Rodrigo chegou Vasco em alta. Mas porque depois de se destacar pelo Goiás e quase se classificar para a Libertadores o zagueiro aceitou a proposta de um clube rebaixado? "A vida é movida a desafios", responde ele. Mais do que um objetivo a atingir, o jogador queria voltar a defender um grande clube do futebol brasileiro. E se por um lado a meta principal - com o retorno do time para a Série A - ainda está longe de ser atingida, por outro Rodrigo sabe muito bem que já está perto de escrever seu nome na história do Cruz-Maltino. É isso que ele e seus companheiros vão tentar no próximo domingo, quando uma vitória simples sobre o Flamengo garante ao clube de São Januário a conquista do Campeonato Carioca após 11 anos na fila.
Experiência não falta ao zagueiro, que desde 2008 vem ganhando títulos em sequência - já foram quatro estaduais. E é nela que Rodrigo se apoia para ajudar a reerguer o Vasco. O rebaixamento, na visão do jogador, é apenas uma mancha que já começou a ser apagada pelo atual elenco.
- O Vasco tem uma grande história. Mas ela agora teve uma manchinha com esse rebaixamento do ano passado. Esse ano vamos limpar essa mancha certinho. Aliás, já estamos fazendo isso - resumiu em entrevista ao GloboEsporte.com.
Nesta conversa no gramado de São Januário, o camisa 3 comentou sua rápida adaptação ao clube, minimizou as polêmicas envolvendo a arbitragem antes da segunda partida da final, explicou o motivo de aceitar a proposta para defender o Vasco mesmo após o rebaixamento e lembrou a doença que atrapalhou sua passagem pelo Internacional.
Confira a íntegra da entrevista:
O que te estimulou a defender o Vasco após o rebaixamento?
Não tive receios. A vida é movida a desafios. Sempre tive uma boa relação com o Rodrigo Caetano e isso ajudou. Não começou em janeiro, e sim antes. Ele disse que precisava de um cara experiente que o ajudasse em campo, mas também orientasse o time fora dele. Acho que estou levando mais como um desafio na minha vida do que qualquer outra coisa. Estou muito bem no Vasco. Achei que teria mais dificuldades. Quando um clube grande cai, muitos problemas que estão enterrados voltam. Encontramos uma forma de jogar e a permanência do Adilson, que já conhecia o elenco, foi fundamental.
A que você atribui sua rápida adaptação ao clube?
Na verdade acho que todo o elenco se adaptou a situação. Conseguimos ajustar os problemas do ano passado durante a pré-temporada, por mais que ela tenha sido curta. Agora estamos colocando em prática, todos se entregam na marcação sem vaidade. Isso resume o sucesso da nossa equipe. Claro que tem o dedo do treinador também. Todos colocaram na cabeça que ia dar certo. Tivemos dificuldades no início, um empate logo na estreia. Mas ainda pode ser um campeonato perfeito se conquistarmos o título no domingo.
Você é um zagueiro experiente e mostrou na semifinal uma forma curiosa para desestabilizar o atacante adversário. Ficou tirando a faixa de capitão do Fred a todo o momento. Como vai ser a tática na decisão?
Lógico que eu não vou falar, né... (risos). Mas não tem segredo. O atacante também pode acabar me incomodando. Faço isso brincando. Conheço bem o Alecsandro, jogamos juntos no Internacional. É mais para encher o saco de forma sadia. Fico puxando a camisa, dando tapa na cabeça. Acho que ajuda a tirar um pouco a tensão da partida.
Por falar em tensão, o primeiro jogo da final foi muito disputado. Esse será o espírito também da segunda partida da decisão?
Não vi um jogo violento. Na verdade os três últimos jogos - os dois da semifinal e o primeiro da final - foram bem pegados. Ainda assim só tivemos uma expulsão por causa do segundo amarelo. E nem foi uma falta desleal. Acho que o primeiro jogo contra o Fluminense foi o mais disputado dos três. Eram dois jogos e tínhamos que jogar de acordo com o regulamento. Agora estamos correndo atrás do resultado mais uma vez. Eles jogam pelo empate e precisamos bolar uma estratégia para seguirmos vivos na competição.
O que muda no time sem o Éverton Costa?
O esquema não deve mudar. Vai mudar mesmo a peça que o Adilson vai colocar em campo. Ele ainda não mostrou nada nos treinos, mas a formação e o modo de jogar serão os mesmos. Claro que precisaremos ser mais agressivos. E não falo só dos homens da frente. Os laterais e os meias, que se seguraram mais na primeira partida porque ainda havia mais 90 minutos, vão precisar ir para o tudo ou nada agora.
O que achou da polêmica envolvendo a esposa do árbitro?
O Marcelo de Lima Henrique já apitou vários jogos meus. É um cara maduro. Ele vai tirar isso de letra. Quando acabou o clássico contra o Flu, eu até o elogiei. Ele fez uma partida muito segura na semifinal. Quando soube que seria escalado para a grande final, fiquei feliz. Não vai atrapalhar em nada. Ele tem bagagem para tirar isso de letra.
O que ficou marcado de sua passagem pelo Flamengo?
Foram só quatro jogos e uma pré-temporada (risos). Não é porque estou no Vasco hoje, ma sempre falo bem dos clubes que defendi. Mas no Flamengo nem consegui conhecer muita coisa. Não consegui sentir o clube. Foi tudo muito rápido. Tive uma fratura delicada no braço. Não foi uma passagem importante, nem deu para criar afinidade com o torcedor.
O que essa cicatriz significa para você?
Nada. Apenas o meu trabalho, como uma lesão de joelho. Não tenho mágoas. A verdade é que quando eu cheguei no Flamengo, a diretoria não deu sequência àquilo que eu esperava. Ai eu me machuquei e acabou a felicidade para ambas as partes.
Em que lugar você coloca o Vasco em sua carreira? Já ficou marcado?
O Vasco tem uma grande história. Mas ela agora teve uma manchinha com esse rebaixamento do ano passado. Esse ano vamos limpar essa mancha certinho. Aliás, já estamos fazendo isso. Há muito tempo o Vasco não chegava na final do Carioca. É algo importante para o clube, para mim, para quem estava em 2013. Nada melhor do que o título para mostrar o valor desses jogadores. As coisas estão voltando a caminhar bem.
Antes de voltar a se destacar no Goiás e no Vasco, você passou por dificuldades no Sul. Chegou a sofrer uma embolia pulmonar no Internacional. Foi o momento mais difícil de sua carreira? Temeu não poder mais jogar futebol?
Cheguei a ter bons momentos no Sul, ganhei títulos pelos dois clubes. Mas isso nunca passou pela minha cabeça. Foi uma coisa até anormal dentro do futebol. Eu tinha levado uma pancada um pouco antes e a coisa piorou. Hoje estou bem, graças a Deus. Agora podemos conquistar um título importante novamente. Cada taça tem o seu valor, a sua grandeza. Em estaduais como dos do Rio, São Paulo e Rio Grande do Sul, a conquista fica ainda maior. Se o título vier, vou ficar muito feliz. Desde 2008 ganhei vários títulos estaduais. Acho que só perdi na final de 2012 pelo Vitória.
Fonte: GloboEsporte.com