Parreira confirma que Dener poderia ter jogado a Copa de 1994: 'Era a sensação do futebol brasileiro. Tinha chances de integrar o grupo'

Domingo, 20/04/2014 - 00:53
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O bigode ralo, as canelas finas e a camisa larga no corpo mirrado de 1,68m e 60 kg não escondiam a linhagem nobre. “Ele foi melhor do que o Robinho e do nível do Neymar”, sentencia Pepe, o Canhão da Vila, que treinou Dener na Portuguesa no início dos anos 90. As posições são diferentes. Neymar cai pelos lados do campo; Dener pegava a bola na linha central e ia enfileirando os rivais com dribles em zigue-zague. Era um craque com repentes de Pelé.

Por tudo isso, estava sendo observado por Carlos Alberto Parreira, técnico da seleção brasileira em 1994. "Ele estava no radar. Era a sensação do futebol brasileiro. Tinha chances de integrar o grupo", confirma o atual coordenador da seleção.

Ironicamente, Dener morreu em abril, no dia 19, pouco antes da convocação que definiu os jogadores que acabaram tetracampeões nos Estados Unidos. Sua morte ocorreu após uma reunião entre dirigentes da Portuguesa e do Stuttgart, da Alemanha, para tratar de uma transferência.

Dener costumava dizer que um drible podia ser mais bonito do que um gol. Pela Portuguesa, fez dois de placa, em que mostrou que a finta e o tento podem ser igualmente maravilhosos. Em 1991, marcou o gol mais bonito da história do Canindé. Foi contra a Inter de Limeira, no dia 16 de novembro. Dener recebeu a bola no meio do campo e foi se livrando de vários adversários com dribles desconcertantes até dar um toque sutil por cobertura. O gol valeu uma camiseta comemorativa, criada em 2012, com a inscrição "Reizinho do Canindé".

O outro tento histórico foi marcado contra o Santos, em 1993. O craque driblou três jogadores, além do goleiro Edinho, antes de marcar. O placar terminou 4 a 2 para a Lusa. Nos dois gols memoráveis, o árbitro era Oscar Roberto de Godói. Nesse segundo, ele confessa que deu uma mãozinha. “Eu vi que ele fez a falta no Silva (lateral do Santos), empurrando com o cotovelo. Levei o apito à boca, mas pensei que era um pecado parar um lance daquele”, conta o ex-árbitro. “O Silva veio reclamar, mas falei que ele fazia tanta falta no jogo... A beleza do gol encobriu as outras reclamações. Deixei passar essa pequena irregularidade e o gol entrou para a história”, diz Godoi, hoje comentarista de tevê.

A breve carreira de Dener teve início na Lusa, em 1991. Ele ficou no clube até 1993 e se transferiu para o Grêmio, pelo qual foi campeão gaúcho. No ano seguinte, foi para o Vasco e conquistou a Taça Guanabara. Sempre foi pretendido pelo Corinthians, mas os dirigentes da Lusa se negaram a vendê-lo para o rival. O problema de Dener era a indisciplina. “Quando tinha treino físico, ele sumia. Além disso, as companhias não eram muito boas”, diz Pepe.

Otto Gomes Miranda, que dirigia o carro na hora do acidente fatal, teve as duas pernas quebradas, mas sobreviveu. Dois anos depois, foi assassinado por suspeita de envolvimento com o tráfico de drogas.

Fonte: Estadão