Em 16 páginas, inúmeras irregularidades. Esta é a leitura do parecer emitido pelo Conselho Fiscal do Vasco, que somente esta semana foi distribuído pela secretaria do clube. Pela quarta vez consecutiva, o controle interno vascaíno recomendou a reprovação do balanço financeiro da gestão Roberto Dinamite. Desta vez, do ano de 2012. O trabalho comandado pelo presidente do Conselho Fiscal, Helio Donin, encontrou "inconsistências graves", "erros primários" e "completo descontrole financeiro da tesouraria", segundo termos que constam no relatório de contas que finalmente vai a votação na próxima terça-feira. O destaque negativo é a soma de 84 registros de gastos sem comprovação de documentos. Ou seja, o dinheiro saiu do clube, mas não há nota fiscal. Há outras pendências "inadmissíveis", de acordo com mais uma expressão do relatório. E a soma não é barata: R$ 3.092.022,37.
São mais de R$ 3 milhões em 84 operações contábeis do Cruz-Maltino. Donin alega que no início os valores eram ainda mais altos. Quando o clube publicou o balanço no dia 30 de abril de 2013, sem passar antes pelo Conselho Fiscal como deveria ser feito, os erros eram ainda maiores. Mais de 400 operações não tinham registros de documento. Em 15 de maio do ano passado, a diretoria publicou uma nova versão do balanço com correções e somente no dia 23 de setembro o Conselho Fiscal recebeu novos documentos para várias operações que não tinham seu destino explicado.
Donin garante que não vai se surpreender se a diretoria conseguir novamente aprovar as contas no Conselho Deliberativo apesar das irregularidades descritas no relatório. O recado é claro.
- Lá no Conselho Deliberativo a gente sabe que muitas vezes o voto é político. Nunca se sabe o que vai acontecer. Aconteceu isso (voto político) em 2011. Mas nosso parecer, mais uma vez, é muito claro. Somos todos profissionais da área. Dois empresários da contabilidade e um economista. Quando fazemos um parecer desse é com muita base, com muitos argumentos, com um trabalho enorme, muita dedicação - lembra Donin, que logo rechaça as críticas que muitas vezes são feitas contra os pareceres negativos à contabilidade do clube.
- Não é contra o Vasco, contra diretoria, nada disso. Muito pelo contrário. Terminamos nosso mandato em junho (na presidência do Conselho Fiscal). Queremos deixar um legado de seriedade e vamos ver se as novas diretorias acordam e fazem as coisas corretas para a frente. Somos um conselho fiscal do Vasco, não de uma diretoria ou de outra.
Normalmente polido em entrevistas, quase sempre discreto, Donin revelou ao GloboEsporte.com que foi procurado por grupos políticos para compor chapas. Mas fez questão de manifestar sua independência e correr de apoios a candidatos.
- Quase todos me procuraram para dar apoio para suas candidaturas. Mas não dá para fazer um trabalho independente e apoiar um candidato ou outro. Se for assim, vão falar que estou dando parecer contrário porque quero prejudicar um ou agradar outro - diz o presidente do Conselho Fiscal do Vasco.
Problemas antigos
No quadro de irregularidades, na página três do parecer distribuído entre conselheiros, o Conselho Fiscal mostra diversos problemas espalhados por praticamente todos os setores, todas as vice-presidências do Vasco. Na época, o vice-presidente de finanças era Nelson Rocha, hoje candidato à presidência do clube pela chapa Vira Vasco. O novo vice de finanças é Jayme Lisboa Alves, que promete fazer as justificativas da gestão Dinamite e tentar aprovar as contas de 2012 na votação do Conselho Deliberativo na próxima terça-feira. O GloboEsporte.com tentou contato nessa segunda com o vice de finanças, mas não obteve sucesso e nem retorno do dirigente.
De forma isolada, o Conselho Fiscal encontrou problemas na prestação de contas do contrato de benefícios da Ambev - inclusive com aditivos irregulares ao vínculo que a princípio ia até 2010, foi estendido até 2011 e agora está em vigor até 2015. Segundo o parecer, não foram colocados no balanço de 2012 nada sobre as benfeitorias que a multinacional de bebidas alcoólicas promoveu no clube.
As contas de 2011 foram aprovadas graças a algumas promessas da diretoria, além de um acordão político que contou com uma aliança indireta entre Roberto Dinamite e o ex-presidente Eurico Miranda. A gestão atual prometia contratar uma empresa para fazer auditoria no contrato com a Penalty. O Conselho Fiscal observava que o clube não tinha - ou não divulgava em balanço - controle sobre vendas de produtos e royalties de produtos oficiais do patrocinador esportivo com a marca do Vasco.
- Uma auditoria terminou sendo contratada (KPMG), mas não fez o trabalho de auditar esse contrato, não recebemos nada sobre isso. No programa de sócios, "O Vasco é meu", novamente o mesmo problema. Assim fica difícil - afirmou Donin.
O centro de treinamento de Itaguaí, alugado pelo empresário Pedrinho Vicençote, também foi motivo de questionamento pelo Conselho Fiscal, que contesta uma dívida de R$ 540 mil assumida e registrada pelo clube em balanço oficial.
- Depois que publicamos o parecer chegaram para a gente explicações, as pessoas dizendo que podem explicar. Mas damos todo o tempo do mundo para as justificativas antes de publicarmos o parecer. Agora, tem que justificar é para o Conselho Deliberativo - diz o presidente do Conselho Fiscal, comentando sobre os altos valores das irregularidades.
- O valor não é o mais importante. Se fosse R$ 0,01 ou R$ 3 milhões, continuaria sendo errado. Mas é claro que se você dividir os 84 registros sem comprovação por R$ 3 milhões (cerca de R$ 35 mil), você vê que houve grandes erros.
Fonte: GloboEsporte.com