O Jornal da Globo encontrou, no sul de Minas Gerais, uma relíquia da final da Copa de 1950, no Maracanã. As traves de madeira do Maracanazo, que muitos consideram amaldiçoadas, ainda existem.
Uma exposição para homenagear um vilão e uma relíquia, conhecida por seu infortúnio. “É que elas eram consideradas amaldiçoadas, que o Brasil perdeu a Copa do Mundo em decorrência das traves”, diz o contador Célio Sales Sobrinho.
A exposição sobre a vida de Barbosa, goleiro da seleção em 1950, foi organizada em Muzambinho, no sul de Minas Gerais. Ali pode estar um pedaço da história do “Maracanazo”.
Os moradores da cidade garantem que, na Copa de 1950, o goleiro estava debaixo das traves de madeira que foram para a cidade no início da década de 60. Seriam relíquias daquela tragédia nacional.
Na final contra o Uruguai, Barbosa não conseguiu evitar o gol que silenciou 200 mil vozes no Maracanã. Na cidade de Muzambinho, com 20 mil habitantes, todos conhecem a história das balizas que marcaram aquele jogo.
“No Rio de Janeiro, havia uma corrente muito forte para tirar as traves quadradas fossem jogadas fora”, lembra Célio Sobrinho.
“O seu Urias de Oliveira, que era um diretor da ADEM, que era o órgão que administrava o Maracanã na época. E esse seu Urias era cunhado do prefeito da cidade”, conta o aposentado Amir Aquino.
O prefeito de Muzambinho (MG) na época, Joaquim Teixeira Neto, teria convencido Urias de Oliveira a doar as traves ao município mineiro. O encarregado de buscar a relíquia foi o seu Geraldo, de 85 anos.
“Levei uma carga como os queijos que eu levava para São Paulo. Depois que eu fiquei sabendo”, lembra o motorista Geraldo Tardelli.
As traves foram instaladas no Estádio Municipal Antonio Milhão. A inauguração foi contra o Olaria, do Rio de Janeiro, em um jogo conhecido como o “Maracanazo de Muzambinho”. O resultado foi 12 a 0 para o Olaria. “A trave não deu sorte nem para a seleção brasileira e nem para nós”, recorda o aposentado Amir Aquino.
As traves resistiram mais alguns anos e, depois, foram aposentadas. Nessa história, não poderia faltar uma polêmica: alguns livros relatam que Barbosa teria, na verdade, queimado as traves como lenha de churrasco. “Você acha que ele iria fazer churrasco com as traves? Para quê”, questiona o seu Geraldo Tardelli.
“Eu acho que ele falou para exorcizar essa história, eu acho que ele não queimou as traves”, explica Tereza Barbosa, filha de Barbosa. Ela cedeu fotos do acervo dela e peças para exposição. Tereza já conhecia a história das traves de Muzambinho, mas nunca tinha ido até a cidade para ver o material.
Dessa vez, ela teve a oportunidade. “É como se eu estivesse perto dele de novo. Meu anjo negro”, ela diz emocionada à memória do pai.
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Fonte: G1