Adilson Batista não abre mão da serenidade no comando do Vasco. Aos 45 anos, o técnico manifesta diariamente o desejo de fazer o trabalho "decolar" em São Januário. É quase como uma resposta pela passagem apagada por seis clubes desde que deixou o Cruzeiro, agremiação da qual se arrepende até hoje de ter saído.
Em entrevista ao UOL Esporte, o treinador admitiu a frustração por não ter "rodado" no futebol paulista. Passou por Corinthians, Santos e São Paulo sem destaque e conviveu com duras críticas. Ele tenta se reinventar no Rio de Janeiro e aposta as fichas na disciplina para mudar a história do Vasco e reconquistar o espaço no futebol brasileiro.
Confira os principais trechos da entrevista com Adilson Batista
UOL Esporte: Você não conseguiu emplacar um trabalho de destaque desde que deixou o Cruzeiro. Como analisa a sua situação no mercado de técnicos do futebol brasileiro?
Adilson Batista: Jamais deveria ter saído do Cruzeiro. Me arrependo da decisão tomada. Não ouvi os dirigentes, a comissão técnica, as pessoas que trabalhavam lá e achei que deveria sair naquele momento. Estava esgotado com algumas situações, mas poderia ter um pouco mais de paciência. A situação vai virar. Ainda sou novo. Tenho 45 anos. Espero que aconteça o mais rápido possível. As pessoas julgam pela ótima fase que tive no Cruzeiro. Mas vamos pensar do Cruzeiro para trás. Fui muito bem no Mogi Mirim, América-RN, Avaí, Paraná... E ainda livrei Grêmio, Paysandu e Figueirense do rebaixamento.
UOL Esporte: Como foi assumir o Corinthians logo após a saída do Mano Menezes para a seleção brasileira?
Adilson Batista: Não que seja uma defesa. Peguei um clube em primeiro e larguei em terceiro. Tivemos muitas dificuldades com lesões, casos do Ralf e do Jorge Henrique. Outros atletas importantes machucaram e complicou bastante. Poderíamos ter uma sorte melhor na sequência de jogos. Tanto que o Corinthians perdeu para o Tolima e mandou 12, 13 atletas embora. Isso só confirma que se você não tiver um bom elenco pode ter dificuldades.
UOL Esporte: A sua passagem pelo Santos foi ainda mais rápida. O que aconteceu na Vila Belmiro?
Adilson Batista: Peguei o time sem quatro atletas na seleção sub-20 e outros quatro lesionados. Estava bem no Campeonato Paulista. Sofri uma derrota, empatei um jogo e resolveram me mandar embora. Até hoje não entendi a decisão. Tenho a certeza de que foi uma injustiça pelo pouco tempo que tive para trabalhar.
UOL Esporte: Você ficou três meses no São Paulo. Quais foram os principais erros ao dirigir a equipe do Morumbi?
Adilson Batista: Também recebi o convite no meio da competição. Cheguei e empatei nove vezes. No próprio jogo em que fui demitido foram quatro bolas na trave. Achei que o trabalho foi bom, o resultado que não aconteceu. Infelizmente, fui demitido e o presidente me disse que o problema do São Paulo não era treinador. Isso me conforta. Queria ter cinco jogadores como o Rogério Ceni nas questões de profissionalismo, ambição e brilho nos olhos naquele grupo. Algumas pessoas não querem isso. Morei no CT e sabia desde o início que não poderia errar.
UOL Esporte: O fato de não ter dado certo dirigindo clubes paulistas ainda incomoda?
Adilson Batista: Muita gente joga para a torcida na situação de mandar embora. É preciso analisar as coisas. Se não tivesse perdido jogadores, estaria no Corinthians. Se não tivesse empatado demais, estaria no São Paulo. É complicado trabalhar desse jeito. Alguns jogadores dificultam o processo, reforços não são contratados. Claro que você fica chateado. São três grandes agremiações e com oportunidades para aproveitar. Restam alguns exemplos. O Telê Santana ficou três meses no São Paulo, também foi mandado embora e virou o Telê depois de algum tempo. O Tite sofreu muito. O Felipão também amargou bastante coisa ruim no Chelsea. A nossa vida é assim.
UOL Esporte: Como ter paciência com as cobranças e tentar fazer diferente no Vasco? Qual é o segredo?
Adilson Batista: Também recebi pressão no Cruzeiro e tive que provar com trabalho. Às vezes, ficamos chateados com algumas situações e tomamos decisões prejudiciais. Montei o time do Cruzeiro e entreguei de "mão beijada". Hoje, faria diferente para não abrir mão de um trabalho construído. Confio no que faço, estudo e corro atrás. Procuro passar o máximo aos jogadores nos treinamentos. A disciplina é fundamental. Como comandante posso dizer que tudo tem um limite. Existe a hierarquia e o respeito. A nossa intenção é ajudar os jogadores e mostrar o caminho no Vasco. Oferecemos ajuda a todos, mas se um não quiser posso utilizar outros 20 ou 28 atletas. Se você deixa de tomar atitudes benéficas ao grupo vira uma bagunça.
UOL Esporte: Qual a diferença do jogador atual para a sua época de atleta?
Adilson Batista: Jogávamos pelo treinador, pela instituição, pelo torcedor e pelos companheiros. Hoje é muita informação, interesse e os valores são outros. Procuramos passar o que é importante, mas não tem como segurar e controlar quando o cara sai do clube. Tentamos com a ajuda dos psicólogos, nutricionistas, área médica e motivacional para que os jogadores respeitem e vivenciem o clube da melhor maneira possível.
UOL Esporte: Jogador derruba técnico? Já passou por isso?
Adilson Batista: Pode até ser. Ainda não trabalhei com grupos assim. Evidente que existem treinadores capacitados que sabem conduzir elencos diferentes. Isso envolve uma série de fatores no dia a dia. Você sente que determinados atletas não gostam desse ou daquele e não vão se esforçar. Sabemos que sempre estoura no treinador. Não vivenciei isso, mas acho que pode acontecer.
UOL Esporte: Qual a sua maior mágoa na carreira? O que esperar do Vasco em 2014?
Adilson Batista: O rancor é muito ruim para uma pessoa. Sou cabeça boa. Acontece de ficar chateado por sonhos que não foram possíveis, por querer jogar uma Copa do Mundo ou uma Olímpiada, por estar mais jovem em determinados clubes... Mas não tenho do que reclamar. Sei da grandeza do Vasco. Representa bastante estar aqui. É um clube novo, quero ganhar a confiança de todos e conquistar títulos. Só isso marca a carreira. É o que espero.
Fonte: UOL