Alguns jogadores brasileiros que devem atuar por outras seleções na Copa do Mundo, como Pepe por Portugal ou Diego Costa e Thiago Alcântara pela Espanha, já são bem conhecidos no mundo. Mas há um brazuca que sonha até o último momento em defender o Irã no torneio. Edinho, que passou pelas bases de Vasco e Atlético-PR, é um dos maiores ídolos da história do Mes Kerman, que joga na Liga Iraniana. Ele admite que ainda pode defender a equipe na competição.
– Essa possibilidade de jogar a Copa do Mundo está com 90%, e eu não estou achando os 10% que faltam para pegar o meu passaporte. A questão de documentação já está certa – disse Edinho em entrevista ao LANCE!Net:
– Mas estou achando estranho porque deu uma esfriada. Perguntavam o tempo todo se eu tinha o interesse, mandavam os documentos.
Edinho rodou por diversos países e chegou ao Irã em 2007 por indicação de um amigo (veja mais abaixo). Desde então, sua melhor temporada foi em 2010, quando marcou 22 gols na Liga. Aos poucos surgiu o interesse, e até o técnico, o português Carlos Queiroz, já bateu papo com ele:
– Falamos sobre isso. Quis saber se eu tinha interesse em me naturalizar e deixou claro que eu precisaria fazer por onde e jogar bem.
E por falar em Copa, rapidamente o atacante nascido em Vitória se anima. Edinho não esconde que seria especial jogar a Copa do Mundo em seu país de origem.
– Já são quase oito anos de Irã, eu tenho a minha história. Aí vem a chance de defender uma seleção, são os melhores do país, o que não é qualquer coisa, não interessa se é Irá, Espanha, Alemanha ou Brasil... – refletiu o atacante de 32 anos.
O Irã está no Grupo F da Copa. Terá pela frente Argentina, Bósnia e Nigéria. Edinho não se assusta e acredita que a seleção tem chance de surpreender no Mundial.
– O destaque da seleção se chama conjunto. É um time muito bem fechado, é difícil de entrar. Dá um, dois, três contra-ataques e de repente consegue um – explicou.
BATE-BOLA
Edinho, atacante do Mes Kerman, ao LANCE!Net
Como foram as passagens por Vasco e Atlético-PR?
A minha passagem no Vasco foi bem rápida. A estrutura era legal, adequada, tinha escola, alimentação, dormitório. Lá encontrei o meu conterrâneo Faioli. Mas tive mais tempo na base do Atlético-PR, e vingaram mais jogadores daquela geração. Por exemplo, no mesmo time tinha Alan Bahia, Dagoberto, Kleberson, Fernandinho... Essa rapaziada deu sequência na carreira com mais visibilidade, jogadores de Seleção... Mas Deus proporcionou um trajeto asiático, com menos visibilidade. Na Ásia, todos conhecem o Edinho. Europa e América do Sul, vão perguntar quem é.
Como surgiu o Irã na sua vida?
A situação do Irã apareceu através de um amigo chamado Fábio Januário, jogou comigo no Gil Vicente. Depois ele seguiu sua vida, e do nada eu descobri que estava no Irã. Ele entrou em contato comigo e pediu uns lances meus. Eu entreguei, e quando retornou, foi um representante, que mostrou para o clube, que gostou. Mas eu tinha contrato assinado com um clube da Segunda Divisão de Portugal. Com um mês de contrato assinado, veio a situação. Eles pagaram tudo, a rescisão, e eu me apresentei em julho de 2007. Ele disse que eu podia encontrar dificuldade no início, mas que rapidamente eu iria me adaptar, e só tenho a agradecer por isso. No início foi complicado, mas hoje eu sou um cara bem conceituado.
O Mes Kerman tem boa estrutura?
A gente tem que ser realista. A estrutura que o meu clube oferece é baixa. Não tem um clube de elite do Brasil para comparar. A gente tem um estádio para 20 mil pessoas, na temporada que vem vai inaugurar um de 45 mil. E desde que eu cheguei, sempre eram dois campos para treino. No ano que vem, teremos uma nova estrutura, três campos para treinar, novo estádio... Agora já está com mais cara de clube. Quando eu cheguei, a minha primeira vontade era sair, mas acabei ficando e minha permanência foi abençoada. Tive dificuldades de alimentação frio... Mas Deus me deu forças.
Como foi a adaptação a um país totalmente diferente do Brasil?
Quando eu cheguei tinha um uruguaio e um brasileiro. Na primeira temporada eu morava no clube, foram seis meses, não tinha muita coisa para fazer. A cidade que eu moro fica a uma hora de avião da capital. Agora a minha família está aqui. A rotina é treino e volto para casa. Podemos dar um passeio, parque, shopping, sair de casa, mas são poucas opções. Não me adaptei à comida daqui, apesar de tantos anos. Sempre que posso, trago comida do Brasil, minha esposa também.
