Um rosto virou símbolo da violência no futebol no Brasil. Joinville, no último domingo (8), rodada final do Campeonato Brasileiro. A arquibancada se transformou num campo de batalha entre torcidas organizadas do Atlético Paranaense e do Vasco.
O atleticano Willian, de 20 anos, foi um dos feridos mais graves. Ele teve traumatismo craniano. Ficou cinco dias internado.
Nesta sexta-feira (13), Willian recebeu dos médicos a informação que está bem, que já vai poder voltar pra casa. Mas antes de sair do hospital, ele recebeu a equipe do Fantástico para uma entrevista exclusiva.
Fantástico: Willian, o que você lembra daquele episódio todo de pancadaria?
Willian: Eu e meus amigos entramos no estádio e a parte onde a gente estava, em linha reta, estava praticamente lotada, então a gente foi pra lá perto da divisa porque era melhor para assistir ao jogo e tinha menos pessoas.
Uma parte da arquibancada separava as torcidas rivais.
Willian: Logo no começo do jogo, o Atlético fez o gol, a gente comemorou ali e eu olhei para a torcida do Vasco, a torcida do Vasco começou a invadir.
A briga começa num pedaço da arquibancada que estava vazio.
Willian: E no calor do momento ali e essas coisas, é todo mundo empurrando falando: vai, vai, vai... Eu acabei indo também e daí no momento ali não lembro de muita coisa.
Willian é o jovem de bermuda vermelha e camisa de uma torcida organizada chamada Os Fanáticos. Ele estava na linha de frente.
Fantástico: Você faz parte de alguma torcida organizada ou não?
Willian: Não, não faço parte da torcida organizada, não sou sócio. Eu frequento os jogos, eu fico ali onde a torcida fica, mas mais por causa da festa que a torcida faz mesmo, do apoio ao time mesmo.
Fantástico: Mas no dia do jogo você estava usando uma camiseta...
Willian: Isso.
Fantástico: Da torcida?
Willian: Estava.
Fantástico: Mas você não estava lá com a torcida, você não faz parte da torcida?
Willian: Não faço parte da torcida. Tanto que eu fui ao jogo com os meus amigos, eu não fui com a torcida organizada.
Fantástico: Você chegou a bater em alguém?
Willian: Não, de eu chegar aí e bater assim. Eu não lembro assim, mas eu acho que não mesmo.
Fantástico: Você chegou a entrar em confronto com alguém, mesmo pra se defender antes de cair no chão?
Willian: Antes de cair no chão, eu acho que mais na hora que as duas torcidas se encontraram ali mesmo a gente ficou de frente assim, mas de trocar socos assim, não.
Não é o que mostram as imagens. Em um momento, Willian aparece chutando um vascaíno. Depois, Willian dá um chute no rosto de um torcedor rival. Em seguida, é cercado, empurrado, cai na arquibancada e começa a apanhar de um grupo de vascaínos.
Willian: Eu não lembro se me derrubaram, se me chutaram, se eu tropecei, eu não lembro como é que eu caí. Eu só lembro que no momento em que eu caí já começaram a me chutar, chute, chute e eu só protegi o rosto e a cabeça e deixei me bater. Falei: ‘meu Deus do céu, me tira daqui que eu vou morrer’. E a torcida do Vasco falou: mata, mata, mata... Naquele momento eu achei que eu ia morrer mesmo.
Outro torcedor do Atlético Paranaense foi espancado perto do local onde Willian estava. Ele recebeu diversos chutes na cabeça. Além de Willian, outras três pessoas foram hospitalizadas. Todas já receberam alta.
Fantástico: Você tinha se envolvido em alguma coisa parecida ou não?
Willian: Não, nem perto. Tipo: a gente ficava aí, eu já tinha visto briga entre a torcida do Atlético, mesmo, dentro do estádio assim, mas não de participar assim de ver mesmo.
Fantástico: Você tinha ficado sabendo de alguma possível combinação de briga entre as torcidas ou não?
Willian: Não, uma combinação, não. A gente sabia que tinha risco, pelo fato das duas torcidas não se darem bem, de os dois times estarem em situações opostas no campeonato.
O Atlético jogava por uma vaga na Libertadores. O Vasco, para fugir do rebaixamento. O Atlético ganhou de 5x1.
Willian: Tem gente que vai só pra brigar, infelizmente tem.
A polícia identificou 40 torcedores envolvidos. Três deles – vascaínos - estão presos na Penitenciária de Joinville. Eles devem responder por tentativa de homicídio, associação para o crime e danos ao patrimônio. Um deles também foi indiciado por furto, porque foi flagrado levando o tênis de um torcedor desmaiado.
Segundo o delegado de Joinville, a polícia irá ouvir todos os envolvidos na briga.
“Inclusive aqueles torcedores que inicialmente foram hospitalizados também são alvos de investigação para saber se eles tiveram participação ativa em toda aquela selvageria”, diz Dirceu Silveira Júnior.
Willian culpa a falta de policiamento pela tragédia em Santa Catarina: “Querendo ou não, as pessoas respeitam a polícia. Eu acho pelo fato da farda, de eles estarem armados ali, terem o poder de fogo ali. Eu acho que a torcida não teria invadido ali”.
No dia do jogo, era uma empresa contratada pelo Atlético que fazia a segurança dentro do estádio. A polícia só entrou no local depois um minuto e quarenta e cinco segundos de confusão.
Os dois clubes foram penalizados. Na sexta-feira, O Superior Tribunal de Justiça Desportiva decidiu que o Atlético deverá pagar multa de R$ 140 mil, e o time terá que disputar 12 partidas fora de casa, metade delas com portões fechados.
A multa do Vasco será de R$ 80 mil. E a equipe perderá oito mandos de campo, metade deles sem torcida.
Os clubes irão recorrer da decisão. A torcida Os Fanáticos, do Atlético, ficará seis meses proibida de entrar em estádios. Lugar de onde Willian quer ficar longe por algum tempo.
“Agora é me preparar um pouco mais psicologicamente para as críticas que vêm lá de fora”, diz.
(Clique aqui para assistir à reportagem)
Fonte: Site do programa Fantástico - G1
