Aos 11 minutos do primeiro tempo do clássico entre Flamengo e Vasco, no último domingo, o meia Douglas cobrou falta com categoria e fez a bola tocar o travessão antes de quicar dentro do gol rubro-negro. Desde então, todos aqueles que assistiram o lance se perguntam como o auxiliar de linha de fundo Rodrigo Saraiva Castanheira, posicionado a pouquíssimos metros do local, não viu aquilo que parecia óbvio.
E por mais que pareça não ter uma explicação clara, o caso tem resposta. Pelo menos para os especialistas ouvidos pelo UOL Esporte.
"Não houve um erro ótico. Foi coisa emocional. Tecnicamente falando, era impossível não ver a bola entrando daquela posição. O árbitro auxiliar tinha todas as condições de enxergar claramente a bola ultrapassando a linha do gol. Como eles fazem exames regulares, creio que tenha uma boa visão. Logo, não poderia deixar de marcar o gol. Não foi uma questão técnica, mas sim emocional", explicou o experiente oftalmologista Luciano Gonçalves.
"O lance do gol do Flamengo [marcado por Elano] ainda poderia gerar uma dúvida, já que não tocou a linha, mas o outro auxiliar acertou. O lance do Vasco não tinha dúvida. O erro é claro", completou Luciano.
A psicóloga esportiva Maíra Ruas endossou o discurso do colega. Diante da posição do oftalmologista, a profissional disse que somente a questão psicológica explica o lance.
"Pela minha experiência neste mundo de esporte, posso dizer que fica claro que o fator da pressão fez com que o profissional perdesse a concentração nos detalhes. Quando o lance é maior, fica mais fácil. Quando há um detalhe deste tamanho, somada a responsabilidade de determinar um gol em um grande clássico, complica. Por mais que estejam preparados psicologicamente, a pressão dificulta a percepção focal em um mínimo detalhe. Ele viu o lance, mas a pressão atrapalhou e, então, acabou errando, não sinalizando o gol", analisou Maíra.
Procurado pela reportagem após o diagnóstico de oftalmologista e psicólogo, o presidente da Comissão de Arbitragem da Federação do Rio (Coaf-RJ), Jorge Rabello, disse acreditar na versão de ambos.
"Respeito muito a opinião técnica dos especialistas e acredito que possa ter ocorrido isso. Não vou julgar ainda mais o que houve, mas passo garantir que foi um erro cognitivo, e não de lógica. Ele não deixou de ver, até porque estava bem posicionado, mas deixou algum fator interferir. Só queria ressaltar que não houve má fé. E os profissionais que analisam o caso entendem isso", disse Rabello.
E se a pressão já era enorme no momento de tomar a decisão do gol, se tornou praticamente insustentável para o auxiliar Rodrigo Saraiva Castanheira após o clássico marcado pelo erro. Com isso, o presidente da Coaf-RJ decidiu afastar temporariamente o profissional da escala de arbitragem até que o mesmo se recupere psicologicamente.
Fonte: UOL