Esquema de policiamento e configuração da Arena Joinville apresentam mudanças desde jogo Atlético-PR x Vasco de 2013

Sexta-feira, 23/05/2014 - 16:34
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Leone Mendes da Silva, conhecido por usar uma barra de ferro numa briga entre as torcidas de Vasco e Atlético-PR, em dezembro de 2013, desta vez não vai estar na Arena Joinville. Sequer poderá assistir pela televisão ao retorno do Cruz-Maltino à cidade do Norte de Santa Catarina, neste sábado, agora para enfrentar o time da casa e sem a pressão de um rebaixamento iminente. Quando o Vasco entrar em campo a partir das 16h20 (de Brasília) deste sábado, pela sétima rodada da Série B do Campeonato Brasileiro, Leone e outros quatro integrantes da organizada "Força Jovem" precisarão estar em uma delegacia para cumprir a medida cautelar de suas liberdades provisórias, garantidas até a realização do julgamento pela briga generalizada com a torcida do Atlético-PR em 8 de dezembro do ano passado.

A mesma coisa acontece em dias de jogos do Furacão com os 23 torcedores detidos da maior uniformizada do clube, "Os Fanáticos" - outros três ainda estão foragidos: Anderson Barbalho Cavalcante Batista, Caique Matheus Pereira Soares e Marcelo de Souza Oliveira. De todos os 31 condenados na operação “Cartão Vermelho”, comandada pelas polícias de Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina, não há mais nenhum preso - eles respondem a três processos: dois por tentativa de homicídio e um por lesões corporais. Cinco meses e 15 dias depois de cenas de violência num estádio de futebol correrem o mundo às vésperas de uma Copa do Mundo no Brasil, Joinville agora se resguarda para evitar novos danos à imagem da cidade e do país.

Em reunião no município na última terça-feira, ficou decidido que o policiamento estará reforçado. Se no último Atlético-PR x Vasco a Arena Joinville contava só com cerca de 90 seguranças particulares - a ausência da PM se deu por conta de um imbróglio com o Ministério Público de Santa Catarina -, agora serão aproximadamente 100 policiais e mais outra centena de profissionais privados contratados para a ocasião. O número total é equivalente ao do primeiro jogo da final do Campeonato Catarinense, entre Joinville e Figueirense. Fora do estádio, haverá ainda dois postos da Polícia Civil (geralmente um só é utilizado nas partidas) para controlar o acesso do público. O Instituto de Trânsito local também vai atuar no entorno. Convidados, representantes da filial da "Força Jovem" na região não compareceram ao encontro, mas nada que preocupe a polícia.

- Teremos uma estrutura de policiamento diferenciada especificamente para cuidarmos dos torcedores que virão de fora. Eles terão um acesso exclusivo e policiado. Na realidade vamos tratar isso como fazemos em todos os jogos, mas com mais cautela, até devido ao histórico do jogo em dezembro que todos sabem o que aconteceu. Mas a diferença é que a torcida do Vasco nos procurou há duas semanas. Eles se comprometeram, e tudo vai ocorrer para que tenhamos um belo espetáculo e para apagar o que aconteceu - explicou o major Joffrey dos Santos Silva, do 8º batalhão da Polícia Militar de Joinville, revelando também um acordo com a "União Tricolor", organizada do Joinville.

A torcida do Vasco terá direito a 1.800 dos 18.000 ingressos à venda para a partida, o que equivale aos 10% da cota de visitante prevista pelo Regulamento Geral de Competições da CBF. Mas ainda não é certo que vascaínos do Rio de Janeiro vão viajar para acompanhar a partida. Segundo o major Joffrey, a PM de Joinville tem mantido contato com representantes de organizadas do Cruz-Maltino na capital carioca para saber o número de torcedores que vão ao jogo e planejar a escolta. Porém, ele disse que há um receio no ar para a viagem.

- Nosso grupo está em contato com eles para saber se realmente vêm. Eles estão preocupados com a recepção aqui em Santa Catarina, mas nosso pessoal já os tranquilizou em relação a isso.

