Rodrigo Caetano critica metodologia de base e vê reflexo na Copa do Mundo

Domingo, 13/07/2014 - 10:06
comentário(s)

O desempenho do Brasil na Copa do Mundo, marcado pela goleada sofrida para a Alemanha na semifinal, virou tema de discussão em diversas esferas do futebol. O aprofundamento da questão após a terceira competição sem título passa, entre outros assuntos, pela condução do trabalho nas categorias de base e o desenvolvimento técnico dos jogadores. Com experiência na área, o diretor executivo do Vasco, Rodrigo Caetano, clama pela revisão da metodologia e da legislação, para que os clubes estejam mais protegidos e os interesses de mercado não prevaleçam na hora da formação.

- Tenho falado sobre duas coisas que estão mais do que na hora de se rever. Pensa-se e fala-se muito na estrutura física, mas precisamos melhorar a metodologia e filosofia. Temos um problema grave de legislação na formação dos jogadores para o clube. E acredito que deve ser rediscutida a questão da federações, com mais cargos técnicos preenchidos nesse organograma. Deixar um pouco de lado a política e olhar para o lado técnico. Aí vamos começar a recuperar o que somos bons. Os garotos têm sua formação interrompida e muitas vezes não dão retorno técnico, apenas financeiro, quando acontece. Os clubes têm que ter proteção para preservar seus valores. A formação precisa ter início, meio e fim. E muitos são negociados antes de vivenciar isso.

O reflexo, para Caetano, é o que efetivamente o país representa no exterior, com poucos craques e muitos coadjuvantes vagando pela Europa em busca de aprender o que ficou para trás.

- Nossos atletas eram protagonistas, hoje não são mais. Tem a ver com a formação plena que não houve aqui e aí enfrenta dificuldades lá fora, demora a se adaptar. Não pode o Felipão ser execrado dessa forma. A responsabilidade é dele? De forma nenhuma. A Alemanha é um exemplo, mas não porque ganhou de sete. Copiar não é feio. Os jogadores lá vêm em um processo de qualificação de nível elevado. Ficam no Bayern de Munique, no Borussia, no Schalke... A Liga é forte e é uma escola de trabalho a ser seguida - ressaltou.

Ex-meia de certo destaque na década de 90, o dirigente vascaíno lembra que, na época, seu objetivo era ser profissional no clube que o revelou e criticou a obsessão exclusiva pela parte financeira.

- Quando comecei, só pensava em ser jogador do Grêmio e assinei meu primeiro contrato aos 20 anos. A fidelidade ao clube formador está cada vez mais escassa. Ao invés de treinar e jogar, os objetivos extras são maiores. Claro que o dinheiro é importante, é legítimo, mas tudo tem sua etapa e isso acaba mudando o rumo e atrapalha a própria longevidade na questão financeira.

Para Rodrigo Caetano, os caminhos corretos estão à mesa, mas discute-se e promete-se muito no Brasil, quando, entretanto, a prática não vê resultados. A chegada entre as melhores seleções do mundo na Copa foi devido à qualidade que resta e à força da torcida.

- Há um somatório de coisas, e o Brasil sempre se superou. Torcedor estava junto, muitos jogadores têm excelente nível para avançar de fase. Mas no campo montamos e desmontamos estratégia em segundos. É olhar para a frente e tirar como lição. Não o resultado, mas a discussão. Quando se fala de leis, quem foi procurado? Técnicos, executivo, atletas? Não. Os próprios atletas tiveram que criar um movimento para serem ouvidos. Nós dependemos disso aqui. Quem acaba legislando é que não milita no futebol - lamentou.

Sondado pela CBF em sua primeira passagem por São Januário, ele não nega o sonho de contribuir com o país, mas evita se promover com a opinião. Enquanto isso, depois de dois anos no Fluminense, vê o Vasco em melhores condições para formar do que quando se afastou. No elenco atual, há dez jogadores da casa, e pelo menos cinco sendo utilizados com frequência.

- Houve avanço, sim, o Vasco vem formando bem. Se algum vai ser um possível craque, isso é outra coisa. Mas precisamos ter o processo final da formação. Claro que temos uma reserva de mercado pela situação do clube, mas a intenção é desenvolvê-los por completo.

Recentemente, o Cruz-Maltino sofreu com perdas de promessas por não pagar em dia ou ter sido vítima da legislação. O caso mais emblemático é o do meia Matheus Índio, que depois de voltar da seleção sub-17 cobrou seus direitos e vem travando batalha judicial com o clube. Já o volante Danilo foi vendido aos 17 anos a investidores que o repassaram ao Braga, de Portugal. Outro exemplo é Marlone, que depois de se destacar por seis meses, foi negociado com o Cruzeiro.

Fonte: GloboEsporte.com