"Luan deveria ter uma oportunidade. Deveriam ter aproveitado na época da Copa do Brasil de 2011, quando fomos campeões. O moleque é de bastante potencial. É um garoto simples demais, que escuta todo mundo, da mesma forma que eu fazia. Espero vê-lo arrebentando no Vasco e tendo o mesmo sucesso que eu tive". Foi com essas palavras que Dedé se despediu de São Januário em 2013 e, de quebra, apresentou Luan para os vascaínos. Palavras de um ídolo que em um primeiro momento assustaram o jovem zagueiro diante da responsabilidade e da expectativa criada. Mas que hoje são apenas mais um dos obstáculos que ficaram pelo caminho.
Aos 20 anos, Luan ainda está longe do status que o zagueiro do Cruzeiro alcançou no Cruz-Maltino. Mas, com atuações tranquilas, regularidade e personalidade, já se firmou entre os titulares e caminha a passos firmes para deixar o rótulo de promessa para trás.
- Não foi algo que me atrapalhou, mas é claro que cria uma expectativa grande. Dedé deixou o Vasco como um ídolo. Fez grandes partidas, foi campeão. É isso que fica marcado. Até hoje agradeço a ele pelas palavras. Elas fizeram as pessoas me conheceram e procurarem saber mais do meu trabalho. (...) Quando me disseram que ele falou meu nome, fui ver o que era. A responsabilidade era grande para mim, mas não podia encarar dessa maneira - lembrou Luan, titular em 16 das 17 partidas do Vasco no ano, em entrevista ao GloboEsporte.com.
Nascido no Espírito Santo, Luan chegou a São Januário em 2006 com apenas 13 anos. Foi nessa temporada que Flamengo e Vasco se enfrentaram pela última vez em uma decisão (Copa do Brasil). As duas equipes começam a decidir no próximo domingo o título carioca. Alheio às provocações dos torcedores rubro-negros e à sequência de derrotas para o rival em finais, o zagueiro vascaíno pensa apenas em deixar os vascaínos felizes. Para isso, ouve atentamente os conselhos do companheiro de zaga Rodrigo e do técnico Adilson Batista.
Nesta entrevista em São Januário, Luan precisou driblar até mesmo velhos conhecidos como Edmílson e Pedro Ken, que aproveitaram a timidez do zagueiro para fazer brincadeiras. Mas o camisa 21 mostrou nas respostas a mesma tranquilidade que apresenta dentro das quatro linhas. Em quase 30 minutos de conversa, ele revelou o sonho de disputar os Jogos Olímpicos de 2016, disse que sua estreia como titular na goleada sofrida de 4 a 0 para o Bahia em 2012 foi um grande aprendizado, comemorou as boas atuações diante de Fred e Walter na semifinal e já projetou o próximo desafio: parar Hernane e Alecsandro na final.
- Que vença o melhor e que o melhor seja o Vasco.
Confira a íntegra da entrevista abaixo:
GloboEsporte.com: Como você analisa esse início de ano em 2014, com boas atuações suas, a vaga de titular e agora essa classificação para a final?
Luan: Desde o fim do ano passado e fui para as férias com objetivos e metas na cabeça, bastante focado em descansar e me preparar para 2014. O Vasco conseguiu montar um bom elenco, uma boa equipe, e esse time tem me ajudado bastante. Estou me dedicando aos treinamentos, aproveitando as oportunidades, escutando os mais experientes. Tudo isso me ajuda a crescer.
Esperava esse bom momento logo de cara depois de tudo o que o Vasco viveu em 2013?
Não é que eu já esperasse, mas me cobrava para isso. Estou ficando velho, faço 21 anos em breve e as coisas precisavam começar a acontecer na minha carreira. Tive uma série de lesões no ano passado e agora quero desfrutar os bons momentos.
Um momento bem diferente de sua estreia como titular em 2012 na derrota por 4 a 0 para o Bahia...