O Irã é um país com forte influência muçulmana. Como é a convivência?
Eu prefiro não comentar de religião com eles. Sei que a crença deles é diferente da nossa. Aí fico naquela de um respeitar o outro. Todos me respeitam. Quando vou para os jogos, fico com a minha bíblia, pedindo proteção a Deus para os meus companheiros, para os adversários. Eles até perguntam, eu respondo, falo que é a bíblia, do que se trata, eles entendem. Eles também têm o momento deles. Eu já dormi em concentração com iraniano. Quando dá a hora, eles fazem a reza deles, e eles também explicam quando eu tenho uma dúvida, uma pergunta.
E a torcida por aí?
Não é permitido mulher no estádio. Mas aqui é um país que idolatra futebol, como no Brasil, aquela maluquice mesmo. Agora está começando a ficar calor, os jogos são lá pelas 17h, mas às 13h já tem muita gente na rua, fazendo bagunça. O pessoal gosta, é aquela coisa fanática.
Quais são os objetivos comuns do Mes Kerman?
O meu time é novo na Primeira Divisão, subiu em 2000 e não caiu mais. Paga muito bem, tem boa situação financeira. Mas algo que não entendo até hoje: tem poder financeiro, mas não trabalha para ganhar título, para chegar mais na frente e ser campeão. Desde que eu cheguei, a melhor colocação foi um terceiro lugar e fomos para a Champions League da Ásia. O objetivo acaba sendo a permanência.
E para se virar no idioma?
No início era um pouco no gesto e um pouco no inglês. O pessoal aqui não fala inglês. Quando eu cheguei, o preparador físico falava. Mas ele saiu. E então eu tinha que me virar. Eu fui aprender no dia a dia. Faz gesto daqui, dali, aprende, lê, faz tudo.
Como é a expectativa de poder jogar uma Copa do Mundo no seu país de origem?
Pensa bem na vida... Traça um plano de anos, aí chega em uma certa idade, e pensa em Seleção Brasileira, para mim não dá. Aí vai para fora, vê que surge a expectativa, de que é um ídolo, que as pessoas gostam, já são quase oito anos de Irã, eu tenho a minha história. Aí vê que há uma possibilidade de defender uma seleção, o que não é qualquer coisa, são os melhores do país, e não interesse se é Irã, Espanha, França, Alemanha, Brasil... Não é para tirar mérito. Estar na seleção é estar entre os melhores. E aí vai disputar o melhor campeonato do mundo, em que todos param para ver. E ainda mais no país de origem. Aí pensa bem na grandiosidade e como eu estou, com a expectativa...
A sua preparação é de olho na Copa, mesmo com essa incerteza?
Eu vou me preparar, se aparecer a oportunidade, estarei pronto. Eu tenho que trabalhar fisicamente, taticamente e psicologicamente. O Irã tem um grupo com Argentina, Nigéria e Bósnia. E pelo trabalho do Queiroz, o Irã pode ser uma zebra. A equipe joga junta há muito tempo. Eu estou me preparando para três, cinco, 10, 45 ou 90 minutos. Eu estou me preparando. Copa do Mundo não é para qualquer um, tem que ir preparado. A técnica ninguém tira de mim, mas tenho que ter fôlego, pernas... Se ele me colocar, só se eu não estiver no meu dia, eu vou estar muito bem concentrado e preparado para dar o meu melhor, até para todos se perguntarem de onde saiu esse cara.
Trajetória
Base no Vasco e no Furacão
Ainda antes de se profissionalizar, o capixada de 32 anos passou por Vasco, mas ficou mais tempo no Atlético-PR, na geração que revelou Alan Bahia, Jadson, Fernandinho e Kleberson.
Giro pelo mundo
Antes de chegar no Irã, Edinho rodou por países como Coreia do Sul, Holanda, Bulgária e Portugal.
Chegada no Irã
Edinho já estava certo para jogar na Segunda Divisão de Portugal, até assinou contrato. Porém, o seu amigo Fábio Januário, que jogava no Irã, indicou o amigo para o Mes Kerman. O clube gostou dos lances que viu do jogador, e acabou pagando a rescisão. O atacante se apresentou em 2007. A melhor participação desde então do clube na Liga Iraniana foi em 2008/09, quando ficou na terceira colocação e até se classificou para a Liga dos Campeões da Ásia.
Passagem em Dubai
Em 2011, Edinho se transferiu para o Al Sharjah, clube dos Emirados Árabes Unidos, aonde joga atualmente Fellype Gabriel, ex-Botafogo. Ficou até o ano passado, quando resolveu voltar para o Mes Kerman.
Volta ao Irã
Voltou, levou o time à final da Copa do Irã desta temporada, mas está na lanterna da Liga Iraniana e pode ser rebaixado.
Fonte: Lancenet