Há quase um século, o Vasco da Gama protagonizava um capítulo marcante para o futebol brasileiro. E ele não foi escrito com os pés. Em 1924, os diretores do clube decidiram não participar da Associação Metropolitana Esportiva Athleticos (AMEA), então organizadora do Campeonato Carioca, quando doze de seus jogadores foram impedidos de jogar a competição devido às suas posições sociais. O Vasco desenhava então o que ficou conhecido como Resposta Histórica. A mais linda luta de um clube brasileiro contra o racismo.
Como homenagem do aniversário desse divisor de águas no esporte nacional, o Centro de Memória do Vasco, sob a representação do Vice-Presidente de Relações Especializadas João Ernesto Ferreira, promoveu o Dia da Consciência Vascaína, uma cerimônia realizada nesta segunda-feira na Sede Náutica da Lagoa. O evento contou com a presença do presidente Roberto Dinamite, do cônsul-geral de Portugal no Brasil, Nuno de Mello Bello, e dos Vice-Presidentes do clube.
-São 90 anos de muita luta , muita superação e de busca por aquilo que é mais importante: a igualdade. Todos estão de parabéns por podermos comemorar uma data tão importante para nós vascaínos e para o povo brasileiro. É um motivo de muito orgulho estar aqui - disse o Presidente Dinamite, em entrevista exclusiva ao site oficial.
O VP João Ernesto Ferreira se emocionou ao ler o Ofício No 261 de 7 de abril de 1924, escrito pelo presidente do Vasco à época, Dr. José Augusto Prestes ao presidente da AMEA dando a tão importante "resposta histórica". Uma representação desse documento se encontra nos fundos da sala de troféus do clube, mais glorioso que qualquer Campeonato Brasileiro ou Taça Libertadores da América que o Vasco já tenha conquistado em campo. O Vice-Presidente ainda lembrou do tempo que seu avô vascaíno lhe contou o feito do clube, que tem a igualdade em seu gene.
- Essa resposta histórica é um modelo de síntese, de beleza e de firmeza de posição para qualquer outro documento que se queria escrever para qualquer outra demanda. Fazer essa homenagem é uma alegria e uma honra para mim. Na posição de preservar a memória do Vasco, eu me sinto lisonjeado por poder promover uma festa como essa - declarou o VP, que classificou a noite como "brilhante para a história do clube".
O professor Ricardo dos Santos, coordenador do Centro de Memória do Vasco, lembrou, em seu discurso, da importância da luta contra o racismo e reforçou o apoio do clube a qualquer tipo de luta contra o preconceito racial.
Para abrilhantar a cerimônia, a Orquestra de Vozes da Escola Municipal Portugal, coordenada pela diretora adjunta e professora de música Marta Gomes, abriu a cerimônia ao entoar o hino do Vasco e a versão da torcida de Anna Julia, tão querida pelos vascaínos. A professora e a diretora Cristhiane Ponte foram homenageadas com camisas e bandeiras do Vasco.
Outro convidado foi o professor vascaíno Maurício Murad. Ele falou com muita emoção sobre a história social do Vasco, que lutou contra o preconceito racial muito antes de ser considerado crime no Brasil, que só aconteceu em 1931. O dia 7 de abril de 1924, na visão do professor, foi apenas a data que marcou uma batalha histórica do clube.
- Foi um evento espetacular e necessário, que deve ser comemorado sempre para garantir e valorizar a identidade vascaína. Essa é uma luta não só do futebol, mas de toda a sociedade brasileira. Esse evento quis comemorar um evento importante para a história do Brasil e o futebol, através do Vasco, mostrou como o país poderia ser muito melhor com inclusão social e racial - disse Murad, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e doutor em Sociologia do Desporto.
Logo em seguida, falou o professor Francisco Carlos da Silva, Pós-Doutor pela Universidade de Berlim, professor aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro e o criador do Centro de Memória do Vasco. Ele fez um discurso lembrando da identidade do futebol com o imaginário social brasileiro e toda a caminhada do Vasco contra o elitismo dessa atividade.
O historiador do clube, Walmer Peres, transformou sua palestra em um pedido. O funcionário do Centro de Memória do Vasco pediu aos vascaínos apoio para criação de um projeto de ação social, como sequência à vocação histórica do clube para a caridade.
A parte mais emocionante da cerimônia foi quando as homenagens foram prestadas. Roberto Ananias, compositor e torcedor ilustre que nasceu no ano de 1924, recebeu o título de sócio proprietário benfeitor do clube, fez um discurso emocionante em amor ao Vasco da Gama e fez questão de citar Roberto Dinamite como o maior jogador da história do clube. O jornalista Carlos Nogueira , autor do livro Os Dez Mais do Vasco da Gama, também foi homenageado, curiosamente no Dia do Jornalista.
Representando os dirigentes da época, o bisneto do Presidente José Augusto Prestes, José Luiz de Macedo Soares, recebeu também o título de sócio proprietário benfeitor e fez um discurso em nome de seu bisavô, grande heroi dessa conquista vascaína.
Para representar os atletas, a filha de Adão, o autor do primeiro gol da história do Vasco, Regina Maria Pereira, recebeu o mesmo título. Ela fez juras de amor ao Vasco e agradeceu a homenagem ao Presidente Roberto Dinamite. Regina estava visivelmente emocionada e chegou a dizer que é a maior homenagem que já recebeu.
O Dia da Consciência Vascaína cumpriu seu papel. Contou um pouco da história do Vasco, da sua eterna luta contra o preconceito e sua vocação para as causas sociais dentro e fora do esporte. E que tenhamos certeza que daqui a 90 anos, ainda lembrarão do Vasco da Gama como o verdadeiro "Time do Povo", aquele que alforriou o futebol brasileiro.
Fonte: Site oficial do Vasco