Os primeiros dias de convocação dos sócios que entraram em 2013 no quadro associativo do Vasco foram de pequena movimentação em São Januário, mas de muita agitação política no clube. Na última semana, após chamado com aviso de recebimento dos primeiros 500 associados convocados - serão mais de três mil ao todo -, cerca de 70 pessoas foram à sede do Vasco regularizar sua situação, conforme nova determinação da comissão de sindicância criada pelo presidente Roberto Dinamite. Mais de 100 cartas retornaram ao clube, sem encontrarem os destinatários nos endereços das fichas cadastrais. Por sua vez, o grupo de oposição ligado a Eurico Miranda denunciou extravio de documento e até intimidação no ato de recadastramento no Vasco.
Nesta quinta-feira, a comissão se reúne para o primeiro balanço do trabalho iniciado no fim do ano passado. A adesão em massa de mais de três mil pessoas no quadro social vascaíno em abril – no último dia do mês, 1.730 novas fichas foram entregues na secretaria do clube – provocou denúncias de irregularidades de grupos políticos. A prática foi noticiada pelo GloboEsporte.com em outubro do ano passado. A reportagem apresentava depoimentos de novos sócios que admitiam ter mensalidades pagas pelos grupos do ex-presidente Eurico Miranda e do ex-vereador Roberto Monteiro, dois dos candidatos à presidência do Vasco.
Nessa terça-feira, o movimento era muito pequeno no portão 19, onde estão sendo recebidos os associados convocados para o recadastramento. Na entrada, fica um segurança do Vasco que, antes de permitir a entrada do associado, questiona se o associado está com a carta enviada pela comissão e indica para uma sala com identificação improvisada: "Posto avançado da secretaria". Segundo um funcionário, a média é de seis entradas de sócios por dia no local.
O vice de finanças, Jayme Lisboa Alves, um dos coordenadores da comissão, disse que o trabalho deve ser finalizado até março. Após a convocação de mais de três mil associados, a comissão vai enviar um relatório para o presidente Roberto Dinamite. Com a baixa procura no chamado da comissão, há expectativa de que muitos associados possam perder direito a voto nas eleições deste ano, que ainda não tem nada definida.
- Menos de 70 pessoas foram ao clube para o recadastramento. E mais de 100 cartas já voltaram. Vão haver outras chamadas e vamos dar outras oportunidades para esses sócios. Vamos recebê-los – afirmou Jayme Lisboa Alves.
O ex-presidente Eurico Miranda, após a reunião no Conselho Deliberativo que concedeu prazo de 60 dias para reapresentação das contas de 2012 na noite dessa terça-feira, desdenhou do trabalho da comissão.
- Essa comissão e nada é a mesma coisa - disse o atual presidente do Conselho de Beneméritos.
Para Eurico, apenas o presidente do clube (Roberto Dinamite) pode tomar qualquer decisão neste sentido. O ex-presidente reforçou a orientação do Casaca! de que o associado só deve dar qualquer satisfação ao clube na secretaria de São Januário.
- Quem tem autoridade para cancelar o direito dos sócios? Aonde está previsto que a comissão tem esse direito? No estatuto do Vasco não tem essa história de a comissão vai fazer isso, a comissão vai fazer aquilo. É o presidente vai fazer isso ou o presidente vai fazer aquilo. Se o presidente chegar e disser ‘não’, aí é outra coisa. E tem mais, você não pode desligar o sócio sem dar a ele o direito de defesa - lembrou Eurico Miranda.
No artigo 14 do estatuto, há um trecho que diz que o associado só será dono de seus direitos - entre eles o do voto - no clube ‘depois do parecer da Comissão de Sindicância, encaminhada ao Presidente do Clube, que resolverá em definitivo sobre o pedido de admissão’. A comissão promete enviar um relatório ao presidente Roberto Dinamite e pressioná-lo a seguir o que estará neste documento. Porém, o acordo informal entre o presidente e o ex-presidente para adiar a votação das contas em 60 dias, que beneficiou Dinamite, deixa no ar a possibilidade do atual mandatário fazer vistas grossas para o trabalho da comissão.
Sócio não descarta ir à Justiça
Uma das polêmicas desse recadastramento foi relatada pelo Casaca!, grupo político de Eurico Miranda, que faz plantão na porta de São Januário na semana passada para acompanhar e orientar os associados no clube - a iniciativa se repete neste sábado em frente ao portão principal do estádio vascaíno. O médico Celso Dias, associado do Vasco desde 6 de abril de 2013, compareceu ao clube na semana passada poucos dias antes de sair de férias e viajar com a família. Foi até o portão 19 e foi recebido por uma funcionária do Vasco – ‘visivelmente constrangida’, conforme descrição ao GloboEsporte.com – para preencher nova ficha de inscrição. No formulário, ele colocou a mesma data de adesão do ano passado, além de acrescentar novos dados, como referências pessoais, empresa onde trabalha e contatos para confirmar as informações. No entanto, ele conta que seu comprovante de residência havia sido extraviado na secretaria do clube.
- No dia que fiz minha ficha de associado, dia 6 de abril de 2013, acabei não levando meu comprovante de residência, mas na semana seguinte quando fui associar minhas filhas anexei uma conta de luz como comprovante de residência. Nesta semana quando fui a São Januário, neste portão 19, levei todos documentos de novo, mas não estava meu comprovante de residência – contou o associado do Vasco, que apóia o grupo de Eurico Miranda nessas eleições.
Questionado sobre a possibilidade de não votar nas eleições, já que a diretoria do Vasco ainda não entregou carteiras de associados e a comissão admite que os convocados só tenham assegurado seus direitos no quadro social após este recadastramento, Celso Dias se mostrou incrédulo com esta chance, mas disse que não descarta ir à Justiça se não puder votar.
- Não cheguei a pensar nisso ainda, porque considero improvável, até porque não há nada na minha ficha que me desabone. Mas (uma ação na Justiça) parece que é tudo o que essa direção atual quer. Se isso acontecer (não poder votar), é provável que eu tome as medidas jurídicas cabíveis - disse o torcedor do Vasco.
No site do Casaca!, ainda há outro relato de associado que foi ao clube. Segundo o grupo político, houve "ameaças" e até perguntas na sala improvisada da secretaria de quem ganharia o voto do novo associado. Ao GloboEsporte.com, membros da comissão afirmaram desconhecer casos de extravio e de intimidação no recadastramento em São Januário.
Fonte: GloboEsporte.com
