Basquete: Confira entrevista com o preparador físico do Vasco Marcelo Mascarenhas

Quinta-feira, 27/03/2014 - 05:20
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Marcelo Correia Mascarenhas é mais um dos funcionários da Divisão de Basquetebol do Vasco da Gama que têm muitos anos de casa. Além dos 43 anos de Luiz Brasília e dos 28 de Christiano Pereira, o treinador David Gaglianone e os estagiários Cássio Santos e Tadeu Leonardo são ex-jogadores do clube. O fisioterapeuta Marcelo Barreto é outro com muitos anos em São Januário.O preparador físico chegou a São Januário em 1999 como estagiário da função, e em 2003 assumiu efetivamente o cargo, o qual exerce até hoje. Ele, com 34 anos de idade, é referência nacional, tanto que desde 2010 é membro da comissão técnica da Seleção Brasileira, sendo responsável pela preparação física da categoria sub-15.

Diante de alguém que conhece tanto o basquete do Vasco e viveu fases distintas da modalidade no clube (tanto a áurea de 1997 a 2001 quanto a fase ruim dos últimos anos), o Blog CRVG –Em Todos os Esportes fez uma longa entrevista com ele, que trata de diversos assuntos, como sua história no clube, opinião sobre o momento e o futuro do basquete em São Januário e também sobre sua função.

Ele mostra otimismo em relação ao basquete do Vasco, enxerga melhora nos últimos anos (sobretudo neste 2014) e explica os detalhes de sua atuação como preparador físico. Neste sentido, ele comemora muito a volta integral da modalidade a São Januário. Após ficar por três anos (de 2011 a 2013) na Associação de Basquetebol de Veteranos do Rio de Janeiro (ABVRJ), devido à interdição do ginásio principal de São Januário (de 2011 até a presente data sem quaisquer reformas), ele garante que tem podido efetuar um trabalho bem melhor nesses primeiros meses de 2014, tendo direito a utilizar uma moderna academia de musculação em São Januário e a um espaço bem mais amplo, principalmente de quadras à disposição. Ele ressalta que nos últimos anos, diante da limitação estrutural da ABVRJ, sua atuação se limitou praticamente ao trabalho de aquecimento dos atletas antes do treino técnico, comandado pelos treinadores. Ele ainda fala o que espera do Campeonato Estadual das categorias de base neste ano, do qual o Gigante da Colina disputa nas categorias mirim (sub-13), sub-14, infanto-juvenil (sub-17) e juvenil (sub-19).

Para ajudar na divulgação do basquete cruz-maltino, Mascarenhas atualiza rotineiramente o perfil no Twitter "Basket do Almirante", que pode ser acessado através do endereço: https://twitter.com/bktcrvg/. Confira a íntegra da entrevista abaixo, concedida pelo profissional à nossa reportagem na sala da Divisão de Basquetebol, em São Januário.

Primeiramente, conte a sua história no Vasco e como você chegou ao clube.

“Cheguei ao clube em 1999 para ser estagiário na área de preparação física. Tinha um preparador físico aqui, e eu atuava apenas na categoria sub-15, não tinha sub-14 à época. Eu ficava responsável e era supervisionado pelo preparador físico, uma vez que eu ainda estava estudando. Em 2003, eu fui efetivado como preparador físico. Com a saída do antigo preparador e a minha conclusão do curso de Educação Física, eu assumi todas as categorias, mais ou menos no final de 2002 e início de 2003, do mirim ao juvenil. Quando tínhamos a categoria adulta ou a de aspirantes, eu também trabalhava com essas equipes quando tinha campeonatos. Assim começou a minha trajetória no Vasco.”

Portanto, você viveu duas fases bem distintas: a fase áurea do basquete do Vasco e os últimos anos, que foram ruins. Conte suas impressões sobre isto.

“Eu trabalhava só com uma categoria, e era categoria de base, O Vasco tinha sido bicampeão brasileiro, campeão da Liga Sul-Americana, tinha disputado o McDonalds Open, tinha um "timão". E eu com dezenove, vinte anos já tinha começado a trabalhar aqui, via os treinos, participava de alguma coisa. Era muito bom, porque a gente tinha adulto forte e, consequentemente, a base era forte por causa disso. Isto porque os atletas buscavam o Vasco justamente pela equipe adulta forte que tinha, e também tinha uma boa escolinha. Então a base do clube sempre disputava títulos e era campeã, foi uma fase boa. Acho que a partir talvez de 2000, 2001, 2002 o basquete entrou numa fase de declínio. O trabalho não parou porque tinha mais ou menos condições para ele, mas a gente sempre tinha que buscar mais atletas por fora. Foram duas fases muito distintas, e esperamos que volte a primeira: ter um adulto forte para ter a base forte.”

