Herdeira de Barbosa põe à venda pedaço de suposta trave da Copa de 1950 para custear homenagem ao goleiro

Segunda-feira, 09/06/2014 - 14:34
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São 64 anos entre as duas Copas no Brasil. Tempo suficiente para personagens e detalhes caírem no esquecimento. Menos Barbosa. O ex-goleiro passou a vida como culpado pela derrota na final de 1950. Uma imagem que sua herdeira quer mudar. Ela prepara uma exposição que reconta a carreira do goleiro, marcada por muitas glórias e títulos. Mas uma trave está no caminho do que ela considera seu maior gol. Por ironia, a baliza que, supostamente, é a da partida que mudou a vida do arqueiro.

Tereza Borba cuidou de Barbosa em seus últimos oito anos de vida (ele era viúvo e sem filhos) e agora está vendendo um pedaço, de cerca de 10cm, da trave de madeira que diz ter sido usada na final entre Brasil e Uruguai. O objetivo é levantar fundos para custear a exposição e pagar a concepção de uma estátua do goleiro, que também será exposta.

Se conseguir o dinheiro, a mostra terá início no dia 9 de julho, em Praia Grande, litoral de São Paulo, onde o ex-jogador do Vasco e da seleção passou os últimos anos. Mas ela evita divulgar valores.

— Eu moro em casa normal, sem segurança. Tenho medo de despertar a atenção de ladrão, gente mal-intencionada — explica.

Na exposição, fotos, réplicas de camisas e faixas de campeão, além da estátua, serão exibidas para lembrar ao público que a carreira de Barbosa não se resume ao gol de Ghiggia. O ex-goleiro ganhou seis Estaduais com o Vasco (inclusive o de 1950, o primeiro título de clubes no Maracanã) e o Sul-Americano de 1948. Com a seleção, ainda venceu a Copa América de 1949.

Independentemente do êxito de Tereza, Barbosa já é tema de uma exposição em Muzambinho (MG). Na cidade, é dado como certo que as traves originais do Maracanã foram parar lá e hoje estão expostas, junto a fotos e a alguns pertences do jogador, na Casa de Cultura local.

Se a Copa de 1950 fez de Barbosa vilão, a de 2014 pode vivenciar o resgate de sua imagem. Um gol da memória, com ajuda da trave.

Traves cercadas de mistério

As balizas expostas em Muzambinho são cercadas de mistério. Indagado sobre o destino das traves da Copa, Barbosa disse a um jornalista que as queimou num churrasco. A história veio à tona no livro “Queimando as traves de 50”, de Bruno Freitas, lançado em 2003. Como pode, então, as balizas estarem em Minas Gerais?

— Quando disse aquilo, foi como se o Barbosa estivesse exorcizando um fantasma. Ele contou isso só para as pessoas pararem de perguntar sobre as traves. No meu modo de entender, foi da boca para fora — explica Tereza.

A história contada em Muzambinho é diferente da de Barbosa. As traves chegaram lá em 1957, como presente de Urias de Oliveira, administrador da então Associação dos Estádios da Guanabara, ao prefeito Joaquim Teixeira Neto, seu cunhado.

— O Maracanã estava trocando as traves quadradas para as redondas e elas vieram para o estádio de Muzambinho — relata Célio Sales, cujo pai era treinador do time amador da cidade.

A inauguração chegou a contar com um jogo entre o combinado local e o Olaria. Mas, com o passar do tempo, elas também foram substituídas e rodaram de campo a campo até pararem em uma fazenda no interior de Minas. De lá, só saíram no início do anos 2000, resgatadas pela prefeitura de Muzambinho.

— Nesse período, uma árvore caiu e quebrou uma das traves — afirma Célio.

Para tirar a prova dos noves, um amostra da madeira foi levada à Universidade de Lavras, que ainda não conseguiu identificar o tipo de madeira. O que só aumenta o mistério — e a mística.

Confiança em Julio Cesar e Jefferson

Este ano, o peso de defender a meta verde e amarela dentro de casa está nas mãos de Julio Cesar. Assim como Barbosa, ele já viveu a experiência de ser responsabilizado por uma eliminação. Em 2010, falhou contra a Holanda no jogo que tirou o Brasil da Copa, o que não diminuiu em nada a confiança de Tereza no camisa 12.

— A posição é muito injusta. Caíram em cima dele. Mas continuo torcendo por ele.

Mas nenhum goleiro carrega tantas comparações com Barbosa como Jefferson. Camisa 1, negro, ídolo no futebol carioca... Tantas semelhanças levaram Tereza a tentar contato com ele.

— Este ano fui ao Maracanã gravar uma reportagem e havia um jogo do Botafogo. Fiquei na arquibancada atrás do gol dele. Tão perto. Mas não consegui falar com ele. Queria falar da minha admiração e também pedir ajuda para homenagear o meu neguinho — conta Tereza, usando o apelido com o qual ela se referia a Barbosa.



Fonte: Extra Online