Vasco já vinha enfrentando problemas com a Nissan desde o início da parceria

Quarta-feira, 18/12/2013 - 18:50
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Não foram nem seis meses de relação. Mas o vínculo, encerrado oficialmente na segunda-feira entre Vasco e Nissan - por parte da montadora, foi cheio de rusgas e constrangimentos no curto período. Nesta quarta-feira, depois de dois dias de silêncio e ainda amargando as dores do rebaixamento para a Segunda Divisão, o clube se manifestou pela primeira vez sobre o assunto. Em nota oficial, a diretoria vascaína diz que num "primeiro momento, buscará entendimento junto a Nissan em relação a comunicação de rompimento unilateral". Isto é: o clube vai notificar a montadora japonesa a cumprir o contrato, mantendo a parceria por quatro anos e pagando os R$ 21 milhões previstos até o fim do vínculo.

Porém, mais do que a briga em Joinville - não custa lembrar que pouco mais de um mês após assinatura entre Nissan e Vasco, o estádio Mané Garrincha também viu cenas lamentáveis e troca de agressões entre vascaínos e corintianos -, o início da parceria apontava para um constrangimento que a multinacional japonesa preferia ter evitado.

- A verdade é que a Nissan nunca quis patrocinador o Vasco. Eles tiveram que engolir esse patrocínio goela abaixo - diz uma fonte dos bastidores de São Januário.

O grande artífice do patrocínio da Nissan ao Vasco foi o governador - vascaíno - Sérgio Cabral. A aproximação começou a ser costurada no fim de 2012 e o acordo praticamente finalizado durante o carnaval de 2013. À época, Cabral recebia a montadora que abriria uma nova fábrica no estado do Rio. Ele ainda não havia passado pelo protestos de junho que fizeram sua imagem pública, sua aprovação e sua influência política caírem bruscamente este ano.

De início, a Nissan iria ocupar a parte de frente da camisa. O repasse financeiro, porém, não satisfazia o Vasco. O clube queria cerca de R$ 20 milhões pela parte mais nobre do uniforme, enquanto a montadora acenava com bem menos. Acabaram fechando em R$ 7 milhões anuais por quatro anos de contrato. A Caixa Econômica Federal, com um contrato de R$ 15 milhões por um ano, virou a patrocinadora do peito do uniforme.

Outro problema também apareceu no meio do caminho. No texto de divulgação da parceria, a Nissan, em 19 de julho, dizia que "a logomarca da empresa aparecerá estampada nas costas das camisas e no short de todos os uniformes oficiais de jogo, treino e viagem, assim como no site oficial, redes sociais e na sinalização das três sedes do clube (São Januário, Lagoa e Calabouço)." Um problema de abastecimento da Penalty, patrocinadora esportiva, impediu que outros uniformes fossem contemplados com a marca da montadora. A Nissan, na notificação oficial de rescisão unilateral com o Vasco, cita essa questão, que também estava prevista em contrato. Procurado pelo GloboEsporte.com, o Vasco reconhece o problema, mas não vê a falta de material como motivo para quebra de contrato.

- Essas supostas irregularidades que a Nissan disse no comunicado, de todo modo, eles teriam que notificar o clube antes de tomar uma decisão dessas. Essa questão do material dependia da Penalty, mas já estava sendo resolvido. Se eles tivessem nos notificado, como está previsto no contrato, o clube mostraria que as providências estava sendo tomadas e que tudo seria logo resolvido - diz o advogado do Vasco, Marcello Macedo.

Os últimos arranhões da relação antes da gota d´água - a briga em Joinville - aconteceram quando o diretor de marketing da empresa Murilo Moreno, em palestra no Rio, disse que "seria melhor ainda" se o Vasco caísse para a Segundona, pois o retorno de mídia seria favorável para a empresa japonesa. A Nissan, em nota oficial, tentou consertar as declarações do funcionário e disse que o patrocínio ao Vasco "não era oportunista ou de curto prazo", reforçando o compromisso da empresa com o clube, não só com o futebol, mas com o remo, futebol feminino e o futsal, e as modalidades olímpicas - a multinacional patrocina os Jogos 2016 do Rio.

Consultada pelo GloboEsporte.com a respeito da matéria, a Nissan não quis se pronunciar. "A Nissan do Brasil não irá se manifestar mais sobre o patrocínio ao Vasco da Gama", disse a empresa, por e-mail. Confira abaixo a nota oficial do Vasco sobre o rompimento unilateral da Nissan com o clube carioca.

"O Club de Regatas Vasco da Gama foi informado na última segunda feira, dia 16 de dezembro, da decisão pelo rompimento unilateral do contrato de patrocínio por parte da Nissan.

O Vasco da Gama é um dos poucos clubes centenários do Brasil que desde o inicio de sua historia tem seus valores morais intocáveis, sempre lutando pela igualdade social, racial e servindo de instrumento para a interação entre as mais diferentes culturas, que unidas, literalmente, ergueram este gigante.

A violência vista em Joinville indignou a coletividade vascaína e a todos os cidadãos de bem ao redor do mundo, posicionar-se contra a violência nos estádios não é privilegio da Nissan. O Club de Regatas Vasco da Gama colocou-se a disposição da justiça e manifestou publicamente o interesse na punição dos envolvidos por meio de declaração de seu presidente Roberto Dinamite.

A violência em nada tem a ver com a história do Vasco da Gama, os torcedores envolvidos no episódio de Joinville não representam os mais de 15 milhões de vascaínos espalhados por todo o país e sendo assim, seguiremos nossa trajetória de luta social e apoio ao Esporte. Neste primeiro momento, buscaremos um entendimento junto a Nissan em relação a comunicação de rompimento unilateral."

Fonte: GloboEsporte.com