Nunca Ariel Suárez e Cristian Rosso, remadores argentinos multicampeões do Vasco, haviam ficado tanto tempo no Rio de Janeiro a serviço do clube. Do final de setembro ao final de outubro de 2013, eles permaneceram cerca de um mês na Sede Náutica da Lagoa, participando de várias provas e proporcionando aos jovens atletas vascaínos a possibilidade de conviver diariamente e remar no mesmo barco de finalistas olímpicos. Para intensificar esta situação, vale muito a pena ressaltar que os dois ficaram hospedados em um dos dormitórios da Sede Náutica, dividindo até o mesmo cômodo com jovens remadores, sem cobrarem ao clube a estadia em algum hotel. Após iniciado o ano de 2014, o blog CRVG - Em Todos os Esportes traz um balanço da estadia deles na sede vascaína no ano anterior.
Ariel chegou ao clube no começo de 2010, e durante o ano teve muitas dificuldades. Ele pediu à diretoria de remo do Vasco que seu "fiel escudeiro" na Argentina também fosse contratado pelo clube. E o foi: no começo de 2011, Rosso chegou ao Vasco. Desde então venceram diversas provas pelo clube, tanto no Estadual quanto no Brasileiro. Certamente eles são dois dos principais, senão os principais, remadores em ação por clubes do Brasil.
Primeiramente, vale a pena ressaltar que esta foi a segunda oportunidade ao longo de todo o ano de 2013 em que eles vieram competir pelo Vasco. E a explicação para isto é clara: Ariel sofreu uma seríssima infecção bacteriana (traremos todos os detalhes dessa heróica recuperação em breve) em março, que o afastou por três meses de provas oficiais. Eles chegaram a participar em março da primeira regata do Campeonato Estadual (em 24 de março), compondo o four skiff que ficou em quarto lugar. Logo neste dia, diante de muitas dores, Ariel foi internado já no Rio de Janeiro (na Clínica São José), e seguiu no dia seguinte para Buenos Aires, quando foi constada a gravíssima enfermidade da qual sofria.
Na prova do double skiff pelo Estadual, especialidade dos dois (juntos, ficaram em quarto lugar na prova na última Olimpíada, em Londres, e em quinto lugar no último Campeonato Mundial, em Chungju, de 25 de agosto a 01 de setembro de 2013, além do ouro no Pan-Americano de Guadalajara, em 2011), eles não competiram, na segunda regata do Estadual, em maio, diante do problema de saúde de Ariel. Também neste período, em abril, Cristian foi campeão sul-americano no single skiff e, no double, sem Ariel, competiu ao lado de seu irmão, Brian Rosso, e também levou a medalha de ouro.
Após isto, eles retomaram a parceria na etapa da Copa do Mundo de Lucerna, na Suíça, ficando em sétimo lugar no double skiff, em julho. Como ápice da temporada, ficaram em em quinto lugar no Campeonato Mundial (competição bienal e que foi o destaque do calendário do remo internacional em 2013, em Chungju, com a final sendo disputada no dia 01 de setembro). No final de setembro, mais precisamente no dia 26 de setembro, uma quinta-feira, eles desembarcaram no Rio de Janeiro para iniciar a longa estadia na sede vascaína. Poucos dias depois, e com os atletas tendo pouco tempo de treinamento no barco, já disputaram, no domingo (29), o quatro com na quinta regata do Estadual, também chegando em terceiro lugar, com Felipe Damazio, Marcos Ibiapina e o timoneiro Bruno de França no barco. Após isto, os bons resultados chegaram, em suas especialidades.
No final de semana dos dias 05 e 06 de outubro, foi disputado no Estádio de Remo da Lagoa o Campeonato Brasileiro Sênior. E os dois participaram de três provas: single skiff (dois barcos vascaínos, portanto), double skiff e oito com. No single skiff (prova disputada no domingo, dia 06), Ariel sentiu a falta de ritmo após a séria contusão e a forte marola presente na Lagoa Rodrigo de Freitas, e acabou terminando em quarto lugar. Já Cristian mostrou toda a sua superioridade em relação aos adversários e conquistou com boa margem de diferença o ouro na prova.
No double skiff, que teve a distância reduzida à metade devido ao forte vento no sábado (de 2.000 metros para 1.000), eles mostraram o porquê de serem finalistas olímpicos e de Campeonato Mundial na prova e venceram com extrema tranquilidade. No oito com, compondo o barco com seis atletas jovens e inexperientes, terminaram em quinto lugar, sendo os dois primeiros remadores do barco.
Logo após esta competição, eles regressaram à Argentina por poucos dias, mas por um ótimo motivo: para cumprir um período de treinamentos da seleção argentina visando aos Jogos Sul-Americanos, que serão disputados em março deste ano em Chile, na capital Santiago.
Logo depois retornaram à Sede Náutica da Lagoa, e cumpriram um longo período de treinamentos até a próxima competição, que seria a sexta e última regata do Campeonato Estadual, disputada no dia 20 de outubro, quando competiriam em duas provas: single skiff e oito com. No single skiff, panorama muito similar ao Brasileiro: Ariel teve muitas dificuldades com a marola, e Cristian venceu a prova com extrema tranquilidade. Desta vez, contudo, Ariel subiu ao pódio, ficando em terceiro lugar. No oito com, também um panorama parecido com o Brasileiro: com muitos jovens no barco, o Vasco melhorou seu desempenho e brigou até os metros finais da prova pelo terceiro lugar, o que representaria vaga no pódio, mas acabou terminando em terceiro lugar, mas a melhora de desempenho em relação à prova no Brasileiro, oriunda do bom tempo de treinamentos, foi destacada por todos.
