A lista de clubes por onde passou como jogador é vasta. Luis Carlos Winck, hoje com 51 anos, se formou nas categorias de base do Inter e subiu para o grupo profissional em 1981, com 18 anos. Até 1996 passou por Vasco, Grêmio, Corinthians, Atlético-MG, Botafogo, Flamengo e seleção brasileira. Ficou conhecido pelo estilo de jogo na lateral direita e foi escolhido o melhor jogador da posição no país por dois anos. Até encerrar a carreira como jogador no São José, em Porto Alegre.
- Acho que como atleta atingi o pico máximo que se deseja - resume, em entrevista ao GloboEsporte.com por telefone, antes de iniciar mais um treino.
O treino em questão é o do Passo Fundo, time da Região Norte do Rio Grande do Sul, na cidade de mesmo nome, com pouco menos de 180 mil habitantes, onde Winck trabalha como treinador. Foi em 1998, depois de cerca de dois anos afastado dos gramados, que ele voltou a atuar no futebol. Deixou para trás a vida de atleta para encarar uma nova etapa. E como técnico, iniciou no mesmo São José em que se aposentou como jogador. Além do bom trabalho no comando do terceiro colocado do Grupo B do Gauchão, outro motivo coloca o ex-atleta em destaque: o desempenho de seu sobrinho, o também lateral Cláudio Winck, de 19 anos, do Internacional.
- Gostaria que ele fosse titular, seria o seguimento da minha carreira - comenta.
O Winck mais velho dá conselhos ao mais novo, mas também não deixa de aprender. Após 16 anos como treinador e estágios com Celso Roth e Abel Braga, ele não abandona os estudos e as pesquisas. Como técnico, também já rodou o Brasil, porém por clubes de menor expressão.
- A ideia é essa, buscar diariamente o aprendizado para poder chegar a um grande clube, como os que eu passei como jogador - salienta.
No Passo Fundo, Winck disputa o Gauchão e está na terceira colocação do Grupo B, atrás apenas de Grêmio e Cruzeiro de Porto Alegre. No segundo semestre de 2013, com a mesma equipe, o técnico comemorou o título da Copa Serrana, um torneio regional, vencendo o Lajeadense. De 2010 a 2013 também trabalhou no Rio Grande do Sul, passando novamente pelo São José, pelo Inter de Santa Maria e pelo Esportivo, onde foi campeão da Divisão de Acesso do Gauchão, alcançando vaga na Série A.
Fora do estado, trabalhou no Amazonas, onde comandou o Grêmio Coariense em 2005, mesmo ano que teve passagem pelo São Raimundo. Em 2007 treinou dois clubes do Maranhão, Sampaio Corrêa e Bacabal. Transferiu-se para o River, do Piauí, em 2008. No mesmo ano, voltou ao Bacabal. Em 2009, Winck retornou ao São Raimundo e, no fim do ano, mudou-se para o Paraná para treinar o Cianorte.
Como técnico, ele ainda busca seu melhor momento. Como jogador, as lembranças são muitas. Mas tem uma que o ex-lateral-direito faz questão de destacar. Na memória, ele guarda com carinho um dos principais momentos que viveu com o Vasco, em 1989.
- Aquele título brasileiro contra o São Paulo - responde, sem precisar parar para pensar.
Na ocasião, ele foi um dos principais destaques da equipe e foi responsável pelo cruzamento perfeito para o gol do título de Sorato, de cabeça, em pleno Morumbi (assista ao vídeo do gol de Sorato).
- Estava voltando da recuperação da uma fratura na tíbia, que tive ainda no Inter. Foi justamente no momento em que eu estava também na Seleção como titular e perdi a vaga por causa da fratura. Depois fiquei fora da Copa do Mundo (de 1990) - recorda Winck, que na época pôde usar a conquista com a camisa colorada como um alento.
TALENTO DE WINCK FICOU FORA DAS COPAS
Talvez a grande frustração da carreira de Luis Carlos Winck como jogador foi não ter jogado uma Copa do Mundo. Na primeira oportunidade, em 1986, ficou fora em razão da pouca idade, como ele mesmo conta. Tinha 23 anos, mas o técnico da Seleção Brasileira na época, Telê Santana, optou por um plantel mais experiente.
Depois veio a Copa de 1990, quando não foi convocado por Sebastião Lazaroni, prejudicado pela lesão que teve na tíbia e que o afastou de partidas com a camisa da Seleção antes do Mundial. Por fim, em 1994, uma lesão na coxa foi o empecilho.
