Há sete anos, o tetracampeão mundial Mazinho decidiu procurar a CBF. Seu filho mais velho, Thiago, então com 16 anos, começava a se destacar nas categorias de base do Barcelona e acabara de ser convocado para a seleção sub-17 da Espanha. Paraibano de Santa Rita, na região metropolitana de João Pessoa, campeão por Vasco e Palmeiras, o ex-jogador tomou um susto. Não conseguia imaginar um filho seu jogando por outra seleção. Decidiu agir para evitar o que considerava um sacrilégio. Veio ao Rio e foi recebido friamente na sede da CBF. Ninguém quis ouvir a história de seu filho, muito menos os argumentos e as preocupações do tetracampeão. Ouviu de um dirigente da época que jogadores formados no exterior não interessavam. Voltou arrasado.
— Fiquei muito triste, desapontado. Defendi a seleção por muitos anos e queria que meus filhos fizessem o mesmo. Sou brasileiro, tenho orgulho do meu país. Aquele pessoal não está mais na CBF, e o Thiago não pode mais jogar pela seleção — lamentou Mazinho.
Mazinho retornou para a Espanha e tocou a vida. Thiago se tornou um jogador de destaque (jogou toda as categorias de base pela Espanha) e hoje defende o Bayern de Munique, que pagou R$ 73,8 milhões para tirá-lo do Barcelona em 2013. Foi um pedido do técnico Guardiola, que o lançou no time catalão quando era um menino. Na sexta-feira, ele foi convocado pelo técnico Vicente del Bosque para o amistoso da Espanha, na quarta-feira, contra a Itália, e é nome certo na seleção espanhola que virá ao Brasil.
Não era bem o que Mazinho sonhava. Jamais imaginara que um dia ficaria dividido num jogo envolvendo a seleção brasileira, pela qual atuou quase 50 vezes. Agora, está numa encruzilhada. E se Brasil e Espanha se cruzarem na Copa, o que pode acontecer já nas oitavas de final? E se os dois países decidirem o Mundial.
— Olha, não quero nem pensar. Eu já tenho ingresso para a final, mas se for Brasil x Espanha, não vou ao Maracanã. Vou para algum lugar esperar o fim da partida. Mas lá no fundo, acho que vou torcer pelo Brasil.
Além de Thiago, Mazinho é pai de Rafael, 20 anos, jogador do Barcelona emprestado ao Celta de Vigo, e de Thaissa, 15 anos, jogadora de basquete também do Celta, clube, por sinal, que o paraibano defendeu na Espanha.
Thiago nasceu na Itália, Rafael em São Paulo e Thaissa na Espanha. Todos têm passaportes espanhol e brasileiro. Rafael, que também é meia, defendeu a seleção brasileira sub-20 no Sul-Americano disputado no início do ano passado. Ou seja, depois da mancada que deu em relação a Thiago, a CBF reviu os critérios adotados nas categorias de base.
Apoio a Diego Costa
No futuro é possível até que Rafael e Thiago se enfrentem numa Copa. Não será a primeira vez. Em 2010, os irmãos Prince e Jerôme Boateng duelaram no Mundial da África do Sul. O primeiro defendendo Gana, o segundo, a Alemanha.
— Mas eles são irmãos apenas por parte de pais. Thiago e Rafael são filhos do mesmo pai e da mesma mãe. Isso nunca aconteceu — frisa, num misto de orgulho e espanto.
A polêmica envolvendo o atacante brasileiro Diego Costa, do Atlético de Madrid, que se naturalizou espanhol e preferiu jogar pela Espanha, foi acompanhada por Mazinho. Para ele, o centroavante acertou ao dar preferência à Fúria.
— Não é de hoje que o Diego está jogando muito bem. Mesmo assim, só foi chamado para a seleção num amistoso. Nada indicava que teria uma chance de jogar a Copa pelo seu país. Ele não tinha motivo para negar a convocação espanhola. Aqui, ele sempre foi reconhecido.
Querer jogar um país inteiro contra uma pessoa, é, segundo Mazinho, uma covardia da CBF.
— Se perguntassem ao Diego Costa se ele preferia jogar a Copa pelo Brasil ou pela Espanha, tenho certeza de que ele escolheria o Brasil. Mas se esta possibilidade não existe, você não pode desperdiçar a chance de jogar um Mundial, ainda mais por uma seleção como a da Espanha — lembra Mazinho, que não entende por que Felipão não deu mais chances a Diego Costa, já que o jogador do Atlético de Madrid é um centroavante de área, exatamente como o treinador brasileiro gosta.
Campeão da Copa América em 1989 no Maracanã — foi dele o cruzamento para Romário marcar de cabeça o gol da vitória de 1 a 0 sobre o Uruguai — Mazinho sabe o que é jogar pela seleção com o apoio da torcida. Por isso, faz coro com quem considera a seleção favorita:
— Felipão conseguiu dar estabilidade ao grupo e uma identidade ao time. Jogando em casa, somos muito fortes, o que ficou provado na Copa das Confederações.
Mazinho andava preocupado com a seleção. Sem competições oficiais para jogar, ele temia que a equipe chegasse à Copa sem o espírito de grupo. E usa a seleção de 94, da qual fez parte, como exemplo.
— Começamos muito mal as eliminatórias e depois demos a volta por cima. Chegamos à Copa muito unidos.
A primeira temporada de Neymar no Barcelona tem sido acompanhada. Mazinho conhece bem o clube catalão e pode afirmar que jogador brasileiro tem tudo para se dar bem. O fato de o craque não ser ainda titular absoluto é normal.
— Neymar está indo bem e sabe que tem que fazer parte do rodízio de jogadores no início. O que ele faz em campo com a idade que tem não é para qualquer um.
Mazinho continua acompanhando o Vasco. Lamenta a situação do clube, mais ainda por ver o ex-companheiro Roberto Dinamite sendo criticado:
— Eu não esqueço o Vasco. Eu vou no YouTube e revejo alguns gols que fiz. Tem dois que marquei num jogo contra o Botafogo, em 1988, que não canso de ver. É triste ver o Vasco na Segunda Divisão. Espero que o time volte logo à Primeira. Futebol é resultado. O Roberto já deve ter percebido que sem vitórias não dá para levar apenas no nome.
Fonte: Globo Online (texto), Reprodução internet (foto)