Em entrevista ao programa "Sportv News", do Sportv, Roberto Dinamite, que completa 60 anos no domingo (13/04), relembra momentos da sua vida e carreira no Vasco e fala sobre a decisão do Campeonato Estadual contra o Flamengo.
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Fonte: NETVASCO (texto), Reprodução TV (foto)
Dinamite faz 60 anos, faz balanço da vida e relembra infância e carreira
No dia 13 de abril de 1954, às 4h25, nascia Carlos Roberto de Oliveira, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, filho de Seu Maia e Dona Neuza. Ele foi criado no bairro de São Bento, e foi ali, entre uma pelada e outra nos campos de várzea, que um olheiro viu os dribles incríveis de Carlinhos e percebeu que aquele menino magrinho, franzino, de 54 quilos, tinha potencial para ser um campeão. No próximo domingo, dia de decisão no Campeonato Carioca, o ídolo vascaíno completa 60 anos, e em entrevista à repórter Janaína Xavier relembra a vida e a carreira (assista ao vídeo) .
Entre os mais diversos assuntos, Roberto Dinamite conta um pouco de sua infância e os problemas de saúde antes da chegada ao futebol. O início no Vasco também está bem vivo na memória, que ainda tem a trágica morte da primeira esposa, a curta passagem pelo Barcelona e as participações nas Copas do Mundo de 1978 e 1982.
Infância em Duque de Caxias
- Foi uma infância parecida com a da grande maioria das crianças do Brasil, filho de funcionário público e dona de casa, num bairro de Duque de Caxias, com um campo de futebol em frente, na escola pública, e tive do meu pai e da minha mãe meu grande referencial, duas pessoas lutadoras. Antes de ser jogador, e pesar esses 54kg, tive duas cirurgias muito sérias. Com 12 para 13 anos, comecei a jogar no campo oficial do São Bento, e o Gradim, que era um olheiro dos clubes, foi lá e me observou junto com um colega, e me trouxe para o Vasco. Joguei pouco tempo nas categorias de base no infantil, logo depois joguei no juvenil e, já em 71, estreava na equipe principal do Vasco. Meu primeiro jogo, no Maracanã, foi contra o Inter, no Campeonato Brasileiro, e marcando o meu primeiro gol, e desse gol virei “Roberto Dinamite”.
Problema de saúde na infância
- Foi um milagre. Milagre porque eu, com sete para oito anos, fiquei praticamente três meses de cama, tive que fazer uma cirurgia de um tumor na coxa e coloquei gesso na perna esquerda toda, na cintura e na outra perna, e aquele tradicional cabo de vassoura no meio. Fiquei três meses na cama sendo assistido pela minha mãe e era muito magrinho. Uma criança que até os sete teve muitos problemas, aos sete tive um problema sério na perna esquerda, com 12 um problema também na perna esquerda. Acredito que a gente vem nesse mundo com uma missão, nós podemos melhorar ou não, e acho que fui um privilegiado. Era o caçula da família e, com esses problemas todos ligados ao futebol, vem o reinício de tudo jogando num clube amador, do meu bairro, alguém foi lá e me puxou para vir para o Vasco. Voltando um pouco mais, o meu pai conheceu a minha mãe na beira de um campo. Ele era goleiro e a minha mãe torcedora de um outro time, e ela foi para trás do gol pedir para ele deixar passar e ele não deixou, e aí começou o namoro. Tem tudo a ver. Foi uma conquista muito grande e que mexe, porque a gente tinha dificuldades do dia a dia, pegar dois ônibus para treinar, voltava e à noite tinha que ir pra escola, e voltava tarde e vinha treinar no outro dia Surgiu a oportunidade e eu segurei.
