Artista prepara estátua em homenagem a Barbosa, goleiro do Vasco e da Seleção Brasileira

Sábado, 12/04/2014 - 08:17
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Impossível voltar no tempo e impedir o gol que calou 200 mil vozes na final da Copa de 50, no Maracanã. Muito menos reparar meio século de humilhação e sofrimento por um deslize fatal. Mas ainda é possível resgatar a memória de um homem que, mesmo depois de morto, é sinônimo de tragédia.

Passados 14 anos de sua morte, enfim o goleiro Moacyr Barbosa receberá uma justa homenagem. Em maio, o ex-arqueiro vascaíno será eternizado em uma estátua suspensa com a sua marca registrada (a ponte). A obra de arte de corpo inteiro, 1,97m por 1,77m, vem sendo esculpida há três meses pelo artista plástico santista Laércio Alves.

“Já fiz 30% da estátua, o mais difícil era escolher a posição. Pesquisei muito para chegar ao formato suspenso. Vi vídeos, li livros, estou orgulhoso em fazer esse trabalho”, afirmou o escultor.

O minucioso trabalho de Laércio Alves impressiona pela delicadeza com a qual dá forma ao arame, um material de difícil manuseio. Completam a base da estátua o cobre e o alumínio colorido, que terá as cores prata, da camisa, e preto, do calção. O mesmo material foi usado pelo escultor nas estátuas de Pelé, Garrincha e Neymar. O trabalho será exposto pela primeira vez na cidade de Muzambinho, sul de Minas, que também preparou uma programação especial para reverenciar a memória de Barbosa. Além da exposição de fotos, Tereza Borba, filha de coração do goleiro, vai leiloar um pedaço da trave da Copa de 50.

“O Laércio foi tão generoso. Comprou a ideia desde o início e está tocando o projeto sem receber nada. Como tenho poucos recursos, preciso leiloar a trave para acertar com ele”, garante Tereza, que sonha colocar a estátua do goleiro, no Palácio das Artes, em Praia Grande, e conseguir mais recursos para fazer outra e exibi-la em alguma praia.

O leilão só será possível graças a outro exemplo de generosidade. Desde 2000, quando resgatou as traves do ostracismo em um sítio na zona rural de Muzambinho, a memória de Barbosa é tratada com reverência por Fernando Magalhães, ex-secretário de Cultura e Turismo da cidade mineira.

“Quando recuperei as traves e alguns pedaços achei que um deles deveria ficar com a família do Barbosa. Por isso, mandei um para a Tereza”, diz.

Recentemente, Magalhães esteve no Uruguai, onde se encontrou com o carrasco Ghiggia e lhe mostrou um pedaço da trave. Acabou voltando de Las Piedras com o pedaço autografado.

“Quando me encontrei com Ghiggia, percebi que ele também carregava uma cruz, a de ter sua vida reduzida àquele gol. Depois da viagem resolvi doar o meu pedaço para o museu da cidade”, revela Magalhães.

O exemplo final de generosidade vem do Maracanã, a eterna casa de Barbosa. Por 24 anos, o funcionário do parque aquático Abel Correia, 78 anos, guardou com carinho uma pasta de recortes de jornal e uma coleção de discos antigos do amigo. Quando soube da viagem do ‘Ataque’ a Praia Grande, fez um pedido: “Leva para a filha dele. Vai ajudar a resgatar a memória do Barbosa. Ele não merece mais carregar esse peso”.



Fonte: O Dia