Motivo de polêmica em 2013, a preferência do amazonense por times de outras regiões do País é comum até dentro dos clubes do Estado. Os dirigentes admitem torcer ou já ter torcido por Vasco-RJ, Flamengo-RJ, entre outras tradicionais agremiações brasileiras. A maioria dos cartolas defende a liberdade de escolha e reconhece o compromisso de resgatar a torcida dos clubes locais.
Em agosto deste ano, o Nacional recebeu o Vasco, no Estádio Roberto Simonsen, em Manaus, pelas oitavas de final da Copa do Brasil. Durante a venda de ingressos, na semana que antecedeu a partida, os vascaínos foram maioria, assim como no estádio, no dia do confronto, o que incomodou os nacionalinos e intensificou o debate sobre o pouco prestígio dos times amazonenses.
Apesar de exigirem mentalidade mais ‘bairrista’ no futebol local, a maioria dos torcedores desconhece a preferência dos dirigentes dos clubes pelos quais torcem por times do Rio de Janeiro e de São Paulo. É o caso do diretor de futebol do Princesa do Solimões, Raphael Maddy, que é torcedor do Vasco, embora garanta foco total no atual campeão amazonense e dono da maior média de público no último Estadual (1.680 pagantes por jogo).
“Quando vejo um jogador beijar a camisa de um clube, depois se apresentar no outro e fazer o mesmo gesto, perco a identidade com essas equipes. Passei a torcer pelo time da minha cidade, que é o Princesa”, defendeu Maddy. “Eu não criticarei o amazonense que torce por um time de fora devido à baixa que o Estadual profissional teve durante os últimos sete anos”, disse.
O atual vice-presidente do Nacional, Manuel do Carmo Chaves, o Maneca, um dos dirigentes mais identificados com o clube amazonense, já torceu por um time carioca. “Depois que passei a ser dirigente, não torci mais para nenhum outro time além do Nacional. Mas quando eu morei no Rio de Janeiro, por um ano, em 1963, torcia pelo Flamengo, na época de Dida, Henrique, Gilberto e Marcial”, lembrou.
Embora também seja um dos principais defensores do futebol local, Maneca diz que respeita a escolha de todos. “É a democracia. Cada um tem o direito de escolher o time que quer torcer. Futebol não é guerra e adversário não é inimigo. Hoje, tem torcedor que radicaliza”, reclamou o nacionalino, que já foi atleta e presidente do Leão da Vila Municipal.
Em 2012, outro Leão, o de Itacoatiara (a 176 quilômetros a leste de Manaus), divulgou um vídeo em que um morador da cidade se despia de uma camisa do Flamengo, clube pelo qual torcia, e por baixo dela mostrava o uniforme do Penarol. O objetivo da publicação era atrair torcedores.
A atual presidente do Penarol, Patrícia Serudo, também reconhece a necessidade de atrair público aos estádios amazonenses. “Acho natural escolher torcer por time de fora do Amazonas, isso já está impregnado na nossa cultura. É preciso respeitar os chamados ‘mistos’. Nossa função é fazer com que o torcedor se apaixone, não obrigá-lo a torcer pelo Penarol”, avaliou Serudo, que embora não se sinta à vontade para revelar o time do coração, torce pelo Vasco.
Já o presidente do Sul América, Luiz Costa, condena a preferência por times de outros Estados. “Em Fortaleza (CE), todo mundo torce pelos times de lá. Eles são mais bairristas”, exemplificou Costa, que reconhece ser botafoguense. “Mas se ele (Botafogo) vier aqui, jogar contra o Nacional, por exemplo, eu sou mil vezes Nacional. Temos que torcer pelo nosso futebol”, pregou.
Torcedores opinam
Apaixonado pelo Nacional, com direito a toque de celular com o hino do clube, o supervisor de produções, Roberto Carlos, 59, diz que nunca torceu por nenhum outro clube além do Leão da Vila e condena os chamados ‘mistos’.
“Torcer por time de fora do Estado atrapalha porque incentiva as crianças, os próprios filhos e vizinhos a torcerem também. Temos que torcer pelo clube da nossa terra, como o Nacional, que aqui é uma grande equipe, amada, principalmente por mim”, exaltou Roberto.
Membro da torcida organizada Furacão Azul, do São Raimundo, o comerciante Eyler Nogueira, 33, entende a preferência dos amazonenses e aposta na união de torcidas para resgatar a identidade do futebol local. “Não tem como competir com a torcida dos times de fora, então tentamos unir, fazer parcerias para que eles conheçam nosso futebol e esqueçam um pouco a televisão. Eles não têm culpa, porque o futebol amazonense ficou parado muito tempo, então nosso papel é resgatar”, avaliou.
Preferência dos dirigentes
Dirigente
Raphael Maddy, do Princesa do Solimões - Vasco
Patrícia Serudo, do Penarol - Vasco
Maneca, do Nacional - Flamengo*
Thales Verçosa, do Rio Negro - Flamengo*
Josildo Oliveira, do São Raimundo - Flamengo
Ednaílson Rozenha, do Fast - São Cristóvão-RJ*
Luiz Costa, do Sul América - Botafogo
Paulo Radin, do Holanda- São Paulo
*Disse que só torceu quando criança
Fonte: D24am