Relembre histórias de estrangeiros que passaram pelo Vasco

Sábado, 28/12/2013 - 09:58
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Argentinos, uruguaios, portugueses, nigeriano, norte-americano... A lista é longa e torna-se até difícil lembrar de alguns nomes e das histórias pitorescas. Mas a verdade é que São Januário foi um celeiro de jogadores estrangeiros desde a profissionalização do futebol no Brasil, em 1934. Lá se vão 80 anos desde que o goleiro Roque Calocero, o meio-campista Salvador D´Alessandro e os atacantes Hugo Lamana e Valentin Navamuel (todos argentinos) foram contratados pelo Vasco. Na próxima temporada, o clube reafirma uma filosofia esquecida por tanto tempo e que já vinha sendo revitalizada, mesmo que timidamente. Assim como 2013, serão ao menos quatro estrangeiros no elenco, algo que não ocorria há 71 anos. E ainda há espaço para mais gringos.

Foi questão de duas semanas entre a confirmação de que o peruano Yotún e o equatoriano Tenorio não renovariam e o acerto com o uruguaio Martín Silva e o paraguaio Eduardo Aranda. Assim, como o argentino Guiñazu e o colombiano Montoya devem continuar sob contrato, o espanhol permanece como o segundo idioma do dia a dia. Note que, curiosamente, os seis citados representam seis países distintos da América do Sul, como prova de que o mercado é variado.



A diretoria, no entanto, evita dar relevância ao fato e o trata como uma oportunidade financeira, somada à carência de um time que sofrerá reformulação por ter caído para a Série B mais uma vez. Este ano já havia ficado claro que o clube passou a dar ouvidos a indicações e olheiros, responsáveis por "descobrir" Yotún e Montoya, então com mínimo destaque internacional.

- Foram oportunidades que apareceram. O goleiro é de alto nível. Tomara que faça o mesmo percurso de glórias que o Andrada fez. Todos viram na Libertadores o que ele pode fazer. E precisávamos agir nessa posição. No Brasil, as boas opções eram caras. O paraguaio também é um bom jogador, aguerrido e se enquadrou no perfil salarial. Teremos quatro no grupo de novo, mas não acho que representa uma mudança - explicou o vice de futebol, Ercolino de Luca.

'Platinismo' e guinada de Cyro Aranha

A ligação com o exterior surgiu na época em que o futebol carioca acirrou a rivalidade e resolveu atravessar as fronteiras para investir em jogadores notoriamente mais qualificados que a maioria dos brasileiros. O Uruguai era a Celeste Olímpica, bi dos Jogos e campeão mundial em 1930, enquanto a Argentina batia na trave nas competições e produzia craques sem parar. Este movimento foi batizado de "platinismo" - que significa a admiração ao que é argentino. No título de 1939, por exemplo, foram sete gringos, entre os quais estava Bernardo Gandulla, que gerou o apelido dos apanhadores de bola por se prontificar a buscá-la sempre que ela saída de campo.

A intervenção de um dos presidentes mais admirados do Cruz-Maltino foi determinante para mexer com o cenário, que nunca mais voltaria a ser o mesmo. Cyro Aranha, cujo nome e frases emblemáticas estampam muros do estádio até hoje, estabeleceu que o Vasco daria um jeito de encontrar revelações por perto e garimpou ídolos como o pernambucano Ademir Menezes.

- Quando os jogadores que vinham da Argentina já não eram mais de primeira linha, porque a Europa começou a entrar com força, o Cyro Aranha, vendo que o Vasco não ganhava desde 1936, formou a base com outra filosofia. Não vamos importar tanto e vamos abrir os olhos para o Nordeste e para o Sul. Foi assim que o Ademir, após uma excursão com o Sport, foi contratado e virou um dos maiores ídolos da história - lembra o vice de relações especializadas, João Ernesto.

Andrada lidera o Vasco multicampeão no início dos anos 70. Dinamite é o penúltimo agachado



De lá para cá, na contramão de rivais como Flamengo e, principalmente, os gaúchos Grêmio e Inter, o Vasco foi um dos brasileiros que menos se aventuraram com estrangeiros. E, quando o fez, viveu mais baixos do que altos. Foram os casos de Erreia, goleiro que brilhou no Boca Juniors e no Estudiantes e praticamente não atuou em 1971; dos portugueses Perez, Lito e Dominguez, reservas que não deixaram saudade na torcida; de Cobi Jones, Avalos e Maximo Tenório, que passaram incógnitos nos anos 90. A década de 80 é uma exceção, quando Daniel González, vice brasileiro em 1984, e Quiñonez, campeão nacional em 1989, foram os xerifes da zaga. Além deles, brilharam em diferentes épocas o zagueiro Rafagnelli, o goleiro Andrada e os meias Petkovic e Conca.

Recentemente, a relação coleciona mais fiascos, como o sérvio Tadic, amigo de Petkovic, os chilenos Frank Lobos e Salinas, em 2006, Villanueva, Pinilla e Abubakar, juntos em 2008, os paraguaios Benítez e Vera na Série B de 2009 e os argentinos Palermo, Chaparro e Abelairas. Entre os treinadores, foram oito nomes. Os mais famosos e de destaque são o uruguaio Ramón Platero (bicampeão carioca em 1923 e 1924), o inglês Henry Walfare e o argentino Filpo Nuñez.

Regra possibilita mais gringos

Em novembro, a CBF estabeleceu uma mudança na regra sobre escalação de estrangeiros, que pulou de três para cinco. Clubes como o Inter se beneficiam, já que em 2013 a direção liberou Dátolo e pouco usou Bolatti no segundo semestre porque Forlán, Scocco e D´Alessandro eram preferidos. O empresário Régis Marques, que participa de negociações no mercado sul-americano, já ofereceu Maxi Biancucchi, ex-Flamengo e Vitória, após colocar Martín Silva e Aranda.

O Vasco também não descarta manter-se atento ao exterior para compor o esfacelado grupo do rebaixamento, que deve perder entre 11 e 14 jogadores. Bons valores nos mercados emergentes, como Colômbia, Equador e Paraguai, seguem em avaliação pela diretoria, que se aproveita do maior poder aquisitivo e da vitrine para a Europa que é o futebol brasileiro.

Confira a lista de estrangeiros que jogaram no Vasco desde 1960:

2014 - Martín Silva, Guiñazu, Aranda e Montoya
2013 - Yotún, Guiñazu, Montoya e Tenorio
2012 - Chaparro, Abelairas e Tenorio
2011 - Chaparro e Irrazábal
2010 - Matías Palermo e Irrazábal (não juntos)
2009 - Benítez e Pedro Vera
2008 - Villanueva, Pinilla e Abubakar (não juntos)
2007 - Dudar, Conca e Martín García
2006 - Dudar, Lobos e Salinas (os dois últimos não jogaram)
2005 - Dominguez e Vergara
2004 - Tadic e Petkovic
2003 - Petkovic
2002 - Petkovic
Década de 90: Cobi Jones (EUA) e Maximo Tenorio (COL), Ávalos (PAR). O último não jogou.
Década de 80: Daniel González (URU) e Quiñonez (EQU).
Década de 70: Andrada (ARG), Peres (POR), Lito (POR) e Washington Oliveira (URU)
Década de 60: Danilo Meneses (URU), Nestor Errea (ARG)

Pinilla causou boa impressão nos poucos jogos que fez, mas o rebaixamento o tirou do clube


Fonte: GloboEsporte.com