Victor Boleta, que abandonou o futebol, relembra final de 2004

Domingo, 06/04/2014 - 11:00
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Tempo e futebol formam uma combinação implacável. Num esporte em que um momento pode ser efêmero, uma carreira pode virar de ponta cabeça do dia para a noite. Que dirá em dez anos. Titulares da decisão do Campeonato Estadual de 2004, a última no torneio entre Vasco e Flamengo, Victor Boleta e Douglas Silva viveram dias de fama, mas hoje estão bem longe do glamour de uma final de Carioca.

Badalação, contato com fãs e fotos em jornais não fazem mais parte da rotina da dupla. Douglas, que levou a melhor na ocasião, está desempregado após passar por clubes pequenos e jogar, no início do ano, no time do Sindicato dos Atletas de Futebol do Rio, formado por jogadores à procura de um clube. Continua vivendo em Padre Miguel com a mulher e aproveita o tempo para tomar conta do filho Téo, de oito meses.

— Já tomei várias porradas da vida. Financeiramente, emocionalmente... É aquilo: acostumado com viagem, hotel cinco estrelas. Aí, você se vê em um clube menor, sem viagem e com você tendo que fazer sua própria comida antes dos jogos — disse Douglas, enquanto trocava a fralda de Téo no Maracanã, palco onde já foi campeão. — Podia ficar falando que joguei no Flamengo, mas isso não vai comprar a papinha do Téo. Tenho uma esposa que trabalha, não se iludiu por ter casado com um jogador. E consegui guardar ainda um dinheiro.

Boleta desistiu do futebol. Após se desiludir rodando o país por clubes pequenos desde a saída do Fluminense, no fim de 2004, acordou um dia e decidiu que não iria para o treino no Olaria. Voltou à faculdade de fisioterapia e chegou a trabalhar como taxista.

— Imaginei crescer, ir para fora, o que todo mundo sonha. Eu vinha bem naquele Carioca. Quando saí do Vasco para o Fluminense, fiquei encostado e perdi espaço — lembra o hoje quase anônimo ex-vascaíno, vestindo a camisa de 2004 do Vasco. — Hoje é muito difícil alguém me reconhecer. A torcida gritava meu nome. Mas depois daquele Estadual fui cobrado até no ônibus indo para o treino — sorri.

Se as trajetórias dos dois guardam semelhanças, para o futuro os planos são distintos. Com 34 anos, Douglas ainda sonha com um último ato dentro das quatro linhas. Uma última temporada no clube que o revelou.

— Tenho vontade de voltar para o Bangu para jogar jogar mais um ano lá. É o clube que me revelou e eu queria disputar o Carioca para, quem sabe, jogar mais uma vez no Maracanã — revelou o volante, que viveu seu maior momento na carreira em outro rubro-negro, o Atlético-PR, onde foi campeão brasileiro em 2001. — Depois vou realizar o sonho de fazer faculdade de Educação Física.

Jogador de futebol de 7 justamente pelo Flamengo, Boleta não gostaria de voltar a trabalhar no campo, mas a fisioterapia pode levá-lo de volta. Agora vascaíno apenas como torcedor, torcerá para que o jejum de 11 anos do clube no Estadual chegue ao fim.

— Hoje o Vasco tem a obrigação de vencer. Rebaixado, desacreditado. O torcedor não vai aguentar perder de novo para o Flamengo — admite o ex-jogador, que já viveu essa cobrança.

Com um público total de 138.104 pagantes, as duas finais entre Flamengo e Vasco, disputadas entre os dias 11 e 18 de abril de 2004, foram marcadas por muita rivalidade e polêmica.

Após a primeira partida, vencida por 2 a 1 pelos rubro-negros, o vazamento de uma conversa que o técnico Geninho teve com os jogadores vascaínos acirrou os ânimos.

— Divulgaram na TV o áudio dele falando no treino para os jogadores que tinham que chegar duro no Felipe (então meia do Flamengo), que estava com o tornozelo inchado — recordou Douglas.

Foi a faísca que faltava para o segundo jogo pegar fogo. Coutinho, que ficou no encalço do meia, acabou expulso.

Valdir abriu o placar para os vascaínos. Mas Jean, em uma tarde iluminada, marcou três e definiu o título para o Flamengo: 3 a 1.

— Não dava mesmo para a gente. Eles estavam largos (risos) — brincou Boleta.

Como um espectador onipresente, o tempo acompanhou também as mudanças no próprio Maracanã, que, reformulado, deixou os dois surpresos na visita desta semana. Até o campeonato já não é mais o mesmo. Ficam as lembranças.



Fonte: Extra Online