Donos das pranchetas da final do Campeonato Carioca, que começa a ser disputada neste domingo, às 16h, no Maracanã, Adilson Batista e Jayme de Almeida vivem da mesma profissão, mas têm em comum apenas o fato de terem sido zagueiros. Não bastasse as distâncias na região de nascimento, na personalidade e na época em que jogaram futebol, ambos também adotam estilos opostos nos treinos e, principalmente, nas partidas. Enquanto o vascaíno é pilhado durante os 90 minutos e participa ativamente de qualquer atividade no dia a dia, o rubro-negro tem na observação e no jeito introvertido suas principais características - ao menos publicamente.
Pode ser à noite, com a temperatura amena ou até no frio. Não importa: Adilson está sempre tão suado quanto seus pupilos quando a bola está rolando. A área técnica parece insuficiente para a movimentação entre saltos e piques, acompanhados de gestos e berros de orientação. Ele transpira muito e perde a voz e líquido em excesso, a ponto de se preocupar e pensar em mudar.
- Não estou magro, né? (risos). Eu gosto de teatro, respeito os atores, os artistas, mas não faço isso na beira do campo. Evidente que preciso me controlar um pouco mais, preciso perder peso, parar de tomar café... Sempre fui de orientar, de falar. Às vezes até tem uma voz de comando em campo, mas é preciso estar atento. Na última semifinal, foi cobrada uma falta aos 47 minutos do segundo tempo com jogadores meus de costas para a bola. Ali eu também estou jogando, faz parte da orientação. Já vi vários técnicos fazendo isso na Europa, com direito até a sapato voando em campo. Vou crescendo, ficando mais experiente e calmo. Quem sabe daqui a alguns anos eu não fico sentado no banco? Transpire menos, fale menos também? As pessoas que gostam de mim já mandaram o recado. E eu entendi - disse.
Nos trabalhos em São Januário ou no CFZ, o técnico cruz-maltino faz questão de indicar o posicionamento como se fosse o adversário. Disputa bolas, chega duro nos recreativos, como o zagueiro viril e líder nato que foi. Isso motiva os atletas, que aprovam o modo expansivo do chefe
- Isso dá confiança, é um técnico que foi um excelente zagueiro e campeão por onde passou. Sabe indicar os erros e participa demais. Não pode ficar desligado perto dele, senão vai ouvir. Respeitamos muito essa determinação e a cada dia aprendemos mais - elogiou Edmílson.
A injeção de ânimo em 2013 quase foi capaz de salvar o Vasco de um rebaixamento iminente desde sua chegada. Transformou um time sem confiança e passivo em um grupo vibrante. Nesta semana, o comandante deu treino para os titulares, pegou um avião para Manaus na noite de quarta-feira, esteve na beira do gramado com os reservas no empate com o Resende, pela Copa do Brasil, e voou de volta na madrugada, a tempo de conferir a movimentação de quinta de manhã. O meia Douglas se surpreendeu com o fôlego e brincou dizendo que, na semana da final contra o Flamengo, Adilson estava "insuportável", discutindo sobre tudo e exigindo perfeição.
- Com 46 anos dá para fazer, sem problema nenhum. Dá para conciliar. É importante estar presente. Demos dois trabalhos segunda e terça para ter conjunto, e vi um time organizado, que trabalhou bem a bola. Deu certo - aprovou o técnico, após o duelo na Arena Amazônia.
Jayme: calma só fora do vestiário
Longe do estresse do paranaense Adilson, o carioca Jayme de Almeida leva a vida em um ritmo oposto. Ninguém contesta que conhece muito sobre tática, mas não se firmou como treinador. Aos 57 anos, voltou ao Flamengo para ser auxiliar técnico e quis o destino que o cargo principal caísse em suas mãos após os seguidos fracassos com nomes de peso, como Dorival Júnior e Mano Menezes. Na batida de Carlinhos, ídolo rubro-negro que também se notabilizava pela tranquilidade, ele ganhou o elenco e a diretoria. E terminou 2013 com o título da Copa do Brasil.
Mas o goleiro Felipe garante que Jayme sabe a hora de puxar a orelha e cobrar. Isso acontece, no entanto, dentro do vestiário. É lá que a postura muda, e os jogadores entendem o recado quando necessário.
- O Jayme é tranquilo, mas tem hora que tem que ser mais enérgico. É porque vocês (jornalistas) não estão no vestiário. Ele chega junto. É um treinador que é a cara do Flamengo, tem sangue rubro-negro, e sabe ser enérgico e tranquilo. No Corinthians, eu trabalhei com o Adilson Batista já na fase final para sair do clube. Convivi com os dois, são grandes treinadores, com características diferentes, mas fazem um grande trabalho - analisou.
O respaldo de Jayme já não é tão grande quanto na sintonia construída entre o fim de 2013 e o início de 2014. Os resultados irregulares para um grupo visado e caro, que lutará na última rodada para não sair da Libertadores na primeira fase, ligaram o sinal de alerta. Há quem relate que o técnico, sempre solícito a um bate-papo, está claramente mais recluso.
De qualquer forma, derrotou o Vasco em clássico polêmico em fevereiro e foi campeão da Taça Guanabara com sobras, o que faz o Flamengo entrar com a vantagem de dois empates na decisão. Depois de passar pelo Flu, na semifinal, Adilson, 15 anos mais novo, provocou o colega em tom de brincadeira, pedindo que agora deixasse os "mais novos ganharem" o título. A definição sai no próximo domingo.
Fonte: GloboEsporte.com