o Santa Cruz, na Arena Pantanal, após longos 90 dias desde uma fratura no pé direito.
- Está tudo zerado, o pé ficou excelente, sem nada a reclamar. E fisicamente também estou 100%. Estou alegre e à disposição para voltar de novo - assegurou.
Em meio aos obstáculos financeiros e estruturais, Guiñazú é uma das lideranças que segura a onda dos companheiros no vestiário e é tido por muitos como imprescindível para o equilíbrio hoje em dia. Já atacou de tradutor para Aranda e Martín Silva, desde janeiro, e diz que em seu discurso para os mais jovens não contém muito mais do que apenas abrir os olhos para o que profissão os proporciona, evitando que as frustrações sejam levadas para o trabalho.
- É difícil falar de mim. Eu tento sempre confirmar e reafirmar a sorte que temos de ser atletas de futebol, de defender essa camisa de um gigante do Brasil que é o Vasco. Tem muitas pessoas que gostariam e não tiveram essa sorte, por isso temos a obrigação de encarar de forma alegre e diferente. Muitos reclamam de algumas coisas que não são nada. Então, sempre tento dar uma motivação a mais, porque somos privilegiados, transmito isso e eles entendem. E, claro, a atitude e energia na hora de treinar no limite, jogar no extralimite. Isso tem me levado a estar aqui aos 35 anos. Os guris me dão um retorno impressionante, e esse é o maior prêmio.
O técnico Adilson Batista guardou um lugar para o argentino na equipe titular e vai observar um novo esquema para ele, Pedro Ken e Fabrício sejam mantidos no meio de campo. Além disso, não poupou elogios aos atributos do pupilo, ligando até o mau desempenho à sua ausência e de nomes como Rodrigo, Ken e Edmílson, que formavam a espinha dorsal.
- Tivemos a perda dele, que já sabiamos que iria acontecer e outros ainda, o que acabou atrapalhando o nosso rendimento. É ruim para o aspecto emocional, para o entrosamento... Demos chance para alguns jovens, mas isso requer paciência. E o Guiñazú sempre foi importante pela liderança, movimentação, leitura do jogo, vestiário em si. O grupo reconhece o que ele faz e tivemos uma perda grande na Série B que esperamos recuperar - projeta.
AS HONRAS DA CASA
Desde a época de Internacional, qualquer pessoa ao redor em seu dia a dia é tratada com expressões como "ídolo", "monstro" e "gênio" - ou então, "profê" para se referir ao treinador. Mas o vocabulário não se limita a isso. Na hora de ajudar os estrangeiros ou de enturmar os novos jogadores, quem faz as honras da casa é Guiñazú, sempre com rituais descontraídos.
- Num plantel, é fundamental e necessário ter alguém como Guiñazú. Até pelo que faz fora do campo. Ele traz tudo de positivo para a equipe em campo, e algumas coisas a torcida não vê. O esforço e o compromisso com a camisa que defende são difíceis de encontrar. Esse tipo de atitude é fundamental para contagiar o resto nos momentos difíceis - destacou Martín Silva.
Tímido, o paraguaio Aranda foi um dos que mais se benficiou do interesse do amigo.
- Ele foi a pessoa que falou muito com os outros para me ajudar e explicou de que forma eu gostava de jogar. Ele é uma grande pessoa, e é um grande jogador. Ele também jogou no Paraguai, no Libertad, e além de tudo é um amigo também - disse o volante reserva, de 29 anos.
Com um olhar diferente, Guiñazú explicou a razão de sua preocupação.
- O jogador tem que se sentir em casa na hora em que chega. Não pode esperar, ter dúvidas. No nosso grupo não dá para esconder nada, todos têm voz e participam. Quando mais rápida a adaptação, o resultado vem logo no campo. Para mim, são grandes detalhes.
PASSADO COMO CAMISA 10
Nos dois jogos-treino que fez durante a Copa, contra Atibaia e Guarani, o time titular foi pouco ameaçado devido a um bom rendimento do sistema defensivo. Correndo para todos os lados, o argentino não economizou nos carrinhos e chegou a levar bronca da arbitragem. Por outro lado, evitou que a discussão de Fabrício com Leleco, do Bugre, tivesse consequências. Vez por outra, investiu no ataque e carregou a bola até dentro da área - coisa rara de se ver em seu estilo.
Até 2002, porém, ter a responsabilidade de armar as jogadas e bater faltas com a canhota era comum na carreira de Cholo. Ele revelou recentemente que se formou nas categorias de base do Newell´s Old Boys com liberdade para criar. Até que o técnico Andrés Rebottaro, conhecido como Tito, o puxou no canto e disse que só teria um futuro de sucesso se aprendesse a marcar.
- Nessa época eu só queria jogar para a frente e não roubava a bola de ninguém, amigo (risos). Virei volante já com uns 23 anos, como muitos aí que se adaptaram ao que o futebol te exige. Ainda gosto de sair para jogar, apesar de minhas características serem voltadas para a marcação. E claro que com o tempo perdi um pouco da mobilidade. Penso assim: um drible te dá moral, mas dois desarmes dão muito mais. Pega uma confiança incrível - acredita.
Do Newell´s, onde fez cinco gols no time principal, foi para o Perugia, da Itália, e estabeleceu a carreira. Retornou para a Argentina com moral, jogou na Rússia, no Paraguai e virou ídolo do Colorado por cinco temporadas. Chegou à seleção, mas acabou ficando fora das Copas de 2010 e 2014. O Vasco, com o qual tem contrato até 2015, pode ser o fim de uma carreira exemplar.
Fonte: GloboEsporte.com