Tranquilo, sereno e determinado. Assim, Carlinhos se define, entre sorrisos fáceis, consequências de uma mudança de perspectiva em um tempo recorde. Se no ano passado ele sequer ficava no banco de reservas do Madureira, agora é o principal jogador do time, vice-artilheiro do Campeonato Carioca, com seis gols, três deles marcados contra times grandes (Fluminense, Botafogo e Vasco, que o revelou para o futebol).
- Eu só consigo sorrir e agradecer por tudo o que está acontecendo na minha vida. Passei dois anos sem receber oportunidades aqui, roendo o osso. Quando você joga em time grande, sempre tem um amigo, mas quando é reserva de um pequeno, todos se afastam. Ninguém mais acreditava mais em mim, com exceção da minha família e de um amigo pessoal, o Carlos Henrique, a quem faço questão de citar. Até eu mesmo, em vários momentos, desconfiava se ia dar certo, mas agora estou vivendo dias maravilhosos.
A mudança de vida do camisa 10 do Tricolor Suburbano aconteceu junto com a chegada do técnico Antônio Carlos Roy, que já havia comandado Carlinhos em 2011 e foi o primeiro técnico a colocá-lo na meia entre os profissionais.
- Ele me mudou de posição em 2011, e agora confiou no meu trabalho novamente. Sou muito grato ao Roy por tudo o que ele fez por mim - explicou.
Carlinhos, 23 anos, chegou a atuar nos profissionais do Vasco em 2008 e 2010. Na primeira oportunidade, então com 17 anos, ele foi promovido por Romário para os profissionais após um treinamento no qual nem era para ter atuado, entre juniores e profissionais.
- O Edu Pina era titular dos juniores, e eu o reserva. Mas completei o time dos profissionais. Fui ao fundo e cruzei duas bolas na cabeça do Romário. Ele fez um gol, e no final do treino, virou para mim e perguntou: "Aê moleque, tu tem telefone?" Respondi que sim e ele replicou: "Então liga para tua mãe e avisa que não vai voltar para casa hoje. Você vai concentrar com os profissionais".
Após a saída de Romário e com o Vasco em crise, Carlinhos voltou aos juniores e só teve outra chance em 2010, quando o técnico Paulo César Gusmão o puxou novamente para o time de cima, com as lesões de Ramon e Ernani. Virou titular, atuou por algumas partidas, mas acabou não agradando muito a torcida vascaína, que o vaiou em alguns jogos.
- Assumo a minha parcela de culpa. Quando você vive um bom momento, acha que ele nunca vai acabar. Não me deslumbrei, sou muito simples, mas acho que faltou na época uma percepção maior de que eu precisava trabalhar mais para crescer. Mas isso é normal, eu era um garoto.
Nos tempos de Vasco, entre 2006 e 2011, o drible fácil com a perna esquerda e a posição em campo fizeram com que diversas pessoas dentro do clube o comparassem a Felipe.
- Guardadas as devidas proporções, eles têm o mesmo estilo sim. O Carlinhos é um jogador técnico, muito refinado, que tinha um ótimo drible e fez uma bela dupla com o Alex Teixeira pelo lado esquerdo - relembra Leonardo Gonçalves, que foi diretor da base vascaína na época em que o então lateral estava no clube.
Carlinhos, no entanto, rechaça qualquer tipo de comparação com um craque consagrado, e novamente cai no riso quando perguntado sobre o tema.
- Preciso jogar muita bola para chegar no nível do Felipe. Ele é um craque, um ídolo, e tive a felicidade de jogar com ele no Vasco em 2010. Foi um sonho realizado.
O bom desempenho de Carlinhos no estadual já gera especulações em várias equipes, como Flamengo e Fluminense, e o meia se diz preparado para encarar o desafio de jogar em um clube de Série A novamente. O contrato dele com o Madureira vai até o dia 8 de maio, e a possibilidade de sair é grande. O meia, no entanto, nega que esteja negociando com outros clubes no momento.
- Hoje eu me sinto tranquilo, sereno e com muita vontade de vencer. Quero ser um jogador vitorioso, e não uma promessa que jogou no Vasco, no Madureira e depois sumiu. Mas juro que no momento não converso com nenhum clube - finalizou.
Fonte: GloboEsporte.com