Em tom profético, Cocada, em 1988, já imaginava à beira do campo após seu feito: "Vai estar escrito, daqui há 20 anos, que o Vasco da Gama conquistou o bicampeonato com gol de Cocada". Porém, o que o folclórico ex-jogador não podia esperar é que, após quase seis anos além de seus cálculos, o Cruzmaltino não venceria mais o Flamengo em uma decisão.
Eternizado com o gol do título feito aos 44 minutos do segundo tempo, ele admite que se sente surpreso com tamanho jejum que seu clube de coração acumulou com o rival.
"Eu não tinha ideia, naquele momento, que seria tão lembrado. Até porque, um clube da grandeza do Vasco, tem grandes jogadores passando a todo o momento. Mas você não imagina que vai passar tanto tempo sem o Vasco vencer o Flamengo numa decisão. Acabou que o título de 88 foi o último. Talvez seja por isso", arriscou.
Hoje morando em Campo Grande (MS), sua cidade natal, ele acompanha o Vasco somente a distância. A última vez que assistiu uma partida do Cruzmaltino em São Januário foi há 15 anos. Nem por isso, deixou de ficar antenado no que se passa no clube.
Confiante na final deste domingo, ele aponta quem pode vir a ser o novo Cocada:
"Tem um menino que eu tenho um carinho muito grande e vem tendo atuações muito boas, o Thalles. Tomara que seja ele que entre e faça o gol do título", declarou.
Humilde, ele admite que não foi um jogador brilhante, mas fica satisfeito por, num lance, ter eternizado seu nome para sempre na história de um grande clube do Brasil, fato que muitos atletas mais talentosos não conseguiram.
"Tenho essa noção de que não fui um grande craque e não fui um dos tops do Vasco, mas sempre fui um jogador dedicado e me identifiquei com a torcida. O Arturzinho (ex-jogador da década de 80), certa vez, virou para mim e disse que já tinha feito mais de 200 gols na carreira e que eu, com apenas um, acabei sendo sempre ovacionado e lembrado. Tem coisas que você não precisa fazer muito. Só tem de estar na hora certa, no momento certo e fazer da maneira correta. Foi um golaço", recordou.
Hoje trabalhando como professor numa escolinha de Campo Grande e exercendo um cargo na secretaria de esportes da cidade, ele se desdobra para, como o próprio diz, "colocar a comida da família na mesa".
Torcendo de longe pelo Vasco, alimenta o sonho de um dia ser treinador do clube. Enquanto isto não se concretiza, imagina, com emoção, como seria se, um dia, vier a ser homenageado pelo Cruzmaltino:
"Certa vez a revista Placar fez uma edição que destacava os ídolos dos clubes e eu estava entre os do Vasco. Somente isto já me fez chorar de emoção. Eu não espero (homenagem do Vasco) mas, se acontecer, vou receber com muito carinho e ficarei honrado. Vou me sentir o verdadeiro rei da cocada preta", concluiu com uma doce analogia.
Fonte: UOL