Resultados à parte, agora passaremos a destacar outro ponto fundamental da presença das feras argentinas no Vasco: além de ganharem as suas provas, num momento de escassez de bons resultados do remo vascaíno, e serem os dois únicos atletas sênior do clube ao longo do ano de 2013, eles representaram durante um mês um enorme exemplo para a garotada. Com o clube reestruturando-se a partir da base, os jovens remadores do Vasco tiveram a oportunidade de dividir quarto e barcos com dois finalistas olímpicos e com diversas outras conquistas no remo internacional. E os atletas aproveitaram bastante: sempre perguntavam, e perguntas das mais diversas ordens. E Ariel e Cristian não hesitavam em compartilhar as suas experiências. Em quase todos os dias, "palestras" eram realizadas, e os remadores das categorias de base do clube sempre ficavam muito atentos e com os olhos vidrados nos "professores". Se a diretoria de remo do Vasco poderia ter pensado em questionar o custo-benefício de manter os remadores no clube após o longo período sem eles virem ao Rio de Janeiro em virtude da contusão de Ariel, agora é unanimidade a importância dos dois na reestruturação do remo do Vasco. Sempre solícitos, muito trabalhadores e sem nenhuma arrogância, mesmo diante de currículos tão vastos, Ariel e Cristian conquistam a todos que acompanham o remo do Vasco. Após esse período de cerca de um mês no Vasco, eles retornaram à Argentina, seguindo a preparação para a temporada de 2014.
Exclusivo: a palavra das feras
Com exclusividade ao Blog CRVG - Em Todos os Esportes, os remadores fizeram um balanço da estadia de praticamente um mês no Vasco. Cristian destacou que nunca haviam ficado tanto tempo a serviço do clube:
- Foi um mês muito lindo poder treinar aqui. É a primeira em que ficamos tanto tempo. Há um grupo novo de meninos que têm muita personalidade e trabalham muito bem, querem melhorar. E é muito importante poder compartilhar com eles o dia a dia aqui na garagem.
Ao blog, Ariel deu uma ênfase especial à referência que eles são para a garotada, e deu muitos detalhes sobre isso:
- Acho que foi muito positivo. Os garotos perguntavam muito, da nossa experiência, de viagens, de regatas internacionais, como era tudo isso. E nós falávamos, tentávamos transmitir a nossa experiência, em competições, qual a sensação se deve ter nos treinamentos, qual sensação se deve ter nas competições. Positivamente no grupo, achei que são meninos novos, mas com muita gana de melhorar, muita gana de aprender. Isso é muito bom, é importante que queiram no dia a dia superar a si mesmo. Achei isso no grupo, muita gana de trabalhar. Temos que ajudar, eles têm que ganhar experiência.
Ele destaca o fato de que eles estão acostumados a treinar com atletas mais jovens e com pouca experiência:
- Para nós é normal, porque na Argentina também treinamos com garotos que estão começando a aprender. O que Cristian e eu fazemos é contar e falar de nossa experiência e mostrar a todo momento que realmente se pode fazer as coisas, se está decidido e quer. A verdade é que isso passa desapercebido para nós, os garotos que vêm e nos perguntam das viagens, de tempo, de técnicas, e nós tratamos de passar-lhes tudo que sabemos. Creio que viemos para cá para ajudar os jovens a ver outras coisas, a ver outra realidade. Temos a sorte de viajar por todo o mundo e ver outras coisas, isso tratamos de passar aos mais novos aqui.
Em outra entrevista, que veiculamos à época do Campeonato Brasileiro, Cristian mostrou satisfação por poder dar vitórias ao Vasco, ao qual é grato:
- O balanço é muito positivo neste Brasileiro. Estou muito feliz de poder vir para representar o Vasco da Gama, clube que já faz três anos que nos dá tudo. Estou muito satisfeito por poder vir e ganhar as regatas para o clube.
A palavra do treinador: Marcelo Neves
O coordenador-técnico do remo do Vasco, Marcelo Neves dos Santos (foto à esquerda), que está no clube desde 1995 e já viveu diversos momentos do remo do clube (muito bons e também muito ruins), também faz um balanço do período de um mês de Suárez e Rosso no Vasco. Mais no que ninguém, ele enfatiza sobremaneira a importância de os jovens tê-los como referência no dia a a dia da garagem e da Sede Náutica. Ele ressalta a importância da chegada de pelo menos mais dois atletas sênior para que o Vasco possa passar a disputar com chance de vitória as provas, na categoria Aberta, também de quatro e oito atletas.
- Mais do que participar de todas as competições da categoria deles, o mais importante é exatamente a presença dos dois na garagem, essa mescla. Ficamos em quarto agora no oito aberto no Estadual, com os dois argentinos e seis garotos muito novos, sem experiência nenhuma. Quatro remaram no 4 com Aspirante que ganhou o campeonato da categoria. É muito importante essa troca, que os dois passem a experiência que eles têm, essa vivência, para que os garotos se acostumem a correr, principalmente. Vai tomar porrada na categoria de cima? Não importa, mas o mais importante é que eles estejam ganhando experiência, ganhando quilometragem, ainda mais com dois atletas finalistas olímpicos. Isso é importantíssimo. Eu coloco sempre para a direção: apesar de não termos uma equipe de sênior A, a manutenção dos dois é importantíssima. Nós temos é que promover mais a vinda dos dois, fazer com que fiquem mais tempo conosco. Isso é importantíssimo, porque eles vão passar experiência aos garotos novos, que terão um norte a seguir.
Fonte: Blog CRVG Em Todos os Esportes - Supervasco