Estreia aos 17 anos no profissional do Vasco
- Com 16 anos jogava na equipe juvenil, o Vasco foi campeão, e em 71 também joguei na equipe juvenil, e de uma hora para outra vou para o banco de reservas, entro no segundo tempo num jogo contra um Internacional em que já tinha jogadores com experiência. Pego uma bola na intermediária, consegui levar próxima da área do Internacional, driblei o zagueiro e bati num chute forte. Nesse chute a bola bateu na rede e ela subiu, e na época era um véu, e o fotógrafo bateu e foi muito feliz. E no Jornal dos Sports, o Aparício Pires, junto com o Sérgio Cabral pai, colocaram na primeira página: "Explode o garoto Dinamite”. Daí começou essa coisa, entra num jogo, no outro, em 72 e 73, e em 74 vim a ser titular do Vasco, participando do meu primeiro título, o primeiro do Vasco campeão brasileiro, e fui artilheiro, e minha vida seguiu.
Difícil adaptação no Barcelona
- Foi um período muito curto (entre 79 e 80). Fui para um clube que já era grande. Naquela época só podiam dois estrangeiros, e o outro estrangeiro era o dinamarquês Allan Simonsen, e a dificuldade que tive no primeiro momento foi até do relacionamento, do dia a dia do clube, e os próprios jogadores. Na época o futebol espanhol criava uma certa barreira. E aí quis continuar jogando o que jogava no Vasco, e o treinador que me levou logo saiu, entrou um outro que foi minha barreira maior. Ele não simpatizou, a coisa não caminhou como eu gostaria e ele gostaria, e surgiu uma situação de não ser aproveitado naquele primeiro momento. Poderia ficar nessa adaptação, porque tinha contrato de três anos, mas na minha cabeça jogar era a coisa mais importante, e não tinha oportunidade. Surgiu o interesse não só do Flamengo, mas também uma proposta oficial para a Inglaterra, do Nottingham. Surgiu um interesse do Flamengo diretamente, o presidente foi ao Barcelona e conversou com o pessoal, e isso gerou um movimento no Brasil, dos vascaínos principalmente, e dentro disso houve o contato com o Vasco. No primeiro momento o Vasco não entendeu que seria bom, mas depois, dentro da própria pressão, e do interesse de voltar ao Brasil, foi acertado e voltei para o Vasco. Houve o interesse do Flamengo, mas voltei para minha casa, voltei para onde comecei, e voltei feliz.
Copas do Mundo de 78 e 82
- Vivemos uma geração de grandes talentos, Zico, Falcão, Sócrates. Tivemos a condição e perdemos, principalmente no segundo momento. Minha primeira convocação para a Seleção foi em 76, no Torneio Bicentenário nos EUA, fui como reserva do Neca, do Grêmio, e logo depois me firmei como titular, e terminei a competição como titular e o Brasil foi campeão. E depois em 77 veio as eliminatórias, e em 78 fui para a Copa do Mundo já também numa situação onde tinha como adversários da posição jogadores com um talento excepcional, caso do Reinaldo, e tinha o Nunes como segundo e eu seria o terceiro jogador da posição. Lembro que fomos para a Granja e nos treinamentos o Nunes teve um problema de contusão e isso facilitou a minha permanência para a Copa do Mundo. Sabedor de que tinha, não como adversário, mas tinha na minha frente um jogador com apelido de Rei, sem sombra de dúvidas um jogador fantástico. Ele tinha um problema no joelho, mas fui mesmo assim muito confiante para servir meu país, minha Seleção.
Polêmico Argentina 6 x 0 Peru, em 1978
- Anos depois ficou confirmado de que houve uma facilitação para a seleção da Argentina. Entrei no terceiro jogo, contra a Áustria, e o Coutinho mudou, entrou eu e o Jorge Mendonça no lugar de Zico e Reinaldo, por sermos mais pesados e suportar um pouco mais o gramado pesado. Fiz o gol contra a Áustria e depois continuei jogando até o final da Copa do Mundo. Mas o jogo contra a Argentina (na segunda fase) foi no estilo Brasil x Argentina. Lembro que após o jogo, que terminou 0 a 0, ali perdemos a grande oportunidade de ter a condição de passar para a próxima fase e buscar o título. Aquele jogo foi decisivo, o clima era muito pesado, não era um clima normal de Copa do Mundo. Mas nós fomos para o terceiro jogo, ganhamos a Polônia, e esperamos o resultado de Argentina x Peru, que estava marcado para o mesmo horário e depois passou para após a partida do Brasil, para saber o resultado e o saldo de gols que interessava. Entramos no ônibus, voltando para a concentração, começou o jogo, o time do Peru colocou uma bola na trave, e depois veio um, dois, quatro, cinco, seis gols, e foi uma decepção, não só pelo resultado em si, mas pela forma como foi conquistado esse resultado. Aquela coisa de campeão moral acho que não valeu de nada.
