O Vasco celebra na noite desta segunda-feira, às 19h30, na Sede Náutica da Lagoa, os 90 anos da resposta histórica. O evento contará com a presença da cantora Teresa Cristina e de Paulinho da Viola.
A carta enviada pelo clube à diretoria da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos, no dia 7 de abril de 1924, ficou popularmente conhecida dessa forma, pois o Gigante da Colina se negou a excluir os 12 atletas negros que possuía no elenco e acabou sofrendo sanções da AMEA, não participando do Campeonato Carioca organizado pela entidade.
João Ernesto da Costa Ferreira, vice de Relações Especializadas e diretor do Centro de Memória vascaíno, falou da importância deste ato para a história do Cruzmaltino.
"É um verdadeiro troféu e deve ser lembrado todos os dias. Foi a elaboração dele que promoveu uma revolução no dia a dia do esporte brasileiro e do futebol. Para nós vascaínos é motivo de muito orgulho. Celebramos essas resposta não só hoje, mas todos os dias, porque foi a mais bela página escrita por um clube brasileiro. Ela representa a segunda lei áurea, ela alforriou o futebol brasileiro. Fez com que o futebol nunca mais fosse o mesmo, deixasse de ser elitista, para ser realmente popular", afirmou orgulhoso.
Confira a carta na íntegra:
Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924.
Ofício nr. 261
Exmo. Sr. Dr. Arnaldo Guinle
M.D. Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos
As resoluções divulgadas hoje pela imprensa, tomadas em reunião de ontem pelos altos poderes da Associação a que V.Exa tão dignamente preside, colocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada nem pela deficiência do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa sede, nem pela condição modesta de grande número dos nossos associados.
Os privilégios concedidos aos cinco clubes fundadores da AMEA e a forma por que será exercido o direito de discussão e voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.
Quanto à condição de eliminarmos doze (12) dos nossos jogadores das nossas equipes, resolve por unanimidade a diretoria do Club de Regatas Vasco da Gama não a dever aceitar, por não se conformar com o processo por que foi feita a investigação das posições sociais desses nossos consócios, investigações levadas a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.
Estamos certos que V.Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um ato pouco digno da nossa parte sacrificar ao desejo de filiar-se à AMEA alguns dos que lutaram para que tivéssemos entre outras vitórias a do campeonato de futebol da cidade do Rio de Janeiro de 1923.
São esses doze jogadores jovens, quase todos brasileiros, no começo de sua carreira e o ato público que os pode macular nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles, com tanta galhardia, cobriram de glórias.
Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V.Exa. que desistimos de fazer parte da AMEA.
Queira V.Exa. aceitar os protestos de consideração e estima de quem tem a honra de se subscrever, de V.Exa. At. Vnr. Obrigado.
Dr. José Augusto Prestes
Presidente
Fonte: O Dia