A conta dos prejuízos na Arena Joinville após a confusão foi calculada em R$ 12 mil. A fundação municipal de esportes e a prefeitura da cidade fizeram um acordo para que o local não seja mais alugado para Vasco, Atlético-PR e demais clubes que tenham histórico de violência nas torcidas. De acordo com Fernando Krelling, presidente da Fundação de Esportes, Lazer e Eventos de Joinville (Felej), chegou a ser cogitado pela filial da "Força Jovem" da região uma campanha de marketing para pedir paz nos estádios, mas a ideia não foi para frente.

- Era o núcleo do Vasco em Joinville que estava organizando, mas eles mandaram um email avisando que não conseguiram agilizar isso.

Os vascaínos que decidirem retornar à Arena Joinville vão encontrar o estádio com algumas diferenças que foram promovidas para evitar cenas como as do ano passado. Entre as reformas para melhor atender a torcida visitante, foi reforçada a grade de separação do público na arquibancada. Arame e ferros pontiagudos foram implantados na parte de cima, impedindo que alguém tente pular de um lado para outro. Além disso, o estacionamento para os visitantes teve sua capacidade ampliada de 700 para 1.700 veículos, e quatro novas bilheterias foram abertas para evitar o contato com os torcedores do clube mandante.

PUNIÇÕES E PROBLEMAS CURIOSOS NA JUSTIÇA

A decisão que deixou os detidos pela confusão de 2013 em liberdade provisória desde que eles cumpram as medidas cautelares é da juíza Karen Francis Schubert Reimer, da 1ª Vara Criminal de Joinville. Segundo a determinação, todos os réus do caso estão proibidos de sair de suas cidades por mais de oito dias sem autorização judicial e de chegar a 500 metros de qualquer evento esportivo no Brasil. Eles devem se apresentar a qualquer delegacia do país durante jogos de seus respectivos times, independentemente de a partida ser realizada em outros estados ou países. E quando os compromissos do Vasco forem no Rio de Janeiro, e do Atlético-PR, no Paraná, a presença perante os policiais é obrigatória com duas horas antes de a bola rolar até duas horas depois do encerramento da disputa. O comparecimento deve ser certificado por um delegado ou outra autoridade policial, num prazo de cinco dias e em formato de certidões a serem incluídas no processo, sob pena de serem presos novamente em caso de descumprimento. Só que este tipo de confirmação vem causando problemas para a Justiça.

Até o fim do mês passado, muitas certidões de torcedores do Atlético-PR continham erros e outras sequer haviam sido apresentadas. Entre eles, casos curiosos, como de Ricardo Henk, que apresentou para três jogos em março certidões datadas de 6 de janeiro, período em que o acusado ainda estava preso. Outra situação incomum aconteceu com Juliano Borghetti, ex-vereador de Curitiba. As certidões podem ser em papel ou digitalizadas, só que as apresentadas pelo torcedor para duas partidas da Libertadores e duas da fase final do Campeonato Catarinense estavam ilegíveis, segundo a juíza responsável. Ela, porém, em contato por email com a reportagem do GloboEsporte.com, informou que essas pendências já foram solucionadas e que, por enquanto, não há outras irregularidades.

No Paraná, foi criada há dois anos a Delegacia Móvel de Atendimento ao Futebol e Eventos (Demafe), e é lá que a maioria dos condenados do estado se apresenta em dias de jogos do Atlético-PR. Segundo comunicou a assessoria de imprensa da delegacia, 17 torcedores do Furacão estão comparecendo regularmente ao local e não há reclamações de mau comportamento. No Rio de Janeiro não há uma delegacia especializada para casos esportivos, mas a juíza responsável pelos processos em Joinville informou que as certidões dos vascaínos têm sido apresentadas corretamente. Advogado de Leone Mendes da Silva, o torcedor que empunhou uma barra de ferro na briga, Marcio da Mata Vicente também garantiu que está enviando regularmente o documento que comprova a presença de seu cliente em uma delegacia durante partidas do Vasco. Porém, disse fazê-lo só quando o time joga no Rio de Janeiro.

- Sempre quando o Vasco joga na cidade, se apresenta. Fora penso que não (precisa) - disse o advogado, que segundo a decisão da 1ª Vara Criminal de Joinville passou a também defender judicialmente outro vascaíno do processo, Arthur Barcelos Lima Ferreira, quando a então advogada responsável, Bianca Vieira, renunciou no dia 19 de março. No entanto, ele por enquanto só vem cuidando do caso de Leone.