Copa do Mundo de 1982
- Em 82 também fui para uma seleção onde tinha adversário, mas tinha o reconhecimento do talento de grandes jogadores, como o caso do Careca, um jogador realmente fora de série. Sempre tive a consciência da minha participação na Seleção não como o grande jogador da posição, mas um jogador que poderia ser útil à Seleção em todos os momentos, dentro daquilo que o Coutinho ou o Telê achassem que pudesse ser. Frustração maior foi essa em 1982 de estar dentro de um grupo e não ter sido utilizado, não ser aproveitado dentro de uma seleção que todo mundo fala, que foi uma das maiores. Saí frustrado porque não tive a oportunidade de jogar.
Carreira no Vasco com 1022 jogos e 754 gols
- Foram tantos jogos inesquecíveis. Acho que um deles foi o jogo da minha estreia, garoto, ficando o pé, mostrando uma marca que me acompanha até hoje. Hoje é minha identidade. Esse jogo foi importantíssimo. Teve o jogo da minha volta da Espanha, e tinha aquela coisa de "não ter ido bem", e voltar ao Maracanã, aquela casa maravilhosa, cheia, pegar o Corinthians com Sócrates, Amaral, Caçapava, e conseguir marcar cinco gols, para mim foi uma realização. Lembro que um jornal da Espanha no outro dia colocou: "Esse sim é Dinamita", e foi fantástico.
Viuvez em 1985. Falecimento de Dona Jurema
- A Jurema era viúva, tinha um filho, e nós fomos viver juntos. Tivemos duas filhas, Luciana e Tatiana, e foi uma relação muito forte, muito positiva. Nos anos 70 eu estava surgindo para o futebol e me firmando, e com uma visão do clube de que uma pessoa mais velha poderia prejudicar a minha carreira. E ela puxou para ela uma situação em que ela tinha a necessidade de mostrar que estava ali para agregar. Ela se sentiu na responsabilidade de mostrar às pessoas, e eu dei essa condição a ela, que podia estar à frente de algumas coisas, até na minha saída para o Barcelona. Ela foi uma pessoa importante na minha vida, não me preocupava com nada além de jogar futebol. Quando tinha um problema maior, ela se posicionava, ela se sentia nessa obrigação, de que eu não precisava me expor, se alguém tem que ficar mal "deixa que eu fico". Ela teve um problema renal e isso se agravou, ela começou a fazer diálise e veio a falecer. Quando ela faleceu, lembro que um dos jornais colocou: "E agora Roberto?" Acho que a nossa relação foi intensa enquanto durou e me deu a condição pra que falasse: "fiz o que eu pude, tenho que seguir o meu caminho, continuar a minha carreira". E foi o que fiz, segui meu caminho e voltei para aquilo que gostava e sabia fazer, que é o futebol, e encontrei a Liliane, que num primeiro momento viveu essa coisa da "outra". Mas ela entendeu bem, demos a volta por cima, e juntos tivemos mais dois filhos, a Roberta e o Rodrigo, e reconstruímos nossa vida de uma forma maravilhosa. Hoje a nossa vida está dentro do que queremos e desejamos. Claro que essa pressão dentro do clube desgasta, ela fica apreensiva, mas tem sido uma parceira fantástica. Admiro ela cada vez mais. Tenho o maior carinho, amo de paixão, porque entendi o que é você estar dentro de uma nova relação e ter uma imagem de alguém muito forte. Tem hora que ela "chuta o balde", mas agora ela está tranquila. Ela sabe do amor que a gente tem. Chegando aos 60 anos você começa a analisar aquilo que foi bom e ruim, e o saldo é muito positivo.
Fonte: Sportv.com