Cinco meses após ser rebaixado e presenciar cenas de barbárie na arquibancada da Arena Joinville (SC), o Vasco retorna ao local de lembranças dolorosas, desta vez para enfrentar a equipe da cidade, o Joinville, pela Série B, num cenário bem diferente e muito mais seguro do que aquele de 8 de dezembro de 2013.
No jogo deste sábado, diferentemente do que ocorreu naquela ocasião, haverá policiamento militar, e ele será ostensivo, tanto na parte interna quanto na externa, além da escolta que acompanhará os ônibus das torcidas.
Ano passado, na partida com o Furacão, o duelo foi respaldado pelo Ministério Público para ocorrer sem a PM, somente com seguranças particulares, que nada fizeram quando a simples corda que dividia as torcidas foi atropelada por vândalos. Desta vez, os visitantes, no caso, os vascaínos, ficarão isolados por uma grade.
Na época, a prefeitura chegou a declarar que não mais receberia jogos de Vasco e Atlético-PR na cidade e, mesmo mudando de opinião e aceitando a partida, há um ambiente de preocupação na população com a presença dos cruzmaltinos.
Nos dias que antecedem o duelo, há uma cautela e uma orientação ostensiva para que atletas e comissão técnica do Vasco mantenham um discurso ameno, sem se prolongar muito nos episódios lamentáveis daquele dia.
Técnico do time de São Januário, Adilson Batista acredita que o clima será outro.
"Não posso ficar com essa lembrança negativa. É um estádio muito bom, uma Arena construída recentemente. O Joinville não era o adversário naquele momento, não existe rivalidade. A cidade é bonita, o povo é acolhedor, e a torcida do Vasco com certeza vai voltar e ser bem tratada. Vamos esquecer aquele episódio", decretou.
O meia Pedro Ken, que viveu um drama ainda maior pelo fato dos seus pais estarem na arquibancada, também preferiu colocar "panos quentes" no que aconteceu.
"Meus pais estavam lá, foi complicado mesmo, mas agora é tudo diferente, outro campeonato. A maioria do grupo mudou, o astral é diferente e esperamos que possa dar tudo certo para buscar o resultado positivo", disse.
No dia 8 de dezembro de 2013, Vasco e Atlético-PR se enfrentaram pela última rodada do Campeonato Brasileiro. O Cruzmaltino brigava para não cair e o Furacão, por uma vaga na Libertadores.
Ainda no primeiro tempo, uma briga generalizada na arquibancada paralisou a partida, numa das cenas mais chocantes do futebol brasileiro. Quando o jogo foi retomado, os paranaenses venceram por 5 a 2, rebaixaram os cariocas e se classificaram para a competição sul-americana.
Presos estão em liberdade
O total da pancadaria teve 25 presos, entre vascaínos e atleticanos. No fim do mês passado, porém, os últimos dois que estavam detidos ganharam liberdade provisória.
Todos eles receberam as mesmas penas enquanto aguardam o julgamento em liberdade: não poderão deixar as cidades onde moram por mais de oito dias sem autorização prévia, além de ficarem proibidos de se aproximar de estádios e eventos esportivos e terem de comparecer em delegacias durante os jogos de Atlético-PR e Vasco.
Do lado paranaense, um dos presos era o ex-vereador de Curitiba Juliano Borghetti (PP), coautor de um projeto de lei ao qual os torcedores deveriam ser identificados antes de entrar nos estádios.
Sem sinais de arrependimento
Conforme os brigões foram deixando a cadeia em Joinville, as organizadas de seus respectivos clubes iam comemorando sem mostrar qualquer arrependimento. Atleticanos e vascaínos, em suas mídias oficiais, enalteceram e demonstraram orgulho pelo episódio.
Leone Mendes da Silva, que proporcionou as cenas mais chocantes ao bater na cabeça de um homem inconsciente com uma barra de ferro, chegou a se vangloriar em sua rede social tão logo ganhou a liberdade e retornou ao Rio de Janeiro:
"Os fracos não fazem história mas, sim, os valentes...Se arrepender jamais".
Ameaças de morte
De acordo com apuração do UOL Esporte, os três primeiros presos na barbárie, os vascaínos Leone Mendes da Silva, 23 anos, Arthur Barcelos de Lima Ferreira, 26 anos, e Jonathan Santos, 29 anos, sofreram ameaças de morte de outros presos nos três dias que ficaram detidos no Presídio Regional de Joinville. Após tomar ciência do fato, as autoridades resolveram transferi-los para a Penitenciária Industrial de Joinville, onde ficaram isolados.
Na ocasião, a Justiça classificou a transferência apenas como uma "medida de segurança".
Hospitalizados ficam sem sequelas
Na briga generalizada, quatro torcedores deixaram a Arena Joinville de helicóptero e foram hospitalizados, mas ambos, posteriormente, receberam alta e não apresentaram sequelas. Dois deles tiveram fratura no crânio.
Organizadas suspensas
Como punição pelas cenas de horror, as organizadas "Os Fanáticos", do Atlético-PR, e "Força Jovem", do Vasco, foram suspensas dos estádios do Brasil. Os paranaenses pegaram um gancho de seis meses, já os cariocas, um ano, por serem reincidentes. Eles estão proibidos de frequentas os jogos com faixas, camisas, bandeiras e instrumentos.
Clubes punidos
Atlético-PR e Vasco tiveram punições grandes que acabaram depois sendo reduzidas pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).
O Furacão, por ser o mandante, havia recebido a pena de 12 jogos em seu estádio, sendo seis com portões fechados e os outros a 100km de Curitiba. Posteriormente, o gancho foi diminuído para nove jogos, sendo quatro sem a presença de torcedores.
O Cruzmaltino tinha sido punido com oito partidas, sendo quatro com portões fechados, mas acabou ficando com seis jogos, sendo três sem torcida e os outros três, a 100km do Rio.
Fonte: UOL