Por pressão do pai, Bellini conciliou, no início da carreira, a profissão de jogador de futebol com a de cabelereiro

Sábado, 22/03/2014 - 09:51
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Ser jogador de futebol é desejo da maioria dos garotos com noção de como chutar uma bola hoje em dia. Não só deles: se um menino parece ter o dom do esporte, empresários brotam de todos os lugares com o intuito de administrar a carreira que ainda nem começou. A facilidade dos dias de hoje não acompanhou a vida dos futebolistas de outrora. Bellini é um claro exemplo disso.

Anos antes de ser o primeiro atleta brasileiro a erguer uma taça de Copa do Mundo, o zagueiro passou por dificuldades em Itapira, sua cidade natal. Nem tanto para comprovar o talento, mas sim para convencer o pai de que poderia sobreviver do futebol naturalmente.

Seu Ermínio, conservador como a maioria no final da década de 40, não via a carreira esportiva como uma alternativa para o filho. "Isso é coisa de desocupado", costumava dizer. Ao mesmo tempo, Bellini começava a se destacar. Entre 1946 e 48, defendeu o time de juniores da Itapirense, insuficiente para convencer a família. O pai, então, exigiu mais.

Se quisesse continuar no esporte, Bellini deveria conciliar com um "emprego de verdade". Assim, por pressão, o então jovem defensor arrumou um trabalho de cabeleireiro no Salão Azul, ponto tradicional de Itapira. Continuou com as duas carreiras também em São João da Boa Vista, quando defendeu o Sanjoanense.

O pai só acreditou mesmo no filho como jogador de futebol a partir de 1952, quando o Vasco o contratou. De lá, virou capitão da seleção brasileira, titular do São Paulo durante boa parte dos anos 60 e líder do Atlético-PR no final da carreira. Sorte do Brasil, que, mesmo com a insistência contrária de seu Ermínio, ganhou um dos maiores zagueiros da história.

SIMPATIA CONQUISTOU ITAPIRENSES

Passear por Itapira é um jeito garantido de ouvir histórias de Bellini. Não do jogador de sucesso, mas sim do cotidiano do rapaz que ganhou o mundo em 1958 (e também em 62, mas como um dos reservas da zaga). Apesar dos feitos nos gramados pelo mundo, o xerife conquistou o pessoal de Itapira pelas qualidades fora das quatro linhas.

– O Bellini era um patrimônio da cidade – diz o vendedor Elcio Ferreira.

– Eu tive o privilégio de fotografá-lo algumas vezes. Era uma pessoa espetacular, amava Itapira, tratava todo mundo bem, era muito humilde. Vai ser uma perda muito grande para a cidade – afirma o fotógrafo Léo Santos.

O carinho do povo de Itapira por Bellini era recíproco. Sempre que tinha uma folga no apertado calendário do futebol brasileiro, o zagueiro partia para Itapira. Foi na cidade, ali do sobrado em que morava, que repetiu o gesto que o imortalizou, ao levantar a taça de campeão mundial acima da cabeça. Acostumou-se a passar férias também na região. Distanciou-se da cidade apenas quando ficou mais doente e precisou ser internado em São Paulo, onde morreu.

XERIFE VIROU PLACA NA ENTRADA DA CIDADE

A idolatria pelo capitão rendeu uma homenagem curiosa logo na entrada da Itapira. Ao assumir a prefeitura, Toninho Bellini, sobrinho do ex-zagueiro, queria destacar o tio de alguma forma. Arranjou uma maneira no segundo mandato, em 2011, ao incrementar a placa de boas vindas do município: "Bem vindo a Itapira, cidade em que nasceu Bellini".

O gesto foi aprovado pela maioria dos habitantes, mas não durou muito. Na troca da prefeitura, José Natalino Paganini decidiu tirar a placa que homenageava Bellini, sem dar justificativas. O sobrinho não gostou da atitude.

– A gente não entendeu porque ele tirou a placa. Ele não deu muita explicação na hora – afirma Toninho, que, tempos depois, conversou com o atual prefeito.

A explicação é a mesma até hoje. Paganini diz que a administração planeja reformas no centro esportivo de Itapira. Quando tudo estiver pronto, a placa de Bellini ganhará um espaço de destaque.

– Nós retiramos a placa porque vamos começar a reforma de um centro esportivo e tem o nome dele. Eu acho que o melhor lugar para homenagens é nesse centro esportivo. Na minha opinião, a entrada da cidade não é lugar para uma homenagem como essa porque aí teríamos que homenagear também vários itapirenses ilustres e não só o Bellini – explicou Paganini.

A placa, intacta, segue guardada a sete chaves na prefeitura. Assim como Bellini, xerife de Vasco, São Paulo, Seleção Brasileira, Atlético-PR. E, mais do que tudo, de Itapira.



Fonte: GloboEsporte.com