As medidas cautelares valem até o dia do julgamento do caso, que no momento se encontra em fase de ouvir as testemunhas - o fato de as testemunhas de outras cidades e estados deporem por meio de carta precatória faz com que o procedimento seja mais demorado. Mas o processo já está atrasado. O recebimento da denúncia ocorreu no dia 19 de dezembro e, desde então, já se passou o limite de 120 dias previsto no artigo 400 do Código de Processo Penal. Em comunicado judicial, a juíza responsável justificou o atraso "em razão da pluralidade de acusados, combinados com a decretação da greve dos agentes penitenciários do Estado, ocorrida no último mês de abril".

Além dos processos que correm em Joinville, as torcidas "Força Jovem" e "Os Fanáticos" também foram punidas pelo Ministério Público. O MP do Paraná baniu a organizada do Atlético-PR, que ajudou a polícia na identificação dos baderneiros, com seis meses fora dos estádios - pena que chegará ao fim em junho. Já o MP do Rio de Janeiro proibiu a presença da uniformizada do Vasco por um ano dos jogos de futebol. Durante esses períodos, os membros dessas torcidas só podem ir às partidas sem objetos que identifiquem as organizadas. Por meio de sua assessoria de imprensa, o MP-RJ informou que um grupo da "Força Jovem" chegou a ser detido em abril ao tentar entrar em um estádio e foi solto logo depois. O jogo em questão não foi revelado.

Na esfera desportiva, Vasco e Atlético-PR não escaparam de sanções por conta da briga de suas torcidas. O Cruz-Maltino perdeu seis mandos de campo, sendo três sem torcida, e foi multado em R$ 50 mil. Já o Furacão perdeu o mando de nove partidas, quatro com portões fechados, e levou multa de R$ 80 mil. Os dois clubes ainda cumprem as punições.

CASO LEONE E A POLÊMICA NAS REDES SOCIAIS

Autor da cena mais chocante da confusão na época, ao aparecer em imagens usando uma barra de ferro para atingir um torcedor rival, Leone Mendes da Silva deixou a prisão em Joinville no dia 19 de março. Logo depois, sua página no Facebook voltou a ser atualizada e, nela, posts comemorando a liberdade sem sinais de arrependimento, enquanto outros torcedores manifestaram apoio ao companheiro na rede social.

- Muitos me criticaram, mas não sabem o que passamos pelos nossos maiores amores. Mas vou deixar uma frase para os recalcados filhos das p...: os fracos não fazem história, mas sim os valentes. Chupa” - dizia a mensagem postada no dia 7 de abril.

Preocupado com o fato de as declarações na rede social prejudicarem seu cliente no julgamento, o advogado Marcio da Mata Vicente disse que ligou para Leone. Dele, ouviu que os posts foram publicados por outra pessoa.

- Perguntei se ele estava postando essas coisas, mas ele disse que não. Foi atrás para ver e descobriu que haviam hackeado o Facebook dele. Alguém mexeu se passando por ele. Ele disse que não fez nada disso.

Atualmente o perfil de Leone não é mais encontrado no Facebook. O advogado desconhece uma eventual exclusão da página virtual, mas defende que seu cliente se conscientizou e que cumpre sua punição sem reclamar.

- Rapaz novo, trabalha, sustenta a mãe. Foi fatalidade. Até porque tem que cumprir, não pode reclamar. Ele sempre está disposto, nunca reclamou de nada.

Mudanças na Arena Joinville:

- Grade que separa as torcidas na arquibancada reforçada com arame e ferros pontiagudos

- Quatro novas bilheterias exclusivas da torcida visitante, longe das destinadas ao mandante

- Capacidade do estacionamento para os visitantes ampliada de 700 para 1.700 veículos

Medidas cautelares:

- Proibição de sair por mais de oito dias da cidade onde mora sem autorização judicial

- Obrigação de manter sempre o endereço pessoal atualizado junto ao processo

- Proibição de comparecer às proximidades de estádio (500 metros), assim como a qualquer evento esportivo

- Apresentar-se e permanecer em delegacias por duas horas antes e duas horas após os jogos de Vasco e Atlético-PR

Fonte: GloboEsporte.com