O futebol americano não para de crescer no Rio. Após a criação de times masculinos — Vasco da Gama Patriotas, Flamengo Futebol Americano e Botafogo Reptiles, que disputam o Torneio Touchdown, no qual é necessário usar capacete e todo o equipamento de segurança típicos da National Football League, a NFL, agora é a vez das mulheres.
Um grupo de pioneiras formou o time do Cariocas Futebol Americano (FA), que vai represenar o Estado do Rio no primeiro torneio nacional da modalidade, no estilo full pad, isto é, com capacete e todo o equipamento de segurança necessário, no melhor padrão americano. O Cariocas vai estrear no Torneio End Zone, organizado pela Liga Feminina de Futebol Americano (Lifefa), no dia 25 de maio, em Aracaju (SE), contra o time da casa, o Confiança Alfa. Mais duas equipes participam do quadrangular: o Angels, de Cuiabá, e o Amazonas, de Brasília. A liga já está no facebook: https://www.facebook.com/liga.lifefa.
Para a formação do primeiro time feminino full pad do Rio, juntaram-se as atletas das três equipes de futebol americano de areia da cidade: Botafogo Flames, Fluminense Guerreiras e Vasco Big Riders. Para a jogadora Juliana Viana, do Botafogo Flames, a realização deste torneio feminino, é a realização de um sonho de alguém que está nesta modalidade desde 2005.
— Comecei a treinar na Barra, em 2005, no time feminino do Mamutes, que era originalmente uma equipe masculina. Eu jogo como tight end, no ataque, e meu número é o 44 — contou ela, explicando como se pode obter o equipamento de segurança. — Algumas meninas importam direto dos Estados Unidos ou pedem para trazer de lá. Também se pode comprar em uma importadora no Brasil ou comprar de segunda mão de algum jogador do masculino. Os shoulder pads (ombreras) são iguais, mas alguns têm uma curvatura para proteger os seios. Algumas meninas jogam com o shoulder pad masculino, e eu, particularmente, uso o que tem tamanho para a adolescentes.
Segundo Juliana, o futebol americano feminino vem se desenvolvendo no Rio nos torneios de praia, em que há equipes não de 11, mas de nove jogadoras cada. Agora, com a soma de três times, formou-se uma espécie de seleção do Rio:
— É muito legal, a realização de um sonho. Jogar futebol americano, 11 contra 11, na grama, é um sonho, até porque criamos este time do Cariocas e pela fundação da Lifefa. Eu já estava pensando em parar de jogar, mas agora isso me dá forças para continuar.
Outra integrante da equipe é Natália Andrade, que vai completar uma década de futebol americano no próximo mês de junho. Em 2004, ele havia começado a jogar nas areias de Saquarema, no antigo Saquarema Big Riders, que há dois anos vem atuando como Vasco Big Riders. Segundo ela, que tanto pode jogar como linebacker (defensora), como de full back (no ataque), a realização deste quadrangular organizado pela Lifefa é uma evolução. Conforme calcula, as equipes têm atraído mais atletas. Entre as equipes de praia, o Fluminense Guerreiras tem 40 meninas, o Vasco Big Riders, 25, e o Botafogo Flames, 20.
— Treinamos na Quinta da Boa Vista, aos domingos, às 9h, e na Praia de Copacabana, na altura da Rua Siqueira Campos, todos os domingos, às 16h. Estamos desenvolvendo tanto a modalidade em grama quanto na areia. E quem quiser, basta chegar lá — convidou Natália, antecipando que o Estadual feminino deverá ocorrer no segundo semestre.
Indagada se sofre com preconceito por participar de uma modalidade considerada violenta, Natália se livra disso com facilidade.
— Quando comento com alguém que pratico este esporte, muitas pessoas, homens e mulheres, acham que é violento, ou que as meninas têm opções sexuais diferentes. Mas não é assim. Eu digo a elas que jogo futebol americano, porque gosto e que há outros esportes mais complicados — afirmou ela, que também joga rúgbi no Guanabara, de Botafogo. — No caso aqui do Rio, os grupos masculino e feminino de futebol americnao têm-se tornado mais unidos, mais próximos, tanto que atletas do masculino têm nos ajudado nos nossos treinos.
Desde janeiro, as atletas vêm treinando em todos os fins de semana para a competição. E, como disse Natália, o Cariocas conta com a ajuda de alguns jogadores dos times masculinos, que aceitaram o desafio de comandar o grupo na competição. Caso por exemplo de Leduc Fauth, jogador do Vasco da Gama Patriotas e head coach (técnico principal) do Cariocas FA.
— Achei muito boa a iniciativa das meninas de montar uma equipe full pad para representar o Rio de Janeiro em campeonatos nacionais. Temos ótimas jogadoras no Rio e o desafio começa por se montar uma equipe que mistura atletas de vários times rivais da praia, o que acaba lembrando um pouco a trajetória do masculino. O resultando vem sendo muito positivo, apesar dos problemas de incompatibilidade de horário de todos nós, e esperamos um resultado à altura do nosso esforço. Temos um grupo unido e focado — destacou Fauth. — Resolvi ajudar por três motivos. Primeiro, porque gosto de ajudar quem está interessado em evoluir no esporte. Depois, as meninas são mais dedicadas, determinadas e aplicadas que os homens, o que acaba estimulando o trabalho. Por fim, acho que o grupo tem potencial e acredito que vamos ter um ótimo desempenho. Acho que o caminho do Futebol Americano Feminino Full Pad está traçado e esse torneio certamente será um marco na modalidade feminina.
Para o coordenador defensivo André Cappelletto, que joga pelo Flamengo, o Cariocas FA é um time extremamente talentoso:
— Todas as meninas têm técnica e habilidade atlética de causar espanto em muito marmanjo que acha que o futebol americano é só para homens. Entretanto, temos uma certa limitação quanto ao número de jogadoras e, por isso, temos algumas restrições no plano de jogo por questões físicas. Mas quem acha que isso seria um ponto fraco está enganado. Todas elas treinam muito forte e estão bastante confiantes para o torneio. Seja masculino ou feminino, todo time de futebol americano do Rio de Janeiro entra em campo para vencer e com elas não vai ser diferente. Temos um ataque muito versátil, que vai dominar as adversárias e uma defesa sólida que promete bater muito em quem estiver com a bola. Como as meninas gostam de falar, a partir de 25 de maio é chinelada nelas.
Após a partida de abertura em Aracaju, o Cariocas FA vai enfrentar o Angels em Cuiabá, no dia 14 de setembro, e vai receber o Amazonas brasiliense no Rio, no dia 19 de outubro, em estádio ainda a ser determinado. De acordo com o regulamento, as duas primeiras colocadas vão para a grande final, que será realizada no dia 22 de novembro, em local também a ser definido.
Fonte: O Globo Online