Elogiado pela segurança e frieza, o uruguaio Martín Silva tem quatro anos de contrato e já conquistou a torcida. “Fui bem acolhido”, diz ele, antes do primeiro clássico. Martín lembra ainda da vez em que eliminou um rival do Vasco no Maracanã e fala sobre o Uruguai — suas origens, o país de hoje e o orgulho de defender seu povo na Copa do Mundo do Brasil.
Para que o torcedor do Vasco te conheça melhor, conte um pouco da sua origem, e de como começou no futebol...
Sou de Montevidéu mesmo. Minha mãe trabalha no setor administrativo de um laboratório, meu pai é carpinteiro. Tive uma infância normal. Desde muito pequeno, jogava futebol, numa escolinha. Jogava como um atacante. Mas, quando ainda tinha cerca de 5 ou 6 anos, o professor perguntou quem gostaria de ser goleiro. Uns cinco garotos levantaram a mão, e ele me escolheu porque eu era o mais alto. E aí foi... Com 12 anos, comecei nas categorias menores do Defensor (ele se profissionalizou no Defensor e em 2011 foi para o Olimpia, do Paraguai).
Há alguns anos você está na seleção uruguaia, embora o titular seja Muslera. Qual a expectativa de jogar a Copa do Mundo no Brasil, onde o Uruguai ganhou em 1950, um título considerado por muitos o maior da história do futebol?
Olha, na realidade, eu acho que as pessoas de fora do futebol veem uma mística maior nisso do que nós jogadores. É uma coisa de que se fala muito no Uruguai. Para mim, poder jogar a Copa no Brasil me anima. É o país do futebol. Só por isso, de estar entre os melhores, no maior torneio de todos, é o principal. A vitória de 1950 já tem mais de 60 anos, eu não penso tanto nisso. O que me dá mais alegria, pela seleção, é o orgulho que o povo uruguaio sente da gente.
Em que sentido?
Somos um país pequeno, com uma população bem pequena, uma das menores (3,4 milhões de pessoas, em dado de 2012). E, ainda assim, quando se fala de futebol nós nos metemos entre as grandes potenciais mundiais, entre os grandes países do primeiro mundo. Isso traz um sentimento de orgulho para a população, e para nós, que somos aqueles 20 ou 30 jogadores que representamos isso, é muito bonito.
Este sentimento torna a seleção uruguaia mais forte?
Acredito que sim. Temos um treinador (Óscar Tabárez) que nos fortalece muito. Tenho muita gratidão por ele, já tem me chamado há um tempo para a seleção. E aprendo muito com ele, tanto no profissional como no aspecto pessoal. Acho que viremos com muita força no Mundial.
O presidente do Uruguai, Pepe Mujica, é muito bem visto aqui no Brasil, principalmente pelos jovens, e por setores da esquerda, pelo seu estilo. Como vê o presidente?
Eu acho que Pepe se manteve fiel a seu estilo, à sua personalidade, mesmo sendo o presidente. É uma coisa que vai além da política. Ele não ostenta, não tem muitos bens. E acho que isso é um bom exemplo para os jovens, mostrar que os princípios são mais importantes do que a coisa material. Meus pais o apoiam, votaram nele. Mas eu prefiro não falar muito de política.
Saindo do Uruguai para o Brasil, a torcida do Vasco te acolheu de imediato. Gritam “ah, temos goleiro” e vibram até com defesas simples suas...
Nunca tinha ouvido um grito como este, meus companheiros falaram, porque durante o jogo não consegui entender bem o que os torcedores cantavam. É muito bom, me sinto acolhido e serve como motivação. Agora temos um clássico, os jogadores falam da importância também. Estou tranquilo, me sentindo bem aqui no Vasco.
Como está a vida no Rio? É diferente ou parecido com o que você esperava? Já conheceu a cidade?
Na realidade, não tenho tido tempo. Não conheço muito mais do que o caminho entre a Barra, onde estou morando, e São Januário. Mas é claro que é lindo, ainda quero conhecer bastante, haverá tempo. Sobre viver aqui no Brasil, acho que está mais ou menos dentro do que eu esperava. Recebi muitas informações antes de vir para cá. Meu empresário mora no Rio também. Conversei com vários companheiros da seleção sobre o futebol brasileiro: Lodeiro, Forlán, Victorino, Eguren... O Lugano é um que fala com muito entusiasmo do futebol brasileiro. Está tudo indo bem por enquanto...
Será seu primeiro clássico pelo Vasco, mas não a primeira vez que você jogará no Maracanã. Em 2007, você era o goleiro do Defensor que eliminou o Flamengo da Copa Libertadores. Os vascaínos vão gostar que você lembre daquele confronto...
(Risos) Eu lembro muito bem. Eram as oitavas de final. Ganhamos de 3 a 0 no Centenário, e viemos decidir no Maracanã. Lembro que eles (os rubro-negros) estavam muito otimistas para reverter, mas nós conseguimos segurar em 2 a 0. Para nós foi um ano especial, o Defensor é uma equipe pequena e conseguiu chegar longe na Libertadores.
Agora, você terá o Maracanã com a torcida a seu lado, gritando seu nome.
Vai ser bonito. Uma chance de conhecer a torcida do Vasco em maior número. Jogar com o estádio cheio, a seu favor, é sempre o que todo jogador gosta de fazer. Mas eu tento me preparar para todos os jogos da mesma maneira. Um jogador não pode pensar apenas nos clássicos, porque não pode entrar desanimado em um jogo com menos público, ou menos importante. Espero que tudo corra bem no Maracanã.
Até onde acredita que este time do Vasco poderá chegar?
Acho que ainda estamos no começo. Estou conhecendo os jogadores ainda, mas vejo qualidade no grupo. Sei que o Campeonato Carioca é importante, depois teremos o Brasileiro para jogar. Como já disse, o descenso não diminui a grandeza do clube. Estou animado para ganhar títulos pelo clube.
Fonte: Globo Online