Carrego como um aprendizado para minha carreira. Não que tenha sido bom passar por aquilo, mas serviu de lição no início da minha carreira. Sei que minha trajetória não será apenas de vitórias e aquilo me ajudou a amadurecer. Fiquei muito triste pelo resultado e pela saída do Cristóvão Borges logo depois. Outras derrotas virão e preciso estar preparado.
Qual a importância da experiência do Rodrigo nesse seu bom momento?
Estou muito feliz de que a dupla vem dando certo. Na verdade toda a parceria com Rodrigo, Guiñazu, os laterais... Rodrigo é um cara experiente, já jogou na Europa, disputou muitos campeonatos, trabalhou com outros jogadores. Ele aprendeu muita coisa para me passar e conversamos muito. Ele me cobra bastante e sempre presto atenção nas coisas que ele fala. É um cara vitorioso. Fico feliz por vê-lo bem no time.
Que conselhos ele te dá?
Ele sempre fala para eu entrar focado, ligado no jogo e pede para eu não me distrair com coisas bobas como reclamações. Tenho que estar sempre atento para não falhar.
Apesar da pouca idade, você chama a atenção pela tranquilidade em campo. Sempre foi uma de suas características?
As cobranças do Rodrigo me ajudam muito. Por isso estou sempre ligado, centrado... Meus companheiros me ajudam a ter calma em campo. Sempre foi uma característica minha, na realidade. Me cobro muito para não entrar distraído em campo.
Ter o Adilson, um ex-zagueiro, como treinador também deve ajudar.
Ele me ajuda muito, cobra, é chato... Se ele pudesse, entrava em campo e jogava com a gente. Termina o jogo até mais suado. Ele é sempre incisivo comigo porque sabe onde preciso melhorar. Já conversamos sobre defeitos e virtudes. Adilson sempre me fala que o zagueiro fica melhor com o passar do tempo, mas lembra que podemos encurtar isso, queimar etapas. Sempre procuro fazer um trabalho extra com ele. Conversamos sobre posicionamento, ele faz correções e isso me ajuda bastante.
Ter ido bem diante de uma dupla consagrada como Fred e Walter na semifinal prova que o Adilson acertou em apostar no seu futebol?
Não é questão de provar, mas mostrar para mim mesmo que o sonho que tenho desde criança pode ser realizado. Estou no Vasco desde os 13 anos e busco uma vida melhor para a minha família, a minha realização profissional.
Quando deixou o Vasco para defender o Cruzeiro, Dedé disse em uma entrevista que o clube deveria apostar em você como seu substituto. Aquela comparação partindo de um ídolo da torcida te atrapalhou no início?
Não foi algo que me atrapalhou, mas claro que cria uma expectativa grande. Dedé deixou o Vasco como um ídolo. Fez grandes partidas, foi campeão. É isso que fica marcado. Até hoje agradeço a ele pelas palavras. Elas fizeram as pessoas me conheceram e procurarem saber mais do meu trabalho. Ele para mim é um dos melhores zagueiros do país.
Mas o que você pensou quando viu a declaração dele?
Fiquei meio sem entender. Era um dia triste, o dia da saída dele. Além de grande jogador, Dedé era amigo de todos. Quando me disseram que ele falou meu nome, fui ver o que era. A responsabilidade era grande para mim, mas não podia encarar dessa maneira. Até hoje falo com ele sobre isso. Criou uma expectativa sobre o meu futebol.
E você acha que já supriu essa expectativa?
Falta muito ainda. A melhor maneira é sendo campeão e dando alegria para essa torcida. É isso que vamos tentar fazer a partir de domingo. Estamos perto.
Você estreou no time em 2012, e atuou no início do Brasileiro de 2013 como titular. Depois, voltou para os juniores. Como foi esse período sem jogar nos profissionais até voltar ao time de cima, no fim do Brasileiro?
Foi um momento em que botei na minha cabeça que precisava dar um passo para trás para depois dar um para frente. Na época, Dorival queria que eu pegasse ritmo de jogo e aceitei voltar. Não vinha tendo oportunidades e não podia ficar parado. Eu estava machucado, e o time de juniores estava disputando competições. Aquilo me fez bem. Tanto que quando o professor precisou de mim, em um jogo contra o Goiás, eu estava apto e preparado para jogar.
