Historiadores contestam versão de Barbosa sobre destino das traves do Maracanã usadas da Copa de 1950

Quinta-feira, 10/04/2014 - 12:43
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O destino das traves que fizeram o Brasil chorar na Copa de 50 é um enigma que deixaria intrigado até mesmo Sherlock Holmes. Antes de morrer em 2000, o goleiro Barbosa disse ao jornalista Roberto Muylaert, que fez um churrasco com a trave, que sofreu o gol de Gigghia, após ganhá-la de presente de um diretor quando foi trabalhar no Maracanã, em 63. Mas em Muzambinho, cidade de 20 mil habitantes no sul de Minas, a história contada é outra. Os moradores mais antigos garantem que a relíquia maldita chegou ao local bem antes de Barbosa trabalhar na Suderj.

Uma história que começou no final da década de 50, quando José Otaviano Salles, um incentivador do futebol local pediu ao conterrâneo Urias Antônio Oliveira— que trabalhava no conselho fiscal do Maracanã e era amigo do presidente Juscelino Kubitschek e do prefeito do Rio, Negrão de Lima— para levar as traves de madeira para a cidade, aproveitando que elas seriam trocadas por roliças. Coube ao prefeito da cidade, Joaquim Teixeira Neto, cunhado de Urias, intermediar a transferência e ao motorista Geraldo Tardelli “Sapo”, buscálas em seu possante caminhão Mercedes Bens, L-321, de 1958.

“A viagem durou 17 dias. Cheguei lá e peguei as duas traves de 50 e mais o alambrado com a ajuda de alguns chapas (trabalhadores)”, relembra.

Quando as traves chegaram ao estádio Professor Antônio Milhão, em Muzambinho, foi uma festa só. “O ‘Sapo’ as colocou no chão em meio ao foguetório. Foi um acontecimento”, garante Michel Salomão, 76 anos, que na época era presidente de um clube de futebol local. No estádio do Milhão as traves campo do Alto do Anjo.“Na época queriam arredondá-las para atender ao novo padrão, mas não deixei.Pensava, como pode a trave do maior estádio do mundo vir parar no menor. A gente tinha que ter dado mais valor”, lamenta o ex- dirigente de futebol, Geraldo Pires, 88 anos.

Na década de 80, as balizas foram doadas pelo prefeito Nilson Bortoloti para o produtor rural Nivaldo Sany usar no campo do seu sítio. Expostas, as traves foram maltratas pelo ação do tempo e por um eucalipto, que caiu em cima de uma delas, após forte ventania. “Com a queda uma trave foi dividida em vários pedaços. Um deles foi usado até em um mourão de cerca”, explica Antônio Carlos Sandy. “Este é o pedaço que guardei até hoje”. diz apontando para o mourão de quase 1,5m.

Só em 2000, as balizas foram resgatadas do ostracismo. Coube a Fernando Magalhães, então secretário de cultura e turismo de Muzambinho, leva-las para a Casa de Cultura da cidade onde estão expostas até hoje.

“Tenho convicção que são as traves de 50. A dúvida ocorre por causa do depoimento do Brabosa. Mas a história oral da cidade e a ligação do prefeito com o Maracanã são indícios que nos levam a essa conclusão”, analisa.

A mesma opinião é compartilhada por Geraldo Falcucci, 74 anos, que já publicou vários livros sobre a história da cidade. “Há o testemunho de várias pessoas idôneas. O churrasco do Barbosa é conversa”. Enquanto o mistério não se desfaz um pedaço da histórica trave de 50 pode acabar em música. “Sonho em fazer um cavaquinho com o pedaço da trave do meu irmão”, revela o luthier Láercio Sandy. “Mas ele não quer cortar. Só queria transformar em música algo que deu tanta tristeza ao povo brasileiro. Já pensou se a trave de 50 acabasse em samba?

Fonte: O Dia