A sentença que libertou os três torcedores corintianos acusados de participação na invasão do CT do clube não foi a primeira em que a opinião do juiz chamou a atenção em caso relacionado ao futebol. Assim como Gilberto Azevedo Morais Costa, que entendeu que os "fiéis queriam apenas chamar a atenção", outros magistrados já se manifestaram de forma polêmica em outros temas.
Entre piadas com rivais de seus respectivos clubes de coração e até mesmo preconceito contra homossexuais, as palavras de alguns juízes para sustentar suas decisões já chamaram mais atenção - e causaram mais revolta - do que as sentenças em si. Relembre.
Richarlyson e o "futebol varonil"
Em 2007, o juiz Manoel Maximiliano Junqueira Filho julgou improcedente queixa-crime do jogador Richarlyson - atualmente no Atlético-MG - contra o então vice-presidente do Palmeiras José Cyrillo Júnior, que teria insinuado a homossexualidade do jogador em rede aberta de televisão. Para sustentar sua tese, o magistrado afirmou que o "futebol é jogo viril, varonil, não homossexual".
"Se fosse homossexual, poderia admiti-lo, ou até omitir, ou silenciar a respeito. Nesta hipótese, porém, melhor seria que abandonasse os gramados... Quem é, ou foi, BOLEIRO, sabe muito bem que estas infelizes colocações exigem réplica imediata, instantânea, mas diretamente entre o ofensor e o ofendido, num TÉTE-À-TÈTE", argumentou Maximiliano, no início de sua sentença (grifos originais).
Em um total de 18 pontos, Maximiliano prosseguiu. "Esta situação, incomum, do mundo moderno, precisa ser rebatida... Quem se recorda da COPA DO MUNDO DE 1970, quem viu o escrete de ouro jogando (FÉLIX, CARLOS ALBERTO, BRITO, EVERALDO E PIAZA; CLODOALDO E GÉRSON; JAIRZINHO, PELÉ, TOSTÃO E RIVELINO), jamais conceberia um ídolo seu homossexual", sustentou.
Depois de sua decisão, o juiz recebeu advertência do Tribunal de Justiça de São Paulo por ter "agido com impropriedade absoluta de linguagem".
Sofrendo com Vasco e Fluminense
Em fevereiro de 2006, o juiz Claudio Ferreira Rodrigues, da Vara Cível de Campos dos Goytacazes (RJ), usou bom humor e uma boa dose de provocação a Fluminense e Vasco para julgar a ação de um consumidor que comprou aparelho de televisão com defeito na loja Casas Bahia. O magistrado, que assumiu ser flamenguista, brincou com o "sofrimento" dos rivais em campo.
"Na vida moderna, não há como negar que um aparelho televisor, presente na quase totalidade dos lares, é considerado bem essencial. Sem ele, como o autor poderia assistir as gostosas do Big Brother, ou o Jornal Nacional, ou um jogo do Americano x Macaé, ou principalmente jogo do Flamengo, do qual o autor se declarou torcedor?", iniciou a curiosa argumentação, ante de provocar.
"Se o autor fosse torcedor do Fluminense ou do Vasco, não haveria a necessidade de haver televisor, já que para sofrer não se precisa de televisão", continuou, para julgar procedente o pedido de danos morais do consumidor - a empresa foi condenada a pagar multa de R$ 6 mil.
O "submundo" da segunda divisão
Em 2012, o torcedor do Vasco Elizeu Passos Caldas entrou na Justiça contra uma empresa de TV por assinatura por ter interrompido os serviços de transmissão do Campeonato Brasileiro a sua residência, alegando problemas na documentação. Na sentença, o cruz-maltino recebeu o direito de receber indenização de R$ 2 mil, mas não sem antes ser provocado pelo juiz do caso.
André Luiz Nicolitt, que mais tarde admitiu ser torcedor do Flamengo, afirmou que o dano ao vascaíno era menor pelo fato de seu clube já ter sido rebaixado à segunda divisão do Campeonato Brasileiro. "Não é possível comparar a frustração de não poder ver um jogo de times que já frequentaram a segunda ou terceira divisão com aqueles que nunca estiveram nestes submundos."
Na sequência, Nicolitt afirmou que, caso Caldas fosse flamenguista, a indenização poderia ser maior. "Exemplificando, se fosse o Fluminense, por ter jogado a terceira (divisão), valor ínfimo, o Vasco e Botafogo, por terem jogado a segundona, um pouco maior, já o glorioso Clube Regatas do Flamengo, que jamais frequentou ou frequentará tais submundos, o dano seria expressivo", escreveu.
Os "princípios de humanidade" do irmão de Ronaldinho
Ao condenar o empresário Assis, sua mulher e sua irmã a pagarem R$ 500 mil a um casal de vizinhos, o juiz Alex Gonzalez Custódio, de Porto Alegre, questionou a "os princípios de humanidade e solidariedade" do empresário e irmão do meia Ronaldinho Gaúcho, quem, segundo o magistrado, se considerava "melhor do que os simples mortais".
"Constata-se a desconsideração e o desrespeito que o dinheiro e fama em excesso podem causar em uma pessoa, mesmo com seus vizinhos, em total descaso, mesmo conscientes de que causaram prejuízos a terceiros", escreveu. "Todavia, não é a primeira vez, e tenho convicção de que não será a última, em que a Família Moreira se entenda melhor do que os outros simples mortais", continuou.
A polêmica entre Assis e seus vizinhos teve início em maio de 2007, quando o muro de uma das propriedades da família Moreira em Porto Alegre desabou e causou prejuízos na casa de trás, onde vivia o casal Adriano Ricardo de Carli e Vera Maria Erbes, que processou o ex-gremista.
Fonte: ESPN.com.br