O título sobre o Flamengo pode encerrar o jejum no estadual assim como uma incômoda sequência de derrotas em partidas decisivas para o rival. Vocês pensam nisso?
Não penso dessa forma. Penso mais em marcar meu nome na história do clube. O Vasco não pode ficar tanto tempo sem ganhar um estadual. Não fico pensando nas zoações, nas brincadeiras. Penso, sim, que os torcedores vão se sentir honrados em caso de título.
Mas seus amigos vascaínos devem comentar...
É claro que eles falam, lembram que precisamos ganhar do Flamengo, que não podemos mais perder para o Flamengo. Só que na minha visão o Vasco não pode perder para ninguém. Por isso penso sempre em ganhar. Estamos em um clube que tem uma história tão bonita e podemos colocar nossos nomes nela. Estamos perto disso, faltam só dois jogos.
Aliás, o Luan hoje já se considera titular do Vasco?
Não me sinto titular. Me sinto um jogador que está sendo utilizado e que está aproveitando seu momento. Não quero que esse momento passe e preciso provar para mim e para o professor que sou capaz de ajudar ainda mais.
Depois de Fred e Walter, a próxima missão será contra Hernane e Alecsandro. Preparado?
Conheço o Alecsandro, jogamos juntos aqui e é um grande atacante. Já o Hernane teve um ano passado maravilhoso e virou xodó do Flamengo. Espero fazer um bom jogo. Que vença o melhor e que o melhor seja o Vasco.
Como eram os confrontos com o Flamengo nas divisões de base?
Encarei uma geração muito boa do Flamengo, ganhei, perdi... Me lembro de um jogo em São Januário que vencemos por 1 a 0. Fiz o gol aos 47 minutos do segundo tempo.
Você está no Vasco desde 2006. Qual foi a maior dificuldade que você passou na base até se firmar no time de cima. Pensou em desistir em algum momento?
Esse para mim foi o momento mais difícil, quando sai da zona de conforto. Eu estava bem nos juniores, era capitão, um dos jogadores que mais tinha moral com o técnico. Ai você chega em um elenco com vários jogadores famosos, a perna até treme na rodinha de bobo. É uma adaptação difícil. Eu tinha só 17 anos, não tem como não ficar nervoso. Você olha para o lado e vê Felipe, Alecsandro, Diego Souza. Como eu ia errar um passe e olhar para o Felipe? (risos). Mas o grupo sempre foi bacana comigo, me acolheram muito bem.
Você tem apenas 20 anos, já passou por seleções de base e agora é titular de um grande clube. Já se acostumou com a exposição do futebol?
Sou mais tranquilo mesmo. No começo era mais difícil, agora já estou me acostumando. Não gosto de falar muito. Eu tenho que provar a cada dia que mereço estar aqui. Se ficar falando muito, posso ser mal interpretado. Prefiro que me analisem e falem de mim pelo que faço em campo.
Quando o Vasco disputou a Série B, em 2009, jogadores como Alex Teixeira, Souza, Allan e Alan Kardec se firmaram e foram vendidos. Você acha que 2014 pode ser o seu ano de afirmação no time titular? Já pensa em alguma transferência?
É o sonho de todo jogador, não dá para negar. Mas prefiro nem pensar nisso agora. Se tiver de acontecer, que seja bom para as duas partes, para mim e para o Vasco. Antes quero ajudar o clube a conquistar títulos.
Você participou da campanha ruim da seleção brasileira no Sul-Americano Sub-20. Temeu ter ficado marcado por isso?
Foi complicado. O Brasil sempre entra nessas competições como favorito e o time não foi bem. Mas isso ficou no passado. Todos que estavam lá estão bem em seus clubes, tentando dar a volta por cima. Era uma grande seleção, mas não deu certo.
Sonha com a Olimpíada de 2016?
Sonho muito com isso. Mas ainda faltam dois anos e prefiro deixar acontecer. Já devem estar observando os jogadores, mas nesse momento estou focado apenas em ajudar o Vasco.
Fonte: GloboEsporte.com