A passagem pelo Flamengo marcou o zagueiro Rodrigo. Não pelo futebol — ele vestiu a camisa rubro-negra apenas quatro vezes —, mas por uma cicatriz de quase 20cm que carrega desde 2008 no braço direito. A grave fratura acabou com sua expectativa de voos mais altos em solo carioca. Os Deuses do futebol, porém, lhe deram nova chance.
Com 33 anos, Rodrigo retornou ao Rio de Janeiro para usar a camisa do arquirrival Vasco e, em menos de quatro meses, se firmou em São Januário — tem o carinho da torcida e é uma das principais referências do time. Agora, diante do mesmo Flamengo, o zagueiro espera alcançar a consagração na cidade. Em entrevista ao ‘Ataque’, o camisa 3 abandona o estilo xerifão, abre o sorriso, lembra a carreira e comemora a boa fase na Colina.
O DIA: Você é sempre visto como uma pessoa séria. Como é fora de campo?
Rodrigo: Não sou um cara tão fechado como muitos acreditam. Sou uma pessoa tranquila, que gosta de brincar, de contar piada e de rir com os amigos. Sou caseiro e gosto adoro curtir a minha família. Não gosto de noitadas, prefiro ir para restaurantes e à praia.
E o que já conheceu no Rio de Janeiro?
Falta conhecer o Cristo Redentor. Até agora tivemos muitos jogos, viagens e deslocamentos. Nos tempos livres prefiro ficar em casa repousando. Mas tenho vontade de ir lá quando sobrar um tempinho. Ao lado do Pão de Açúcar, o Cristo é o lugar que falta. E é o cartão-postal do Rio.
Se considera uma pessoa supersticiosa?
Sou um pouquinho. Não gosto de seguir rituais, mas procuro ficar sozinho antes dos jogos. Também não gosto de conversar. Chego no vestiário ouvindo música para evitar a gritaria na chegada ao estádio e as provocações dos torcedores rivais. Acho que isso ajuda a aumentar a minha concentração.
Esperava ser tão bem recebido pela torcida?
Tem sido muito bacana. Estou muito feliz pelo reconhecimento tão rápido que recebi dos torcedores. Mas o que me deixa mais feliz é o carinho dos vascaínos com todos os jogadores. Não é só comigo. É um reconhecimento ao grupo. Todos estão sendo elogiados pelo esforço em campo.
É o tipo de carinho que você precisava após a sua passagem pelo Flamengo, em 2008, quando foi negociado no início da temporada após quebrar o braço?
Nada aconteceu como eu esperava. Saí do Dínamo de Kiev para defender um grande clube e tinha a seleção brasileira como objetivo. Estava em um momento bom quando vim para o Flamengo, mas quebrei o braço. Se fosse uma lesão no músculo dava para falar que ia melhorar e voltar. Minha alegria voltou apenas no São Paulo, com a conquista do Brasileiro daquele ano. Cheguei a achar que seria difícil esse início no Vasco. Não por mim, pois estava em um bom momento no Goiás, mas por tudo que aconteceu com o clube no ano passado. É um carinho diferente.
Foi a maior frustração da sua carreira?
Foi um momento muito ruim, pois tinha criado muita expectativa. Não queria ter me machucado no início de uma competição. Passei cinco meses frustrado, sentimento que afetou até mesmo minha vida pessoal.
Você encara esse momento no Vasco como a volta por cima no Rio?
Não falo volta por cima. É outro momento. Infelizmente, quando vim para o Rio em 2008, aconteceu esse episódio e não deu para jogar. Agora estou aproveitando o máximo todas as experiências que vivo no Vasco.
O que representaria esse título quatro meses após a sua chegada ao clube?
Ainda não consigo imaginar e ver a grandeza de um título após 11 anos de jejum e 26 sem vitória sobre o Flamengo em finais. Junta muita coisa. Às vezes, o título no São Paulo em 2008 (Brasileiro) pode ser menos comemorado que este, que pode ser mais o importante da minha carreira. Lógico que cada conquista tem a sua importância. Mas a gente tem de vencer para sentir.
Se não bastasse a fratura do braço, você também teve uma embolia pulmonar que o tirou dos gramados durante nove meses quando defendia o Internacional, em 2011. Chegou a pensar na aposentadoria?
Foram nove meses, mas, em momento algum eu pensei em parar. Os médicos que fizeram o tratamento comigo já haviam me deixado tranquilo quanto a isso. Não era uma coisa que ia me tirar dos gramados. Acabei me transferido para o Vitória, onde tive de buscar meu espaço novamente.
Dá para dizer que superação é uma palavra que marca a sua trajetória?
Sou um cara realizado. Posso dizer isso após tudo aquilo que já vivi no futebol. Passei por um momento difícil, voltei, depois parei novamente, fui melhor zagueiro do Campeonato Brasileiro do ano passado e hoje estou disputando mais uma final. Depois que eu superei esses problemas, só coisas boas aconteceram na minha carreira.
O que significou o gol sobre o Flamengo?
Fiquei muito feliz, pois ainda não tinha feito gol vestindo a camisa do Vasco. Gostaria que o primeiro fosse em São Januário, pois nunca balancei a rede neste estádio. Mas foi acontecer justamente em um momento que vai ficar marcado na minha carreira e na história do Vasco também. Estou muito feliz por esses momentos bons em campo. Gol, marcação, desarmes...
O que esperar da decisão de logo mais?
Será uma verdadeira batalha e eu espero que acabe com um final feliz. É isso.
Fonte: O Dia