O que você achou do retorno integral do basquete do Vasco a São Januário após três anos? Em especial, de que forma isto influenciou o teu trabalho?

“O retorno para São Januário foi excepcional por diversos fatores, mesmo continuando sem o ginásio principal, que é uma perda muito grande para a gente. Um dos fatores é a identificação dos atletas com o clube. Muitos atletas vestiam a camisa do Vasco e, como treinávamos fora daqui, não tinham nenhum vínculo com o clube, não tinha sequer pisado no clube. Então eu acho que a primeira coisa é esse resgate da identidade do atleta com o clube, é ele passar todo dia na portaria, entrar no vestiário, entrar na quadra de treino e na de jogo (que hoje por acaso é a mesma, o Forninho)... Acho que o primeiro ponto é esse.

O segundo ponto é ter o basquete de novo no clube. Os próprios funcionários de outros departamentos nem achavam que ainda trabalhávamos no clube. Nós temos que explicar que treinávamos numa quadra externa, na ABVRJ. Temos que explicar isso tudo. O lado do dia a dia com os outros funcionários também é importante.

Falando especificamente do meu trabalho, o treinamento físico, foi muito bom. Na Associação de Veteranos nós só tínhamos uma quadra de treinos e nada anexo. O horário dos treinos era muito comprimido, e o meu trabalho como preparador físico ficava muito resumido a praticamente um aquecimento, e não conseguia desenvolver as minhas atividades e as valências que o esporte requer. Todas as outras valências. A força, com a academia para musculação de São Januário, os treinos aeróbios, que podem ser realizados em diversos lugares... E isso eu não tinha lá. Eu tinha os 15, 20 minutos iniciais do treino, isso quando o treinador me cedia esse tempo. Porque, se tem uma hora e meia de treino e o treinador cede vinte minutos para o preparador físico, ele já perde uma boa parte de seu treino. Tinha o problema da luz, nunca tinha iluminação e, quando não estava no horário de verão, cinco e meia da tarde já estava escurendo. Tinha essa perda.

Dentro de São Januário, nestes dois meses em que nós estamos treinando, estou conseguindo muito mais do que consegui nos três anos em que estivemos fora do Vasco. Por exemplo, o retorno ao treinamento de força, dentro da academia. Tenho um horário específico para os atletas do basquete frequentarem. Tenho estrutura física fora da academia, como as quadras externas que ficam próximas ao ginásio principal. Conseguimos desenvolver também um trabalho dentro de quadra antes do treino técnico. O treino físico é sempre marcado uma hora antes. Para os garotos, eu tenho certeza que com o passar do tempo vocês vão ver os resultados em termos físicos. Acredito que a partir do meio do ano já comecemos a ver os garotos com uma parte física melhor do que vinham tendo nos últimos anos.”

Você atua principalmente nas categorias maiores, o sub-17 e o sub-19. Como funciona sua atuação nas categorias menores?

“No sub-13 e no sub-14, eu não trabalho especificamente na quadra com eles. É passado aos estagiários e ao treinador das categorias uma lista de atividades que atletas de 12, 13 anos já podem começar a fazer com o próprio treinador, mas na quadra. Nessa idade tem que ter contato com bola o tempo todo, e a gente deixa até o físico um pouco de lado. É bola, muito fundamento, arremesso, as valências do jogo mesmo, a parte técnica com o treinador. Por volta de 14 anos iniciamos alguma coisa já de treino físico. Essas categorias menores ainda não têm na prática um horário específico para o treino físico. Nesta idade, o treino físico é aliado ao treino técnico.”

Você, sendo referência na função, chegou à Seleção Brasileira. Fale sobre sua passagem, que ainda está em andamento, por lá.

“Graças ao meu trabalho aqui no Vasco ao longo de muitos anos de clube, e disto eu não tenho dúvidas, no ano de 2010 eu consegui chegar à seleção brasileira de base, sendo preparador físico até a presente data - ainda sou - da categoria sub-15. Provavelmente neste ano vamos ter um Campeonato Sul-Americano para disputar, e acredito que eu vá estar presente também. Mas, com certeza, foi tudo graças ao meu trabalho aqui no clube. Se eu não tivesse todos esses anos trabalhando num clube como o Vasco, com o nome que tem, com certeza eu teria levado mais tempo ou, provavelmente, não teria chegado lá ainda. Hoje o meu trabalho é reconhecido, cheguei aonde todo profissional e atleta quer chegar um dia, que é trabalhar na seleção brasileira, para defender o país em competições.”

Ao contrário dos outros esportes do clube, o basquete tem a peculiaridade de todos os profissionais terem muito tempo em São Januário. Comente este fato e fale sobre a convivência entre vocês durante todos esses anos.