- Tive três oportunidades. Em 94 cheguei a ser convocado, mas a lesão na coxa acabou me deixando de fora. Foi uma situação que me deixou triste porque vivia sendo convocado e não consegui, como atleta, jogar uma Copa.
No total, Winck soma 32 participações pela seleção brasileira. Características como velocidade, marcação, bom passe e facilidade para fazer cruzamentos foram essenciais para que ele alcançasse o sonho de defender seu país, apesar da ausência na principal competição do futebol.
FUTEBOL FAZ PARTE DA FAMÍLIA
Natural de Portão, na Região do Vale do Caí, Rio Grande do Sul, Winck não foi o único da família a seguir carreira no esporte. Assim como ele, o irmão Sérgio, que hoje gerencia uma imobiliária, passou pela dupla Gre-Nal, além do Juventude, como meio-campista. E os dois filhos dele, sobrinhos de Luis Carlos, seguem o mesmo caminho.
Cláudio Winck é lateral-direito, mesma posição do tio. Aos 19 anos, é um dos destaques do time sub-23 do Inter. Já recebeu elogios do técnico Abel Braga, e vem ganhando oportunidades no Gauchão. Na temporada já tem quatro gols, sendo dois pelo estadual.
Abelão explicou, recentemente, os motivos que o fizeram se render ao futebol do jovem. Para o comandante colorado, Cláudio pode ser ainda melhor do que o tio Luis Carlos.
- Na época do Winck era um futebol mais fácil de jogar. Hoje o espaço é maior, a condição física é maior e a marcação individual é em cima. Nesse momento, acho que ele tem possibilidade de ser melhor, superior, mas isso ele tem que provar no campo. Se ele conseguir tudo aquilo que o tio conseguiu, titularidade, seleção brasileira, ele pode ir longe - avaliou.
A família de atletas ainda se completa com Lucas, meia-atacante do Passo Fundo, onde é treinado justamente pelo tio Luis Carlos. O jogador tem 23 anos, e atualmente é reserva, mas costuma entrar durante as partidas.
No dia a dia no clube, Winck vive uma relação profissional com o sobrinho, da mesma forma que lida com os outros atletas.
- O Lucas é um menino bom, a gente conversa mais sobre futebol, no clube é profissional, não poderia ser diferente. Fora isso, em casa é outra coisa - comenta.
Quando conversa com Cláudio, Winck diz que sente-se à vontade para aconselhar o sobrinho, que trabalha em outro clube.
- Acompanho ele quando posso e, se tenho que acrescentar alguma coisa, eu falo, nem que seja para corrigir algum posicionamento - completa.
O ESTILO DO TREINADOR WINCK
A inspiração de Winck na carreira de treinador é nada menos que Ênio Andrade. Campeão brasileiro invicto pelo Inter em 1979, também conquistou o nacional na sequência com Grêmio e Coritiba na década de 1980. Conhecido pelo seu estilo versátil, o comandante também passou por outros clubes do Brasil.
- Foi um dos maiores treinadores com quem eu tive a oportunidade de trabalhar - ressalta.
Galgando seu crescimento como técnico, Winck entende que o comandante de uma equipe não deve ser uma pessoa autoritária. A forma de gerir um grupo de jogadores das mais variadas idades e estilos é uma das questões que ele procura trabalhar.
- Uma coisa que eu prego é a questão da liderança. Não precisa gritar com o atleta para mostrar quem é que manda - justifica.
Ao comparar o futebol de sua época como jogador, com o dos dias atuais, Winck destaca diferenças. Por isso, ele entende que os clubes precisam também alterar a preparação para que ela seja mais adequada aos tempos modernos.
- Hoje o campo ficou pequeno, a marcação é muito intensa, muito rápida. É força, velocidade, intensidade o tempo todo. Na minha época alternava, hoje o espaço encurtou - analisa.
- Acho que os clubes deveriam trabalhar mais ainda. Ainda tem jogadores com defeitos em fundamentos de jogo. Tem se dado muita ênfase à parte física, e se esqueceu da parte de fundamentos - completou.
E esse trabalho, segundo Winck, começa na base.
- A gente procura corrigir o que a gente vê. É um trabalho que se começa de base.
É com essas premissas que Luis Carlos Winck segue em busca de sucesso como treinador. No Passo Fundo o contrato se encerra ao fim do Gauchão.
- Minha ideia é estar crescendo sempre, fazendo bom trabalho alcançando novos horizonte.