Além da entrada maior dos estrangeiros no futebol nacional, outra faceta do inflacionado mercado brasileiro é que a negociação de direitos econômicos de jogadores apenas entre os clubes, sem a participação de um investidor, virou fato raro.
Negócios sem os figurões no tabuleiro só têm ocorrido com jogadores em fim de contrato. Nas recentes negociações significativas dentro do mercado brasileiro, por exemplo – como as de Leandro Damião (R$ 42 milhões, emprestados pela Doyen Sports), Montillo (R$ 16 milhões, emprestados pelo BMG) e Ganso (R$ 23 milhões, sendo R$ 7,5 milhões do DIS) –, os investidores tiveram parcela fundamental.
A compra de Alexandre Pato pelo Corinthians é que foi a exceção. Mas, ainda assim, o clube não ficou com 100% dos direitos do jogador: 40% passaram a ser do próprio Pato, como pagamento de luvas.
– Hoje os investidores estão declarados. Antigamente eles ficavam mais escondidos. Entendo que essa relação deve ser aberta, e é o que está acontecendo – diz o presidente do Grêmio, Fábio Koff, que defende uma limitação no percentual a que os investidores têm nos direitos dos jogadores:
– Poderiam estipular 20%, 30%.
No entendimento do advogado Marcos Motta, que atua com frequência em transações internacionais e tem participado de discussões a respeito da atuação de terceiros nos direitos econômicos dos atletas, o futebol brasileiro não consegue mais sobreviver sem os investidores. A culpa, segundo ele, é de uma gestão desregrada.
– Os clubes não têm condições de investir tanto. Todos têm buscado o apoio de investidores nas negociações. Recorre-se pela falta de capacidade de gerir recursos – sentenciou Motta, membro da academia LANCE!, que completou:
– Se acabarem com a participação de terceiros, o futebol brasileiro entrará em colapso.
FIFA AINDA NÃO VETA TERCEIROS
A participação de terceiros nas negociação e nos direitos econômicos dos jogadores é uma discussão em curso na Fifa e na Uefa. As entidades têm adotado posturas distintas. Enquanto a Fifa é mais cautelosa, a Uefa age com ímpeto no sentido de proibir.
Algumas ligas europeias, como a inglesa, já proibiram a participação de terceiros nos direitos. Mas a Fifa não deve seguir essa linha. A entidade deve estipular uma regulamentação mais específica no futuro para ter o controle desse tipo de ação.
Academia LANCE!
Marcos Motta - Advogado desportivo
Equilíbrio de finanças diminui dependência
Querer fechar a torneira, como defende a Uefa, parece um contrassenso, já que os discursos em todos os âmbitos é a busca por investimento. É só ver até o que a presidente Dilma tem falado. Não consigo imaginar o futebol brasileiro sem os investidores. O mercado está inflacionado, os jogadores estão caríssimos.
Mas nessa relação é preciso: 1- transparência; 2- transparência, 3- transparência. Isso vem através de uma regulamentação, informando o percentual que cada investidor tem, volume da parcela paga, entre outras coisas.
Para diminuir a dependência, é preciso ter despesa menor que a receita. Ponto. Na Europa, há controle financeiro. Até porque, se o clube não estiver em dia, a Uefa pode não dar o licenciamento, o que impede a participação em competições da entidade. E ninguém quer perder o dinheiro da Liga dos Campeões, por exemplo, que dá 200 mil euros/jogo na primeira fase. Isso mostra também a diferença de receitas que entram aqui e lá. O campeão da Libertadores não chega nem perto.
Fonte: Lancenet