“Ao falar desses profissionais você até se perde para ver quanto tempo cada funcionário tem de casa. Ninguém bate o Brasília, que tem seus quarente anos, depois vem o Christiano. Já começa até pelo Mauro, que foi nosso diretor de basquete, e que hoje está trabalhando em outra área no clube, deve ter seus vinte anos de Vasco. É uma família, todos se ajudam, cada um faz coisas que não são da sua competência fazer, mas faz porque é pelo bem do basquete, pelo bem do Vasco. È sempre assim, todo dia, se ajudando, cobrindo o outro quando precisa. É uma segunda casa, é o lugar onde eu passo mais tempo depois da minha casa. A convivência é a melhor possível. Até os estagiários de hoje foram atletas de basquete do clube. O trato é muito fácil, é muito bom, a convivência é a melhor possível.”

Qual a sua visão sobre o atual momento do basquete do Vasco?

“Na reunião com toda a comissão técnica que tivemos no começo do ano, eu expus para eles que eu acho que de uns cinco anos para cá é o ano em que estamos mais animados, criando mais expecativa para que seja um ano melhor do que o ano passado, que já tinha sido o melhor ano dos últimos quatro ou cinco. Conseguimos colocar quase todas as categorias numa semifinal. A expectativa para este ano é conseguir fazer finais. Quem sabe na categoria mirim (sub-13) buscar um título. Na pré-mirim a gente já vem sendo campeão nos últimos dois anos. A expectativa para este ano, da minha parte e igualmente dos outros treinadores, é de chegar a finais. Com respeito à minha parte, a preparação física, a expectativa é ter os atletas mais bem condicionados. A expectativa é a melhor possível, fazer finais e, se der, beliscar algum título, além de conquistar o tri no pré-mirim.”

É claro que tudo começa com a consolidação de base, mas não tem como pensar no basquete do Vasco sem pensar em time adulto forte. Como você concebe o curto-médio prazo do basquete vascaíno?

“Falar de time adulto agora e nos próximos anos eu acho que é ousadia. Temos que estrutura melhor a base. Fazendo isto, terá procura por parte dos atletas para treinar e jogar pelo Vasco. A expectativa é de que comecemos a disputar novamente as competições estaduais, o Cariocão e o Estadual. Quem sabe, termos uma equipe sub-22, que não temos hoje, e disputar a LDB, a Liga de Desenvolvimento, que seria uma liga de novos do NBB. Hoje nós temos a LDB, a segunda divisão do NBB, que já foi criada, que dá acesso á primeira, e a primeira divisão. Daqui a alguns anos esperar estar no NBB. É muito importante os times de camisa, principalmente o Vasco, estarem lá. A gente vê o nosso maior rival ganhando títulos, nove seguidos no Estadual, títulos no NBB... A torcida do Vasco pede por isso também, reviver aqueles tempos de Maracanãzinho lotado, o Vasco disputando final de Campeonato Brasileiro, o Tijuca lotado, disputando Liga Sul-Americana (hoje Liga das Américas). Mas acho que nesses próximos anos ainda é um sonho distante, mas queremos que volte.”

Deixe uma mensagem final para o vascaíno que estiver lendo esta matéria.

“Amigo vascaíno que gosta de basquete, eu falo para estar acompanhando os veículos de comunicação, as mídias sociais. Estamos divulgando o basquete do Vasco. Que acompanha, que, se puder, venham assistir aos jogos. As tabelas das competições foram divulgadas. Estamos precisando do incentivo da torcida de novo. Esteja sempre acompanhando, eu acredito que num futuro próximo nós vamos colher os frutos do trabalho que está sendo realizado na base.”

Confira a ficha de Marcelo Mascarenhas, retirada do site oficial da Confederação Brasileira de Basquetebol (CBB):

Nome Completo: Marcelo Correia Mascarenhas
Função: Preparador Físico
Data de Nascimento: 28/07/1979
Naturalidade: Rio de Janeiro (RJ)

Formação:

Graduação:
- Licenciatura Plena em Educação Física pela Universidade Estácio de Sá (RJ);

Pós-Graduação:
- Mestrado em Educação e Promoção para Saúde pela UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Portugal);

Principais Resultados:

Pela seleção:
- Vice- campeão do torneio formativo Sub-15 masc
(Buenos Aires – 2010)

Pelos clubes:

- 3° colocado no Campeonato Estadual Adulto Masculino (2005);
- Campeão Aspirante (2006);
- Bi-Campeão Estadual Júnior (2000/2001);
- Tri-Campeão Estadual Cadete (1999/ 2000/ 2001);
- Tetra Campeão Estadual Infanto Juvenil (1999/ 2000/ 2001/ 2002)

Obs: Todos os títulos pelo Vasco da Gama (RJ)



Fonte: Blog CRVG Em Todos os Esportes - Supervasco